O Diário Catarinense entrevistou os seis candidatos à prefeitura de Joinville. Confira abaixo a entrevista com o candidato Rodrigo Bornholdt (PDT):
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Desde 2010 o senhor não concorria mais em eleições. Por que a volta política e o que traz como experiência?
Basicamente, três razões. Primeiro, a questão de Joinville estar apequenada, diminuída. Não via os representantes políticos da cidade. Respeito todos eles, mas não via nenhum deles encarnando uma representação política adequada para Joinville. E acho que Joinville está desacreditada, abandonada. E nós precisamos mudar isso, alterar isso. Não sozinho, mas tendo justamente o apoiado do eleitorado joinvilense, dos cidadãos para isso. Outra coisa foi que nesse pleito municipal eu não vi se apresentarem representantes em que a gente pudesse fazer algum tipo de aliança que valesse a pena. Então consideramos fundamental lançar candidatura própria, aceitei esse desafio. E a questão nacional no sentido, não de um lado ou de outro, mas justamente na interdição do debate político. A política que deve ser o espaço de diálogo, construção, busca de convergências. O diálogo ficou interditado em nível nacional, fiquei perplexo com isso. Pensei “qual a maneira de dar minha contribuição para que a gente não tenha um retorno à ditadura? Que não tenha um retrocesso institucional?”. Precisamos fortalecer a democracia. Sou uma pessoa que valoriza a democracia. Vou dar minha contribuição através disso tentando engrandecer a atividade política, por isso resolvi voltar também.
O que traz das últimas eleições? Conseguiu 5% dos votos, tinha uma expectativa maior?
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Eu tinha uma expectativa um pouco maior, não era tão maior na verdade. Não era tão maior porque eu estava numa situação muito difícil. Eu tinha a condição de vice-prefeito, não tinha o apoio do prefeito para a eleição. Então, não podia me apresentar como o candidato da situação. Também não podia me apresentar como oposição porque seria contraditório por eu ter estado os quatro anos, ainda que eu não concordasse com algumas medidas. Não conseguia, mesmo que eu quisesse, não conseguia me apresentar como candidato de oposição, ficaria incoerente frete ao eleitor. Aí me apresentei como candidato independente. Isso me embretava, me deixava muito restrito nas possibilidades de apresentação perante o eleitor. Então, claro que a gente esperava um resultado melhor, mas os 5% foi uma votação digna, não fiquei frustrado. E aí você tinha adversários que eram fortíssimos. Tinha o Carlito surfando na onda Lula, o Darci apoiado pelo Tebaldi, a imagem dos políticos não estava desgastada como agora. Ainda tinha o Kennedy, o Mariani. Você tinha ali várias… Tanto é que cheguei em quinto, atrás desses quatro. Aqui o quadro é completamente diferente. É uma eleição em que temos muito mais chances. Estou preparado para qualquer coisa. Importante é a gente cumprir nosso papel de cidadania, mas realmente acredito que a gente tem uma chance concreta de chegar ao segundo turno. Você tem muito voto aberto, muita gente que não formou voto, que não está interessada em política. O que não é também recente, mas o que é mais recente é o descrédito da política em si. Uma coisa é desinteresse, outra coisa é não acreditar. Essa situação de candidaturas de nomes batidos, o atual prefeito, dois ex-prefeitos…Outro é uma figura carimbada. A gente aposta muito nesse desgaste.
Como o senhor se posiciona hoje?
Como oposição, claro. Nós ajudamos a eleger o prefeito, demos o vice-prefeito. Depois o vice-prefeito acabou sendo expulso do partido. Já quis sair do partido pelo jornal, sem nos avisar, quando ele tinha todo o espaço dentro do partido. O prefeito mal conversou com a gente durante a gestão, achamos a gestão fraca e deliberamos já no ano passado por deixar o governo. Naturalmente, nossa postura é de oposição. Uma oposição que, obviamente, reconhece quando tem acertos. Não é de uma oposição ranhenta, raivinha. Mas uma oposição que reconhece os acertos, mas condena as inúmeras falhas da gestão e se apresenta claramente como oposição.
Em que espectro ideológico o senhor se posiciona?
Me posiciono num espectro da centro-esquerda. Uma esquerda moderada, de alguém que acredita na livre iniciativa, na economia de mercado. Mas ao mesmo tempo entende que o Estado tem um papel importante na construção e geração de bem-estar social. O PDT tem um vereador. Não há expectativa de que mude muito.
