Luiza Helena Trajano não é mulher de meias palavras. E foi com essa sinceridade, somada à altura da sua posição no cenário varejista nacional, que a presidente do Magazine Luiza arrancou risos e palmas da plateia no encontro do Grupo de Líderes Empresariais (Lide), em Florianópolis, nesta terça-feira.

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Durante a palestra de uma hora, Luiza exibiu um vídeo que resume sua fórmula de sucesso: foco na classe C e no crescimento, sem chorumelas. O filme mostrava uma série de encontros motivacionais com vendedores, embalados por paródias de músicas populares , que vislumbravam o próximo crescimento anual no faturamento. O vídeo começou com a meta de meio milhão de reais em um ano e só terminou com a música motivacional para 2013: “agora são R$ 10 bilhões, quem sabe até mais, vamos faturar!”

A executiva deixou clara a importância que as pessoas e o atendimento ao cliente têm na sua empresa. Tanto, que a única parte operacional comandada por Luiza hoje na rede é o Serviço de Atendimento ao Cliente (SAC).

– Recebo cerca de 50 emails por semana dos clientes. Geralmente me salvam, dizem que me admiram como empreendedora, mas também que “você me chamou para ser feliz, mas sua loja está me fazendo muito infeliz!” E isso é bom. Porque na empresa acabam falando só o que você quer ouvir. E quando eu tenho uma linha direta com os clientes, fico sabendo de tudo o que se passa na empresa – contou.

Luiza ainda provou por A mais B que seu otimismo está calcado na realidade do Brasil. A começar pelo incremento nas vendas da empresa no último trimestre: de R$ 800 mil em 2013 para R$ 20,5 milhões em 2014, um dos maiores da história.

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Confira abaixo os temas de destaque abordados pela empresária no encontro do Lide em Florianópolis.

Vendas em ano de Copa e um prédio como prêmio

O nosso concorrente, vocês sabem de quem eu estou falando, as Casas Bahia, tinha propaganda no intervalo do Jornal Nacional. A gente via e não falava mal, falava “que maravilha!”, mas não tinha dinheiro para fazer o mesmo. Aí a gente fez uma parceria com o Faustão, que pareceu até dono da empresa, maravilhoso. A gente nunca sonhou em patrocinar a Copa do Mundo, até porque não é fácil, depende da autorização da Fifa. Em agosto do ano passado, ofereceram a oportunidade de patrocínio para a gente, e meu filho deve ter passado uma semana sem dormir, porque não é barato. Mas e como a gente ia fazer (para pagar)? Nós já tínhamos dado casa, caminhão… O povo adora prêmio.

Aí chegaram com a ideia desse prédio aí. Fiquei impressionada. Hoje eu fui dar uma palestra no Santander, só para executivos de alto nível e chegou uma mulher com um pacote de cupons. A promoção fez mais efeito que 50 casas que nós já demos. Foi uma sacada de marketing que deu certo e realmente nós tivemos um crescimento muito melhor que o varejo neste trimestre. Na Copa, vamos ter 30 dias difíceis de venda. Porque tudo vai parar depois do dia 10. Eu estou dando umas cinco palestras por dia agora, mas depois vou tirar um mês de férias. Do dia 15 de junho a 15 de julho vamos ter que trabalhar bastante.

Mão de obra e otimismo

A Espanha não tem emprego para jovens de 20 a 25 anos. Eles estão desempregados. Mas não é assim mais ou menos: 85% dos jovens que saem das faculdades não têm emprego. No Brasil, nós estamos vivendo uma era de pleno emprego. Há 10 anos, a gente inaugurou uma loja na cidade de Rio Preto, no interior de São Paulo. Uma loja grande, e naquela época eu ainda ia muito aos processos de seleção. E nessa época a gente teve 2 mil pessoas que ficaram semanas na fila. E quando a gente ia conversar, descobria que era o primeiro emprego delas. Agora, um mês atrás, a gente abriu a terceira loja no shopping Iguatemi de Rio Preto. Apareceram 100 pessoas na fila. Destas, 80% estavam empregadas e saíram do emprego para ir ao Magazine Luiza.

