Felipão voltou sorrindo. Aquele técnico às vezes casmurro, às vezes belicoso, às vezes até grosseiro, aquele técnico parece que não existe mais. Pelo menos por enquanto. Desde que chegou a Londres, Felipão parece leve, o que tem tornado leve o ambiente a sua volta. No aeroporto, não se importou com a espera na alfândega. Brincou quando o preparador de goleiros Carlos Pracidelli foi retido pela polícia.
Continua depois da publicidade
– Tu vais ficar aí, Carlão – gritou, ao se despedir do auxiliar, que logo depois foi liberado.
Mais tarde, no Hotel Hilton de Wembley, onde está a delegação, Luiz Felipe fez questão de descer ao saguão e ficou cerca de duas horas conversando com os jornalistas brasileiros que estavam por lá. Ria, fazia piadas, não se incomodou com nenhuma pergunta.
Nessa terça, ao chegar à sala de conferências de Wembley para a coletiva pré-jogo, Luiz Felipe apresentou-se afônico, mas muito bem-humorado. No momento em que sua voz falhou pela primeira vez, olhou para Parreira e Murtosa, sentados num banquinho ao lado do palco, e fez o gesto clássico dos jogadores pedindo substituição.
– Parreira, vem! – chamou.
Continua depois da publicidade
Parreira, que até um minuto antes bocejava, sorriu e fez que não com o indicador. Essa serenidade, aparentemente, está contagiando os jogadores brasileiros.
– Ontem (segunda) fizemos nossa primeira reunião com o grupo e fiquei maravilhado com o ambiente – disse Felipão. – É muito raro os jogadores ficarem meia hora conversando depois das refeições, como eles ficaram. Isso é muito bom.
De fato, quando os jogadores saíram dessa reunião, realizada no terceiro andar do Hilton, saíram rindo, falando alto, fazendo brincadeiras uns com os outros.
– Eles confiam muito no Felipe – atestou o preparador físico Paulo Paixão. – Porque eles olham para ele e veem um vencedor, um homem que já ganhou Copa, que sabe o caminho da vitória.
Continua depois da publicidade
Foi mais ou menos o que Ronaldinho falou durante sua entrevista, na mesma sala de conferências de Wembley. Lembrou que já foi campeão do mundo com Felipão e que foi campeão da Copa das Confederações com Parreira.
– Eles sabem como vencer – observou.
Ramires foi mais longe. Contou que Felipão é seu ídolo e que sempre sonhou em jogar num time dirigido por ele. Quer dizer: pelo menos no clima, a Seleção já é outra, e o próprio Felipão reconhece que isso é fundamental.
– O time é mais ou menos o mesmo de antes, cerca de 70% desses jogadores já foram convocados. O que muda é a minha visão, a minha forma de agir – explicou.
Basta, agora, saber se a mudança se estenderá para dentro do gramado perfeito do histórico Wembley, na tarde desta quarta-feira, a partir das 17h30min, diante do English Team.
Continua depois da publicidade
NOTAS
Promessa de surpresa
Felipão não confirmou o time. Ao contrário, advertiu que a imprensa “pode se surpreender” com a escalação, embora tenha ressaltado que isso não significa nada mais do que a circunstância do jogo (ele quer ganhar da Inglaterra como se valesse taça). Mesmo assim, pelo treino no Hive Football Center, à tarde, dá para se ter ideia de quem começa jogando – o novato Dante estaria na zaga. Seis jogadores devem ser substituídos no segundo tempo.
Interesse mundial
A coletiva de Felipão estava tomada de jornalistas de boa parte do mundo – 25 câmeras de TV e repórteres do Brasil, obviamente, da Inglaterra, também obviamente, mas também de Portugal, da Espanha e até do Japão.
Frio portoalegrense
O fevereiro inglês é frio, claro que é. Mas não está insuportavelmente frio. Não faz temperatura de Velha Álbion e sim do pior inverno porto-alegrense: três, quatro, cinco graus, vento gelado e dia cinzento. Nada bonito para quem saiu do Patropi no verão.