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Para onde o senhor vai mirar para ter governabilidade na Câmara?
A gente quer fazer pelo menos dois (vereadores). Primeiro que vai ter o segundo turno, a gente já aumenta o leque de alianças. Sempre tive facilidade de diálogo, não tenho preocupação alguma com relação a isso. Vamos construir, mas construir em alto nível, atendendo as demandas da sociedade. Sem fisiologismo, sem toma lá dá cá, privilegiando quadros técnicos onde forem necessários.
Como prefeito, o que o senhor pretende fazer para aumentar a sensação e a própria segurança?
A primeira coisa que eu vou fazer é reforçar o papel político do prefeito, de cobrar das instâncias competentes, no caso o governo do Estado, a atenção devida a Joinville. Esse é o principal papel do governo do Estado aqui. Ou seja, na questão de segurança o principal papel é do Estado e o governo está faltando muito com Joinville nesse aspecto. Agora vem o governador a 15 dias das eleições aqui, para fazer média com a cidade. Respeito o governador, tenho apreço por ele, mas essa não é uma postura adequada, não é uma política séria isso de vir a duas semanas, depois de seis meses de reclamação, falar o que vai fazer pela segurança. Espero que não seja uma cortina de fumaça para os joinvilenses. Nós vamos bater firme nisso, mas vamos também criar programas. Nas nossas linhas de governo, nem chamamos de plano de governo porque o plano de governo se assemelhou àquela lista de supermercado em Joinville – a última o Luiz Henrique cumpriu, mas os três últimos governos não cumpriram isso.
Em 2008 o senhor tinha um plano bem detalhado…
Tinha. A gente (agora) foi mais sucinto. Embora as duas principais ideias daquele programa permaneçam aqui. A ideia de transversalidade, integração entre as várias secretarias, e também a ideia de você ter a participação popular como determinante na gestão, favorecendo os conselhos, as conferências. Como a gente fez na Fundação Cultural. Essas duas ideias-força permanecem no atual quadro. O que a gente não quis fazer é, diante dessa situação financeira, das dificuldades da prefeitura, a gente apresentar um plano cheio de promessas que eventualmente não sejam cumpridas.
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Como funcionaria a Central de Penas Alternativas?
Na verdade, é uma atribuição do governo do Estado com o próprio Judiciário na fiscalização. Queremos agir aqui como, novamente, catalizadores e articuladores políticos para que isso seja implementado em Joinville. A pena alternativa é um avanço civilizatório. Os mais conservadores ou os mais esquentados pensam “não adianta, não está atrás das grades”, mas a pessoa que sofre condenação e tem de cumprir pena alternativa já perde o grau de primário, será reincidente numa próxima, está pagando uma punição. Já está sofrendo uma punição. Então, isto é um mecanismo que a gente considera importante. Ao mesmo tempo em que você consegue ressocializar o apenado, auxilia na diminuição da criminalidade. A outra é o gabinete de gestão integrada, que a gente quer montar. Prefeitura participando junto do Ministério Público, Judiciário, Polícia Militar, Polícia Civil. A prefeitura ajuda a articular, depende dos outros órgãos.
O que esse gabinete faria?
Gestão integrada. Todo mundo tendo os números… Eu previa naquela época e quero fazer também uma Secretaria de Segurança e Assistência Social. Em que a segurança esteja junto da assistência social. Porque a maior parte da criminalidade se dá na criminalidade juvenil, ligada ao tráfico de drogas, que são pessoas que podem ser reinseridas na sociedade.
Como se apresentar ao eleitor com tão pouco tempo de campanha e de TV?
Essa é nossa principal dificuldade. Para cada quatro ou cinco comerciais deles, temos um. Mas estamos muito confiantes do que estamos fazendo nas ruas. A gente tem essa facilidade na rua. Agora estou sendo reconhecido novamente. Feita a primeira semana desses dez dias de campanha na TV, a gente não considera que o efeito se transformou já em votos. Mas o efeito nítido que a gente já tem é o do reconhecimento, mesmo com pouco tempo. Agora vamos brigar para transformar isso em voto. Nós não temos, portanto, comparando com 2008, figuras… Embora algumas sejam as mesmas figuras, não são fortes como em 2008. E a minha posição é muito mais confortável do que à época.
