Foram oito dias de angústia e de buscas por informações. A esperança era grande, mas a incerteza machucava. O desaparecimento do jovem Ybyraá Spavieri Alvarez, de 18 anos, morador de Bom Retiro, na Serra Catarinense, movimentou as redes sociais até mesmo fora do Brasil, já que o seu pai é uruguaio. Uma quantidade enorme de pessoas compartilhou fotos e apelos da família do estudante de Engenharia Civil. Até que a melhor das notícias chegou justamente por meio de quem mais se esperava.

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Ybyraá sumiu na segunda-feira, dia 12, em Florianópolis, e reapareceu na manhã da última terça, dia 20, em Osasco, na Grande São Paulo, distante aproximadamente 700 quilômetros da capital catarinense. Ybyraá não tinha sido raptado ou sequer estava perdido, mas havia embarcado em uma aventura que deixou muita gente apavorada.

Sem pensar nas consequências e sem querer ser atrapalhado, ele não avisou ninguém, pegou uma bicicleta e pedalou até a casa da avó materna, na cidade paulista, onde ficará o tempo que achar necessário.

Ainda um tanto assustado com tamanha repercussão do seu ato, Ybyraá preferiu não se manifestar publicamente, mas o seu pai, o artesão Merwin Rubens Alvarez Lara, de 56 anos, contou boa parte da história à reportagem do Diário Catarinense. Ele garante apoiar a atitude do filho.

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– Não acho que foi loucura. Eu tenho orgulho dele por ser um guerreiro e ter ido atrás dos seus ideais.

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* DC: Como iniciou a aventura do seu filho?

* MERWIN: Ele passeou no fim de semana em Florianópolis e na segunda-feira pela manhã embarcou na bicicleta e iniciou a viagem. Muitos disseram que ele tinha sido visto pela última na vez à noite, na faculdade, em Lages, mas isso não é verdade. Aliás, muita gente disse que viu meu filho em vários lugares diferentes, então é importante que nestes casos a pessoa desaparecida seja parada para saber se realmente é ela.

* DC: O que o senhor pensava enquanto o seu filho não dava notícias?

* MERWIN: Eu viajei muito atrás dele e a todo momento sentia que estava vivo, mas a incerteza me levava a imaginar coisas horríveis. Eu temia encontrá-lo muito machucado, jogado num canto qualquer fumando crack ou até mesmo morto. É terrível para um pai não saber do filho ou ter de enterrar o corpo dele.

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* DC: A internet foi a principal ferramenta para divulgar o desaparecimento do seu filho?

* MERWIN: Sim. As redes sociais têm um poder muito grande. Me ligaram do Acre, da Argentina, do Uruguai. Meu filho reapareceu sozinho, mas agora eu compartilho todas as notícias de desaparecidos, pois sei que a internet pode ajudar.

* DC: Quando o seu filho entrou em contato e disse que estava bem?

* MERWIN: Foi na terça-feira de manhã, por volta das 9h. Ele ligou da casa da avó materna, em Osasco, e disse que estava bem. Aí tudo melhorou em nossas vidas.

* DC: Ele explicou o motivo de ter feito isso sem avisar a ninguém?

* MERWIN: Disseram que foi por causa de brigas na nossa família, mas não tem nada disso. Ele não avisou porque queria confirmar consigo mesmo que conseguiria fazer o que fez. Foi uma espécie de autoafirmação dele. Não foi a melhor maneira, porém, foi a única que ele encontrou, porque se tivesse me ligado de qualquer lugar, eu iria na hora buscá-lo de carro.

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* DC: Como ele se manteve durante a viagem?

* MERWIN: Ele comia e dormia em casas de famílias humildes. Como não levou roupas, sentia frio nas descidas dos morros. Mas ele está saudável e muito bem.

* DC: E o que o senhor acha da atitude do seu filho?

* MERWIN: Ele queria fazer e fez, e tem meu apoio. Não acho que foi loucura. Tenho orgulho do meu filho por ser um guerreiro e ter ido atrás dos seus ideais. Quando eu tinha 17 anos, saí de Montevidéu (Uruguai) e fui morar sozinho na Argentina. No Brasil, já morei em Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo e Rio de Janeiro. Em Santa Catarina estou desde 1989. Minha mulher e eu viajamos muito, e meu filho já nasceu com esse espírito de aventura.

* DC: Ele tem planos de novas aventuras ou previsão de quando volta para casa? E o senhor pretende ir a Osasco reencontrá-lo?

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* MERWIN: Não sei de novos planos, e se ele saiu querendo um tempo, vamos respeitar. A família toda o apoia, pois a ausência nos deixou mais unidos. Alguns amigos falaram que tinham vontade de fazer a mesma aventura.

* DC: Que lição o senhor tira desse episódio?

* MERWIN: Como pai, muitas vezes temos uma joia preciosa para dar aos filhos, mas ele querem apenas um parafuso. Aquilo que temos de melhor para dar não é o suficiente. Por mais valioso que seja, pode não servir a eles. É preciso escutar os jovens. Eles têm razão. A vida não anda para trás. Nós precisamos evoluir.

* DC: Que mensagem o senhor deixa aos pais?

* MERWIN: O diálogo é sempre o melhor caminho não apenas entre pais e filhos, mas entre todos nós. É essencial ouvir. Muitas brigas ocorrem porque as pessoas não querem escutar. É preciso se pôr no lugar do outro.

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* DC: E às pessoas que sofrem com o desaparecimento de algum parente ou amigo, o que o senhor tem a dizer?

* MERWIN: Minha mensagem é de esperança. Muitos estão cansados de procurar. Então digo que é tempo de esperar. Mas esperem com atitude e ocupação para não ficar só pensando. Deus é grande.