Ora, pois
Durante sua entrevista, Felipão demonstrou várias vezes o apreço que nutre pelos portugueses. Quando começaram as perguntas, fez questão de responder a um repórter da pátria-mãe.
Continua depois da publicidade
– Pascoal – disse, a um jornalista brasileiro da Rádio Globo – deixa o outro perguntar, que ele é português.
Depois, citou Cristiano Ronaldo duas vezes: ao referir-se a ele como um dos melhores do mundo e ao lembrar que ele fazia aniversário nessa terça, junto com Neymar.
Espirituoso
Felipão estava tão bem-humorado que se permitiu tecer frases de efeito, o que não é do seu feitio. Uma delas, espirituosa, arrancou risos dos repórteres:
– Os últimos sempre serão os últimos.
Estilo Felipão.
Treino é jogo
Felipão e Paixão estão determinados a colocar na cabeça dos jogadores que as 13 partidas que faltam para a Seleção até a Copa não serão amistosos.
Continua depois da publicidade
– É jogo, é jogo! – enfatizou Paixão. – Temos que aproveitar ao máximo essas oportunidades – completou Luiz Felipe.
Marin
O presidente da CBF, José Maria Marin, assistiu à entrevista de Ronaldinho e Julio César muito concentrado, no mesmo banco em que estavam Parreira e Murtosa. Ao sair da sala de conferências, disse que, em sua gestão, está decidido a valorizar o futebol brasileiro:
– É o nosso produto, é o melhor do mundo.
Aniversário
Os 21 aninhos de idade de Neymar foram comemorados com bolo e o indefectível canto de Parabéns a você pelos jogadores, de manhã. À tarde, a torcida no campo de treino também cantou parabéns, de longe, atrás da tela de proteção.
Espectador
Julio César por pouco não ficou só assistindo à entrevista de Ronaldinho. Quando os repórteres estrangeiros perguntaram, só um se dirigiu a ele. Os brasileiros foram mais equânimes: três apresentaram questões ao goleiro do Brasil.
Continua depois da publicidade
Olha o que ele fez
Ronaldinho está completando nesta quarta-feira cem jogos com a Seleção Brasileira. Seu primeiro foi contra a Venezuela, em 1999, quando entrou no segundo tempo e marcou um golaço dando balãozinho no zagueiro dentro da área (“olha o que ele fez! olha o que ele fez!”, gritava Galvão Bueno).
Nessa terça, no entanto, ele se confundiu. Achou que seu primeiro jogo havia sido, justamente, contra a Inglaterra, quando tinha 15 anos de idade e atuava pelas categorias de base da Seleção.
Ronaldinho continua sendo um astro na Europa. Ao sair do treinamento, teve de ser cercado pelos seguranças devido ao assédio dos torcedores ingleses. E brasileiros também, é evidente.
Homenagens
O lateral-esquerdo Ashley Cole e o meia Steven Gerrard serão homenageados antes do amistoso por terem chegado a cem partidas com a camisa da seleção inglesa.
Continua depois da publicidade
Cole, confirmado como titular pelo técnico Roy Hodgson, disputará seu jogo de número 100 contra o Brasil de Luiz Felipe Scolari, que teve como técnico no Chelsea em 2008 e 2009.
Gerrard, capitão da equipe, alcançou esta marca no último amistoso, na derrota de 4 a 2 para a Suécia.
FICHA TÉCNICA
Inglaterra x Brasil – amistoso – 6 de fevereiro de 2013
Inglaterra: Hart; Johnson, Walker, Cahill e Cole; Wilshere, Gerrard, Walcott e Milner; Cleverley e Rooney. Técnico: Roy Hodgson.
Brasil: Julio César; Daniel Alves, David Luiz, Dante e Adriano; Paulinho, Ramires, Oscar e Ronaldinho; Neymar e Luís Fabiano. Técnico: Luiz Felipe Scolari.
Continua depois da publicidade
Arbitragem: Pedro Proença (Portugal)
Horário: 17h30min (de Brasília)
O jogo no ar: A RBS TV e o SporTV transmitem ao vivo. A Rádio Gaúcha abre a jornada às 17h. Acompanhe o minuto a minuto em zerohora.com/jogoaovivo