Uma ação parecida com que a Federação Catarinense de Futebol (FCF), o Ministério Público (MP) e a Polícia Militar (PM) tomaram em Santa Catarina com a restrição a torcidas organizadas nos estádios foi proposta pelo Promotor de Justiça do Ministério Público de São Paulo, Roberto Senise Lisboa, em 2012. Ele entrou com um pedido para a extinção de seis organizadas do estado paulista: a Mancha Alviverde (Palmeiras), Gaviões da Fiel (Corinthians), Serponte, Jovem Amor Maior (Ponte Preta), Guerreiros da Tribo e Fúria Independente (Guarani). Na ocasião, a alegação era a mesma feita pelo MP de SC para a ação tomada na terça-feira, a reincidência em violência dessas torcidas. Para Lisboa, as ações tomadas em Santa Catarina são importantes, mas elas devem entrar em um conjunto de medidas. Ele recomenda até mesmo uma política criminal local para tratar o assunto.
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Diário Catarinense – A medida adotada em Santa Catarina consegue a eficácia no combate às ações violentas nos estádios de futebol?
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Roberto Senise Lisboa – Não existe uma medida que consiga evitar a criminalidade. O que precisa ser feito é um conjunto de medidas. A legislação impõe algumas delas às policias, ao Ministério Público e à organização das competições. Mas eu venho dizendo há muito tempo que essas medidas são defasadas. É imprescindível que no combate à criminalidade das torcidas organizadas exista um política criminal local, mas também uma que se integre e traga os membros para medidas de prevenção.
DC – Que ações concretas, imediatas, poderiam ser tomadas?
Lisboa – Uma medida não basta. Não basta perseguir as torcidas, suspendê-las de assistirem aos jogos. É preciso um conjunto de medidas que vá desgastando a prática da criminalidade. A prática de criminalidade no meio das multidões é algo que dificulta muitas vezes a identificação do responsável. Isso a gente pode verificar nas manifestações do ano passado pelo país. Tinham pessoas que se aproveitavam da multidão para ficarem dispersas e dificultar a identificação. A mesma coisa acontece nessas agremiações pela quantidade de torcedores, que atrapalha muito o nosso trabalho. O ponto é que todas as medidas têm que acontecer de forma planejada e conjunta, que desestimule a criminalidade, para que a pessoa que estiver no meio da multidão não ache que ela vai ser protegida por um anonimato.
DC – Os times deveriam ser responsabilizados?
Lisboa – Eu acho que deveria ser debatida uma eventual responsabilidade se eles fomentarem incentivos às torcidas.
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DC – Mas e se não houver um financiamento direto?
Lisboa – Não sem um fomento real. Não existe nada que impessa um torcedor do Figueirense de usar uma camiseta do Avaí em um jogo e praticar uma algazarra. Não dá para estabelecer relação entre organizada e clube só por ele estar com a camiseta do clube.
DC – Em 1983, a torcida organizada do Palmeiras, a Mancha Verde, recebeu uma sanção parecida em SP. Logo depois, ex-membros criaram a Mancha Alviverde. Uma restrição às torcidas simplesmente não propicia essa manobra?
Lisboa – Houve uma desestabilização temporária da torcida. Na prática ainda é a mesma. Mas houve um enfraquecimento. Nesse sentido, digo que as medidas têm que ser conjuntas. Não consigo banir a criminalidade simplesmente extinguindo uma organizada. Mas isso balança o movimento. E esse mecanismo, junto com medidas criminais, pode resultar em melhorias para a sociedade.
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