Jodi Kantor

Minha amiga Arcadia Kim tem três filhos e um diploma de administração por Harvard, mas quando tentou negociar em nosso nome com a mulher encarregada da esfoliação no Dragonhill Spa em Seul, na Coreia do Sul, ela não teve a menor chance.

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Estávamos no centro da jimjilbang, ou casa de banhos coreana, numa sala feminina cheia de vapor onde esfoliações são administradas (como em todo o país) por rígidas senhoras de meia idade – a maioria delas com barriga e vestindo nada além de sutiãs e calcinhas de renda preta. Arcadia me havia sussurrado que as mulheres eram ajummas, o que significa “tias”. O termo indica que são mulheres matronas da classe trabalhadora, conhecidas pela falta de calor humano e pela autoridade.

Nossa ajumma insistiu que precisávamos de esfoliações em todo o corpo. Não tínhamos muito tempo, Arcadia protestou. A mulher sacudiu a cabeça, inflexível. Um momento depois, estávamos deitadas sobre escorregadias mesas de plástico, sendo submetidas ao que me pareceu mais uma primitiva rotina de amor violento do que um tratamento de spa.

Foto: Chang W. Lee

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Nossas ajummas nos esfregaram com ásperos panos amarelos, caminharam sobre nós, deram socos e tapas, com os ruídos reverberando nos azulejos úmidos. Em determinado momento minha ajumma me chacoalhou para que eu abrisse os olhos, e apontou com aparente orgulho para nódulos acinzentados, maiores do que grãos de arroz, espalhados por meu braço. Eram grupos de minhas próprias células mortas. Ela finalizou cobrindo-me com toalhas quentes, fazendo com que eu me sentisse como um bebê: eu estava completa e passivamente sob os cuidados de uma mulher mais velha, minha pele estava macia e nova, e eu estava cercada por um mundo que apenas começava a compreender.

Conforme descobri durante uma viagem no fim do ano passado, spas, casas de banhos, saunas e lojas de cosméticos podem ser alguns dos melhores lugares para se conhecer a Coreia do Sul, um país que ainda está descobrindo como compartilhar a si mesmo com estrangeiros.

Nota a mulheres viajantes: alguns dias em Seul também lhe dão a chance de se cuidar numa escala, e por um custo, que a maioria de nós nunca poderia nos Estados Unidos. Em casa, eu mal leio sobre os cremes e tratamentos nas revistas femininas: quem tem dinheiro ou a menor confiança em sua suposta mágica?

Na Coreia, porém, cedi alegremente à onipresente e barata cultura da beleza de alta qualidade. Você pode comprar um creme para as mãos que aquece sua pele quando o aplica, pequenas almofadas adesivas para aliviar cólicas menstruais, e máscaras faciais que contêm ingredientes de veneno de cobra a pedaços moídos de placenta animal.

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Foto: Chang W. Lee

Quando as ajummas nos liberaram, uma delas ofereceu um gole de sua própria garrafa térmica de café gelado; de alguma forma havíamos conquistado sua aprovação. Recusamos o café, mas compramos ovos cozidos lentamente, um lanche tradicional em jimjilbangs, e Arcadia conseguiu duas das máscaras faciais de papel alumínio que as mulheres coreanas amam.

Ir a um jimjilbang na Coreia do Sul pode ser como entrar numa sauna num shopping – em alguns casos, um shopping dentro de um navio de cruzeiro. As jimjilbangs mais elaborados são universos independentes de vários andares com shows de mágica, restaurantes de churrasco coreano e retiros corporativos.

Com base em minhas visitas a casas de banho em três cidades – apenas algumas das milhares de instalações em todo o país -, isso é o que você encontrará: a entrada numa jimjilbang é quase sempre barata, menos de US$10 por um armário, o quanto você aguentar de sauna e banho, e um uniforme de algodão que impõe uma conformidade confuciana.