O que que gera uma economia em um país em desenvolvimento? Não é bolsa família. A bolsa família mata a primeira fome e eu não quero entrar em discussão sobre isso. O que gera o nosso movimento são três coisas em um país em desenvolvimento: crédito, emprego e renda. Em 2012, nós tínhamos cerca de 10 milhões de desempregados. Aí falam assim: mão de obra está difícil. Uai, mas eu não posso reclamar de uma coisa que vai gerar vendas para mim. O que que gera movimento para nós? É o emprego. A gente terminou o ano agora com 4 milhões e 900 desempregados. Isso não é otimismo, é realidade. Emprego dá dignidade às pessoas. O salário mínimo mais que triplicou, a renda da família dobrou. E o crédito? O crédito que era 24% do PIB, hoje é cerca de 50% do PIB.

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Demanda por consumo

O pessoal de classe simples quer geladeira frost free de aço inox. O pessoal não fazia geladeira de duas portas. Eu peguei e levei o povo da Whirlpool para lá (Paraisópolis). O que nós perdemos de venda de geladeira inox! Porque os empresários não conhecem, mas este é o nosso mercado. Você bota televisão 50 polegadas com um preço bom, vende. O pessoal quer. O brasileiro gosta de ter coisa bonita. Agora eu vou dar um número: no Brasil, só 54% da população tem máquina de lavar automática. No Nordeste, esse número cai para 27%. Só 8% tem televisão de tela plana. Ar-condicionado, cai para 1, 2%. Então não é que eu sou otimista. Eu estou mostrando dados da realidade do Brasil.

Tributos

Vou mostrar a quantidade de tributos que nós temos aceitado, sem lutar contra. No total, nós temos mais de 60 tributos no Brasil, entre vários tipos de impostos, contribuições e taxas. Em média, o Brasil cria 36 normas tributárias por dia. O principal tributo sobre o consumo, o ICMS, tem 26 tipos diferentes e no Brasil nós temos 27 normas de ICMS. Cada vez que se muda de Estado, é uma tristeza. Eu tenho horror de reclamar, eu gosto de ajudar. No governo anterior, eu fiquei três anos em um comitê para acertar a reforma tributária. Tinha representante de tudo quanto é lugar, de rico, de cego… Fizemos um planejamento para começar a funcionar em 2015. Não saiu da gaveta do Congresso. Porque, minha gente, se não tiver uma reforma política, esqueça. Não vai passar nenhuma reforma no Brasil. Pelo menos o varejo é unido no Brasil hoje. Acabamos de saber da presidente que a desoneração da folha de pagamento do varejo vai ser permanente. Ia acabar em 2014, mas a desoneração da folha agora é permanente. A gente acabou de brigar por isso. O varejo se uniu para valer. E a gente está com qualquer um (partido).

Consumo ou infraestrutura?

Esses dias eu estava em um evento com o Aécio chamado “Consumo ou Infraestrutura”. Eu falei “que negócio é esse?” Primeiro que o Brasil é um país que vive de consumo, porque o povo ainda não tem o que quer. Parece que o governo gastou muito dinheiro com o consumo. Não gastou nenhum. Quem financia crediário é o banco. São os bancos que estão ganhando um dinheirão. O governo simplesmente baixou o IPI quando ele estava exagerado. Mas ainda foi muito pouco.

Agora, infraestrutura é super necessária, nós estamos atrasados e não podemos deixar de pensar nisso de jeito nenhum. Mas não precisa tirar de um para botar no outro. Aí a gente fez reunião e o Aécio me disse “não, Luiza, eu não sou contra o consumo não”. E eu disse “e também você não pode ser, 57% das pessoas não tem máquina de lavar automática!” Eu quero ajudar a fazer reforma tributária para ajudar a infraestrutura a caminhar. Não tem como. Você tem um sistema logístico no Brasil que é um horror. O custo de logística é mais caro que o custo do produto quase. Não tem cabimento. Mas não gosto de falar uma coisa ou outra. Nós temos que lutar é para tirar o Custo Brasil. Nós não podemos ter um custo mais alto do que outros países.

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