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O que o senhor imagina que pode ser objeto de parceria público-privada em Joinville?
Uma área que o nome não é esse, mas é também, é a área de transporte coletivo. Já é um caso antigo, mas cito novamente porque acho que dá para mexer muita coisa no transporte coletivo, fazendo nova licitação, prevendo novos modais, prevendo formas de integração. Não deixa de ser uma parceria público-privada.
A licitação está judicializada. Como destravar esse processo?
Com política em alto sentido, no sentido de diálogo. E com uma boa atuação judicial também, para que a prefeitura tenha a melhor posição possível ali. Pegando a Procuradoria, se necessário especialistas para fazer ou uma composição ou uma briga judicial que permita à prefeitura fazer uma nova licitação do modo que a prefeitura considera adequado. Na nossa gestão seria prevendo novas… Gosto muito do metrô de superfície, mas é mais caro do que o ônibus elétrico. Então prevendo grandes eixos com ônibus elétrico e as integrações regionais, que são importantes também, inclusive multi-modais. Desde a bicicleta, até a pessoa que queira ir de carro ali até o ponto de ônibus. O ônibus regional. Não adianta ter só o ônibus elétrico ou o metrô de superfície e depois não ter as conexões. Então, isso implica um rearranjo total do transporte coletivo em Joinville mediante nova licitação. Outras áreas que a gente vê: o Moinho do Silício, fazer uma PPP. O prédio da prefeitura, que a gente queria fazer, levar o cinema para lá. Então, continuo com essa ideia, acho que é viável. Apesar de o país estar em crise, cedo ou tarde vai sair dessa crise e haverá espaço para essa indústria cultural. Talvez não exclusivamente para o cinema, com alguma outra atividade também. A própria Cidadela é um espaço a ser considerado para fazer uma PPP. Tem muitas áreas em que eu vejo a PPP como interessante.
Como resolver os problemas da saúde em Joinville?
O prefeito é o grande maestro da cidade, desta orquestra. Para que uma coise funcione, a outra tem que funcionar também. A gente pensa em várias medidas para aumentar a arrecadação. Eu acredito que a situação nacional também vai melhorar ao longo do tempo. E você tem, obviamente, medidas específicas ali. Uma que a gente pensa, embora seja de longo prazo, é a questão do São José. De transformarmos em um hospital-escola com a UFSC aqui. Com curso de medicina. Por isso falo que não pode ser só curso de engenharia, precisamos ter outras áreas aqui. E acho que Joinville é merecedora disso, até porque é um hospital que atende em toda a região. Aí você tem recursos para aplicar na saúde a partir da própria saúde. Aplicar em prevenção, por exemplo. Tem outras medidas que a gente vai estudar melhor. Tem a questão do prontuário único. Aí as propostas são até parecidas porque todos diagnosticam isso. Penso em valorizar os generalistas também. É mais fácil para o generalista deslocar o atendimento ao especialista. Mas, se ele tiver um estímulo… Claro que quero discutir isso com os médicos, não quero fazer de cima para baixo. Mas, se o generalista tem um estímulo financeiro, que seja, para resolver o caso aí – desde que o caso seja resolvido mesmo, vendo a condição do paciente depois – tem muitos casos, tenho informações de médicos que já trabalharam no serviço público, que muitos casos poderiam ser resolvidos já pelo generalista sem precisar encaminhar para a especialidade. Mas, se ele tiver um estímulo para estudar mais, ver o caso, resolver, você consegue de repente diminuir o acúmulo que acaba tendo nas especialidades. Em linhas gerais eu vejo assim a questão. Tem outras medidas, uso das tecnologias. Quase todo mundo tem celular hoje. Por que não marcar consulta via telefone? Essa coisas de ir ao posto. Tem coisa em Joinville… Posto às cinco da manhã, de madrugada. Por que não usar as tecnologias para marcar uma consulta? Tem coisa em Joinville que está no século 19 ainda. Tem área rural que não tem CEP, acredita?
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Acredita que herda a LOT aprovada, caso eleito?