Foto: Chang W. Lee

Pouco é falado em inglês, então andar por ali é curiosamente divertido: você verá saunas inspiradas nas pirâmides do Egito; pequenas molas de aquecimento, o tipo que vemos em torradeiras, embutidas no chão; e salas com rochas de sal que teoricamente removem toxinas de seu corpo. As instalações são geralmente limpas e raramente elegantes, e muitas vezes lotadas de corpos deitados – símbolos vivos de um país tão sobrecarregado de trabalho que eles trocaram a semana útil de seis para cinco dias há apenas dez anos.

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As jimjilbangs de todo o país variam em comodidades: o Dragonhill Spa em Seul, onde Arcadia e eu fomos esfoliadas, é cafona e um pouco sombrio – mas bastante popular, especialmente com aqueles que passam a noite lá, desmaiados após uma noite de muita bebida. Em Busan, a segunda maior cidade da Coreia do Sul, a loja de departamentos Shinsegae possui uma jimjilbang muito mais elegante, com superfícies de madeira e uma sala “sonho de ondas” que simula a sensação de estar em águas profundas. Perto de Suncheon, também no sul, visitei uma jimjilbang numa floresta de bambus com uma “sauna marmota” – que aquece gentilmente seu corpo enquanto deixa sua cabeça exposta ao sol de inverno e ao nevoeiro da montanha.

Como eu tinha apenas uma amiga em todo o país, emprestei mais duas: Yaeri Song, fundadora do site Seoulist, e Violet Haeun Kim, escritora free-lance. Ambas haviam passado suas vidas ziguezagueando entre Coreia e Estados Unidos. Durante um jantar em Hongdae, pulsante bairro estudantil de Seul, conversamos sobre como viver na Coreia havia mudado a forma como elas olham para si mesmas e para os outros.

“Quando morava em Nova York, eu tinha um creme”, contou Yaeri, rindo. Hoje, quando conhece nova-iorquinos de vinte e poucos anos, ela geralmente acha que eles são uma década mais velhos. Em Seul, “todo mundo parece mais jovem”, afirmou ela.Enquanto conversávamos, percebi que as turistas têm uma vantagem sobre as coreanas quando se trata da cultura da beleza: nós podemos curtir algumas aventuras e depois voltar para casa, para longe dos padrões punitivos com que as mulheres coreanas precisam conviver.

Passei por incontáveis clínicas de cirurgia plástica em Seul. As entradas do metrô são cobertas por anúncios “antes e depois” sobre os procedimentos; um mostra um anel de noivado na foto do “depois”. Algumas mulheres “simplesmente fazem uma plástica para não precisarem lidar com os tratamentos”, explicou Violet.

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No último dia, me encontrei com Arcadia para uma viagem à minha jimjilbang favorita da jornada: o Spa Lei, uma instalação somente para mulheres com roupões bonitos em vez dos uniformes, e até mesmo uma pequena loja de roupas – atendida por uma jovem que estava tirando fotos de si mesma todas as vezes em que passamos, perdida em sua própria aparência. Placas ofereciam banhos a vapor com ervas para as partes íntimas femininas; ficamos com os banhos a jato. Naquela tarde, uma colega me levou ao mercado de Dongdaemun, onde aproveitei um happy hour e gastei uma quantia absurdamente pequena de dinheiro em bijuterias coreanas, tão baratas e atraentes quanto os produtos de beleza.

Foto: Chang W. Lee

Minha mochila estava repleta de cremes e poções para amigas nos EUA, a maioria apenas como piada. Eu já vinha usando o creme de lesma, que parecia uma versão mais grudenta de um creme facial comum, e minha pele realmente parecia mais macia e menos afetada pelo inverno. Comprei um último produto conceitualmente ridículo no aeroporto – uma garrafa de água para o equilíbrio da pele – e embarquei num jato da Korean Air, olhando com novos olhos para os pálidos rostos das aeromoças.