– No ano passado, o valor da empresa ficou enorme. Um dia, você acorda e pensa: Nossa, o que a gente faz com essas ações? É muito dinheiro. Não precisamos, não temos uma vida de luxos – conta o sócio-fundados do Nubank
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O relato é de David Vélez, de 40 anos, sobre as inquietações ao ingressar no rol de bilionários da nova economia. Em 8 de dezembro, o unicórnio fundado pelo colombiano em 2013 estreava na Bolsa de Nova York valendo US$ 41,5 bilhões. O IPO, venda pública de ações, fez do banco digital brasileiro o mais valioso da América Latina, à frente de gigantes como Itaú e Bradesco.
Segundo Vélez, parecia ambição absurda construir um banco do zero no Brasil, depois de brigar com o gerente de uma agência de uma instituição tradicional. David decidiu empreender e deixou uma carreira bem-sucedida de executivo.
– Estamos no oitavo para o nono ano da história do Nubank. O crescimento foi muito mais rápido do que imaginamos. Ninguém esperava chegar a quase 50 milhões de clientes – conta Vélez.
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Cinco meses antes do IPO, em 11 de agosto de 2021, ele e a mulher, a economista peruana Mariel Reyes, haviam aderido ao The Giving Pledge, encabeçado por Bill Gates e Warren Buffet. Tornando-se assim signatários de um pacto, já firmado por 231 bilionários de 28 países desde 2010, de destinar pelo menos metade de suas fortunas para causas sociais ao longo da vida.
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Mesmo compromisso público assumido em 2014 por Elie Horn, 77, fundador da Cyrela, e sua mulher, Susy, 66, que se comprometeram a doar 60% de um patrimônio avaliado em US$ 1,3 bilhão.
Susy e Elie Horn participam do Forum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais para falar sobre a decisão de doar 60% da fortuna para filantropia.
– É o teste que Deus está colocando pra gente. O que fazer com isso? As ações subiram 30 vezes da noite para o dia – afirma Horn, sobre o processo de abertura de capital em 2005, que elevou o valor da construtora e incorporadora em 480%, chegando a R$ 5,6 bilhões.
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– Depois de ler muitos livros de filantropos, chegamos à conclusão de que era uma responsabilidade e também oportunidade ser estratégico no uso desse dinheiro, e gastá-lo do melhor jeito nas próximas cinco décadas – explica Vélez.
Para enveredar por esse caminho, Vélez e a mulher estão criando uma plataforma filantrópica familiar, em fase de montagem de equipe e estratégia, com foco em criar oportunidades para crianças e jovens latino-americanos vulneráveis e desfavorecidos.
Ex-funcionária do Banco Mundial, Mariel é fundadora e CEO da {reprograma}, startup social sediada no Brasil que treina mulheres marginalizadas em programação e as apoia na inserção no mercado de tecnologia.
Já os Horn investem em causas como combate violência sexual contra crianças e adolescentes e fortalecimento da cultura de doação no Brasil, via Instituto Liberta e Movimento Bem Maior, iniciativas criadas após a adesão ao Giving Pledge.
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Além de terem em comum o fato de serem imigrantes que fizeram fortuna no Brasil, todos vêm de famílias com tradição na filantropia.
– Quando morreu, meu pai tinha pouco, mas doou 100% pra caridade. Foi o melhor mentor que tive na vida. Me ensinou o caminho a seguir – diz Elie, judeu nascido na Síria que chegou bebê a São Paulo.
Mariel conta que os avós eram missionários metodistas que trabalhavam com refugiados. Moraram no Vietnã, na Jamaica, em Cuba.
– Meus pais sempre deram importância à consciência social. Estamos no mundo para deixar uma marca e ajudar aqueles que não tiveram oportunidade – afirma a peruana. – Depois, conheci esse colombiano maravilhoso que compartilha esse valor de devolver – conclui.
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Criado na Costa Rica, para onde a família se mudou quando tinha 8 anos fugindo da violência na Colômbia no fim dos anos 1980, Vélez diz que a visão de responsabilidade social vem de berço.
– Esse sempre foi um valor muito grande, cultural. Cresci sentido que tinha responsabilidade com a comunidade, em fazer o bem e ter impacto na vida das pessoas – afirma.
– Quando fizemos o IPO, entrou tanto dinheiro que nem imaginava. A maior bênção foi que meus filhos apoiaram desde o início. Ver que eles estão indo pelo mesmo caminho é uma enorme alegria – contou David.
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– Chegamos à conclusão de que deixar muito dinheiro para os filhos é um estrago. O que nos traz felicidade e satisfação são situações em que tivemos de brigar e trabalhar duro para alcançar – diz Vélez.
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– Por mais dinheiro que se tenha, ninguém ainda achou a cura da morte. Todos temos um final e não se leva nada. Não vou conseguir gastar todo esse dinheiro, por mais criativo que seja, e bilionários são criativos – afirma.
– Antes talvez a definição de sucesso fosse estar na lista da ‘Forbes’. A ideia era ser o mais rico possível. Agora isso começa a mudar. Sucesso vai ser gerar muito valor para si mesmo e para a sociedade. Sou otimista – comenta.
*Por Eliane Trindade
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