Ela está grávida, acabou de chegar aos quatro meses. Tem nos olhos aquele brilho único de quem gera uma vida dentro de si. Não sei bem como é que a natureza funciona, nem que tipo de hormônio é responsável por esse brilho, mas ele está lá, em todos os olhos das mulheres grávidas.

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A Feira do Livro estava cheia. Aqueles pequerruchos, andando de mãozinhas dadas, de um lado para o outro, os olhinhos atentos ao que se passava ao redor e o medo pequenininho de se perder naquele espaço tão grande, sem pai, nem mãe. Alguns vestiam uniformes escolares; outros encarnavam princesas, reis, soldados. Não sei se estavam ali para alguma apresentação de teatro ou se a professora era das “minhas” e permitiu que eles fossem usando a roupa que quisessem. Afinal, feira do livro é para fruição, para deleite — e cada um que o faça da maneira que achar mais confortável.

Sentada em uma das cadeiras em frente ao palco principal, eu assistia à palestra de Cristino Wapichana. Riquíssima. As crianças chegaram como uma revoada de passarinhos, barulhando e se acomodando. A mulher grávida, que estava sentada à minha frente, precisou deixar seu assento por uns instantes, para verificar alguma coisa com um dos organizadores. Seu lugar foi rapidamente ocupado por um dos pequeninos.

Lá na frente, a mulher ocupou uma outra cadeira, ao lado de dois meninos. Um deles, sentado com as pernas cruzadas embaixo do corpo, parecia um indiozinho — ironia do destino. Virou-se ao amiguinho do lado e disse alguma coisa que, de onde eu estava, não era capaz de ouvir.

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A gravidinha olhou para ele com aqueles olhos de curiosidade, aqueles que a gente tem quando é criança e acaba perdendo conforme cresce e envelhece. Perguntou alguma coisa. O menino respondeu e os olhos dela voltaram a se encher de curiosidade. Fazia caras e bocas.

Essa autenticidade de ser criança volta a morar dentro das mulheres grávidas no exato momento em que se reconhecem mães. Estava ali, nas expressões da mulher que encarava, compenetrada, o menino com perninhas de índio. Quando nasce uma mãe, nasce um olhar — ou melhor, renasce aquele olhar de quem vê o mundo pela primeira vez e experimenta novas sensações a cada dia. Não é apenas o bebê que é gerado que cresce dentro da mãe: sua própria criança interior, abandonada em meio às questões da vida adulta — porque ser adulto traz tantas ¿questões¿ — volta a crescer dentro dela.