Quatro pessoas foram indiciadas pela Polícia Civil no primeiro caso de suposta adoção ilegal em Santiago, em 2008. Entre elas, está uma obstetra que atua no Hospital de Caridade de Santiago. De acordo com o inquérito policial, a médica teria participação na adoção ilegal de um bebê, e, por isso, foi indiciada por omitir em documento público ou particular, declaração de que dele devia constar, ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa de que devia ser escrita, com o fim de prejudicar, e, ainda, por formação de quadrilha.
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Um dos depoimentos considerados chaves pela Polícia Civil de Santiago foi prestado pela irmã legítima da adotante, que mora em Alegrete, e é irmã de criação do companheiro da gestante (pai biológico), na época dos fatos. “Não sabe ao certo quantos meses de gestação a grávida estava quando começou a fazer o pré-natal com a doutora (indiciada). Declarante afirmou que viu a carteira de gestante, que estava com o nome da viúva… a médica havia dito que não tinha importância, porque a viúva iria criar a criança”, diz um trecho do depoimento.
Em outro momento, a irmã da viúva afirma que “ganhou o bebê e dentro do hospital mesmo passou para a viúva, não tendo nem dado mama para a criança”. Em entrevista ao Diário, a médica rebateu as acusações. Leia abaixo:
Diário de Santa Maria – A senhora cobrou para facilitar a entrada da gestante no HCS?
Médica – Nada disso é verdade. Não cobrei absolutamente nada de ninguém. Isso não acontece dentro do HCS. Existem normas aqui dentro que são obedecidas e, realmente, eu fui pega totalmente de surpresa por essa situação.
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Diário – A senhora foi a responsável pelo pré-natal da gestante?
Médica – Não fiz e não consta nos meus arquivos nem no meu computador que eu tenha feito o pré-natal dela. Se fosse minha paciente, quando ela chegou no hospital, eu mesmo teria feito sua internação. Não fui eu que a internei, assim como não fui eu que a tratei.
Diário – O que a senhora tem a dizer a respeito de seu indiciamento?
Médica – Imagina só como eu recebo essa informação. Fiquei extremamente surpresa. Nós não omitimos nenhum documento. Os nossos arquivos são abertos às pessoas que tiverem interesse neles e para polícia. No momento em que a polícia nos pedir um prontuário, vamos entregá-lo tranquilamente.
Diário – A senhora conhecia a pessoa que teria adotado a criança?
Médico – Sim. Tive contato com ela tempos antes desse fato, quando entrei em uma cirurgia plástica na qual ela foi submetida. Ela esteve algumas vezes no meu consultório, mas antes de acontecer esse fato.
Diário – Foi a senhora que orientou a grávida a entrar no hospital com a Carteira de Gestante já no nome da pessoa que iria adotar a criança?
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Médica – Isso é completamente fora do padrão. Quando internamos alguém, desde que não seja na urgência, a pessoa tem de apresentar documentos e nesses documentos existe a foto. Mesmo que haja um erro na carteira de gestante, de nome ou qualquer outro, o que vale é o que consta na carteira de identidade da mãe. É com isso que documentamos o parto. A Carteira de gestante é para acompanhamento do médico apenas.
Veja também: Suposto esquema de adoção em Santiago na mira do MP