Primeiro veio a Evelin, seguida por Isadora, Samanta e Poliana. Vitória foi a última a nascer. Em oito minutos, a fotógrafa Sidnéia se tornaria mãe das quíntuplas. Hoje, aos cinco anos, as meninas vivem em Braço do Norte, no Sul de Santa Catarina. A rotina de Sidnéia Daufemback Batista, 36 anos, começa cedo, às 7h30min, quando planeja o que vai preparar de almoço. Pela manhã, ajuda as pequenas com as tarefas da escola, leva ao balé e ao curso de inglês. No começo, eram cerca de 40 fraldas por dia e hoje consomem diariamente cinco litros de leite.

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A mãe das gêmeas foge, e muito, da tendência e da média de filhos por mulher em Santa Catarina. Segundo o IBGE, há uma década o Estado tem a menor taxa de fecundidade do país, alternando o posto com o Distrito Federal. Em 2004 a média era 1,85 filhos por mulher catarinense. Após sucessivas quedas, chegou a 1,57 em 2014.

A casa das seis mulheres

— Eu brinco que sou uma atração de circo, onde quer que a gente vá as pessoas olham e perguntam coisas. Eu não planejei ter quatro desde o início, mas não queria uma só. Digo que fui tendo uma por vez. Então não me sentia completa, e quando nasceu a quarta me senti — conta Nadine.

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Para ela, a principal mudança a partir do segundo filho é a logística: tem que coordenar as atividades e agendas, além de serem mais raros os momentos de tranquilidade. Mas isso está longe de ser um problema. As meninas vivem rindo e brincando e também aproveitam as facilidades de ter muitas irmãs, como a troca de roupas e a companhia:

— A gente nunca fica sozinha — fala a mais velha, Karen, 15, acompanhada das irmãs Camila, 14, Ana, 12, e Beatriz, 10.

Nadine fala que muitas mulheres têm a falsa sensação de que com mais filhos não se tem o domínio. Mas acredita que na verdade nunca se tem. Então, a saída é levar a vida de forma leve e observando o comportamento das filhas para identificar habilidades ou problemas. A empresária sempre trabalhou e está separada há três anos.

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— Não consigo imaginar a minha vida sem nenhuma delas, não faria sentido algum — complementa Nadine.

Após uma perda, cinco presentes

Em 2008, Sidnéia perdeu um filho dois dias após o nascimento. Depois de dois anos, e sem nenhum método de reprodução assistida, ela escutava no ultrassom cinco corações batendo. A fotógrafa sempre quis ser mãe e almejava três filhos, mas brinca que veio multiplicado:

– Sou mãe mil vezes ao dia. Desde a gravidez eu sempre fui prática. Os nomes? Escolhi cerca de 20 e depois separei cinco.

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Até os seis meses, as meninas tinham que usar pulseiras de identificação para evitar confusão. Para arrumar as pequenas em fila, a maneira mais prática é pedir para se posicionarem na ordem do nascimento. Assim as elas, que já conhecem a sequência de cor e salteado, se organizam. Divorciada, Sidnéia teve que deixar o emprego na gravidez e hoje realiza alguns trabalhos no final de semana. Quando o bolso aperta, conta com a ajuda de familiares para pagar algumas contas, mas sente que foi escolhida para o papel de mãe:

– O mais importante é ter paciência. Vem uma e pergunta. Tempo depois vem a outra e tenho que ensinar a mesma coisa. Mas acho que fui escolhida, por mais trabalhoso que seja.

Por que ter menos filhos é a tendência

Diversos fatores estão relacionados à diminuição da quantidade de filhos por mulher. A coordenadora do Laboratório de Estudos de Gênero e História (Legh) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Cristina Scheibe Wolff, aponta alguns deles, como desenvolvimento do país e maior nível de instrução e renda. Mas não é só isso. A especialista também defende que reflete uma vontade das mulheres de estar em outros espaços que não só da maternidade.

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— Até um tempo atrás, mesmo que as mulheres trabalhassem, o reconhecimento social era maior com relação à maternidade. Não é que maternidade perdeu a importância, mas não é a única possibilidade que as mulheres têm de ser reconhecidas.

Para a especialista as mulheres, principalmente as pobres, que escolhem ter mais filhos são cobradas socialmente. Além disso, outra grande cobrança está na mulher que decide dedicar-se exclusivamente aos filhos.

A professora do Departamento de Demografia da Universidade Estadual de Campinhas (Unicamp), Joice Melo Vieira acrescenta que as escolhas reprodutivas baseiam-se basicamente em três perguntas: quantos filhos ter, quando e com quem. Para a especialista, o número de filhos envolve um cálculo de custo/benefício e ter filhos requer investimento tanto material quanto emocional.

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— Envolve também investimento de tempo, sobretudo para a mulher, dentro da lógica em que muitas famílias ainda estão organizadas, onde as tarefas domésticas e de cuidados recaem em grande parte sobre as mães. Pode-se dizer que hoje é “caro” ter filhos, para muitos é um investimento muito alto e de grande risco — defende.

O modo de vida, aspirações de projeção profissional, manutenção de determinado padrão de consumo, exige elevada dedicação ao trabalho e aumento do tempo de escolarização, isso leva ao adiamento da maternidade, aponta Joice. Além disso, apesar da alta conectividade, as pessoas também têm encontrado maior dificuldade para construir vínculos duradouros, o que também impacta neste cenário.

Igualdade de gênero induz a taxas maiores de filhos por casal

Apesar do país ter uma baixa taxa de fecundidade, 1,74 filhos por mulher, a tendência é que esse número siga baixando, porém depende muito de como é encarado o desafio de conciliar trabalho e família:

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— Países altamente desenvolvidos em que existe maior equidade de gênero não só na vida pública, mas também no interior da família, na distribuição das tarefas domésticas e de cuidado, costumam registrar fecundidade mais alta do que países de mesmo nível de desenvolvimento em que há menor equidade de gênero — afirma a doutora em demografia Joice.

Ela explica que quanto maior o desenvolvimento de uma região, menor a fecundidade, em um primeiro momento. Porque depois, com a igualdade de gênero, a fecundidade tende a se estabilizar em patamares próximos à reposição populacional, que é de 2,1 filhos por mulher.