Espero que não aprovem do jeito que está. Não sou favorável a essa LOT. Tem coisas absurdas, que ferem princípios básicos de direito, como questão de razoabilidade, de proporcionalidade. Para não falar no desequilíbrio que isso vai gerar para a cidade. Então, prefiro retirar o projeto, rediscutir o projeto se for possível. Melhor esperar mais seis meses do que aprovar uma coisa ruim para a cidade. Entrementes, você pode aprovar coisas independentes da LOT, leis esparsas, que já beneficiem, por exemplo, os proprietários de imóveis tombados que até hoje não têm o benefício de poder vender o direito de construir, a transferência do direito de construir. Eles perdem no imóvel tombado, mas poderiam levar para outra área. Isto não depende da aprovação da LOT, depende de uma lei, mas não precisa ser a LOT.
Enquanto presidente da Fundação Cultural, o senhor esteve com o projeto do inventário municipal. Pretende retomar a ideia?
Pretendo, com rapidez e compensando, permitindo que o proprietário… Primeiro para liberar as UIPs (Unidades de Interesse de Preservação), que até agora não liberaram, em oito anos. Decidir o que é UIP e o que não é. E depois, aquilo que for tombado, que ficar no inventário, que isso seja, que essas pessoas sejam devidamente compensadas.
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Em 2008, a pauta da mobilidade era baseada no eixão. Esse hoje é seu projeto também?
Ele está fundamentalmente ligado com essa questão do transporte coletivo, de uma readequação. Não dá para pensar em eixão sem pensar nisso também. E tem coisas do plano de 1973 que não foram cumpridas ainda. A Almirante Jaceguay, por exemplo. A gente não elencou nenhuma prioridade aí porque, no momento em que a gente entrar, a gente vai resgatar essas questões mais antigas que não foram cumpridas ainda e trabalhar nos vários projetos para termos os recursos para conseguir fazer isso.
Joinville desistiu de despoluir o rio Cachoeira?
Se depender do Rodrigo, não. Parece que desistiu. Você tem condições muito favoráveis à despoluição. Tem a maioria das indústrias já com tratamentos adequados. O saneamento sendo construído, que acho uma política de Estado. Acho que não é crédito de nenhum prefeito em específico. Já são três gestões fazendo saneamento. Na medida em que o saneamento vai sendo realizado fica mais fácil despoluir o rio. Você tem alguns gargalos, que são principalmente essas questões aqui do Centro, rio Mathias, alguns afluentes que desembocam ali. Isto precisa ser trabalhado, mas eu vejo grandes possibilidades, inclusive com tecnologia internacional, financiamentos internacionais. Eu trouxe duas vezes o KFW para conversar com dois prefeitos, infelizmente a coisa não andou. Vai ser um dos meus primeiros atos na gestão, provocar essa discussão.
Em algum momento o senhor apoiou essas três gestões. Não teme que o partido sempre fique tachado como o partido que participa de todos os governos?
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Não temo porque em todos eles… Na questão do Tebaldi foi um pouco diferente. Eu fui para o PDT em 2007 e a gente teve uma política de coexistência, tranquila dentro dos padrões estabelecidos pelo prefeito. Eu sabia que não teria o apoio dele em 2008. E os outros dois realmente foram duas decepções. Apoiamos os dois governos, não fomos ouvidos como deveríamos, não participamos efetivamente das gestões como deveríamos. E cansamos justamente de ser coadjuvantes, por isto que nesta estamos novamente pleiteando a prefeitura para sermos os atores principais, mas com respeito aos aliados, diferente do modo como nos trataram.
O PDT se posicionou contra o impeachment, mas com dissidências. O senhor é contra ou a favor?
Eu entendia que a presidente não tinha mais condições de governar pelo aspecto da incompetência política dela. Principalmente política, não só econômica. O que gerou esse caldeirão foi a economia novamente. Não tivesse essa dificuldade econômica, ela não cairia. Foram vários aspectos aí. Então, antes de ela cair eu já defendia, como continuo defendendo, eleições diretas. Para devolver ao povo a soberania para que o povo escolha novamente os seus governantes em Brasília. Agora temos dois anos com um governo em que o novo presidente aplica um programa que não foi referendado pelas urnas, e considero isso efetivamente uma preocupação muito grave para a democracia brasileira. Pelo aspecto jurídico, sou jurista, eu entendia que não era possível o impeachment. Então, sobre o aspecto político entendia que ela deveria sair com eleições gerais. Acho que ambos deveriam ter tido a grandeza de fazer uma renúncia conjunta, presidente e vice-presidente. E a partir daí se convocar novas eleições. Porque, isto feito até metade do mandato, você tem novas eleições. Mas juridicamente me posicionei contra.
Nuvem de palavras do candidato: