O cenário econômico parece pouco animador para quem busca empreender, mas quando se trata de exportação é possível ser otimista. Das 2,7 mil novas empresas brasileiras que começaram a vender para o exterior em 2016, 270 eram catarinenses. Outro dado fornecido pelo Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços revela que, ao comparar o desempenho do Estado em março de 2017 com o mesmo período do ano passado, constatou-se que Santa Catarina cresceu 22% no setor, melhor desempenho desde 1997.

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O Brasil segue o mesmo ritmo. Abril fechou com superávit de US$ 5,19 bilhões no país – as exportações alcançaram US$ 13 bilhões e as importações, US$ 7,89 bilhões. No entanto, para os empreendedores que querem investir na internacionalização de seus produtos, é importante enxergar o cenário com cautela.

A presidente da câmara de Comércio Exterior da Federação das Indústrias de SC (Fiesc), Maria Teresa Bustamente, pondera que, na área de comércio internacional, antes de partir para a exportação, o fator econômico não é o único que precisa ser bem avaliado.

– É a reunião de vários fatores que conduzem o empresário a examinar cautelosa e prudentemente se está preparado para dar o passo de abrir portas no exterior. É uma decisão estratégica, embasada num exame criterioso sob uma análise da empresa, do mercado, do produto e dos concorrentes, aliada aos fatores econômicos e políticos do Brasil e dos países que se pretende alcançar – esclarece Maria Teresa.

Especializada em prestar assessoria a empresas brasileiras que querem começar a exportar produtos na área de autopeças, a BFX Brazil percebeu um aumento expressivo no número de clientes a partir de 2015 por conta da estagnação do mercado interno. Antes de se aventurar no exterior, porém, a empresa recomenda que os empreendedores tomem algumas precauções importantes inicialmente, como a busca pela licença Radar, junto da Receita Federal, que garante o direito de vender para outros países.

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Atenção para concorrência, investimento e burocracia

Na hora de avaliar os riscos no mercado externo, a diretora de Negócios da BFX Brazil, Camilla França, assegura que os principais desafios dos empresários brasileiros estão atrelados à concorrência chinesa e à adequação do produto ao mercado de cada país, como regulação às normas locais e aplicação do produto.

– A logística (da empresa) tem que ser eficiente e, obviamente, é preciso ter um fluxo de caixa para sustentar o investimento a médio e longo prazos, haja vista que a exportação é uma semente que leva seu tempo para amadurecer – explica.

Maria Teresa concorda com a diretora da BFX Brazil em relação à possível demora pelo retorno dos investimentos com a exportação. O empreendedor precisa ter paciência com a quantidade de exigências em adaptações técnicas ou certificações do produto, com custos logísticos não identificados previamente, além dos aspectos burocráticos dos países compradores a serem vencidos.

Exportar parece ser sinônimo de correr grandes riscos, mas as vantagens para quem se lança nesse setor são diversas. De acordo com Maria Teresa, os benefícios começam no salto em qualidade que as empresas costumam dar, com melhorias no processo de fabricação e de gestão; redução de custos por aumento do volume de vendas; a oportunidade de ter um mix de fornecimento de matérias primas e produtos intermediários, sem contar a possibilidade de usar mecanismos como draw-back para alavancar importações desses insumos; redução da capacidade ociosa e, principalmente, maior busca por desenvolvimento tecnológico.

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Ideia do exterior com toque brasileiro

A exportação sempre foi uma das metas de Victor Levy, Paulo Bobillo e Alberto Russi, sócios da startup manezinha Cata Company. A ideia do negócio, no entanto, fez o caminho inverso: já surgiu no exterior. Depois de criar um grande portal e-services de mídia e publicidade, com operação em sete países, o empreendedor paulista Victor Levy viajou por três anos para mais de 60 países. Em 2012, inspirado pelas práticas observadas no exterior, criou a empresa em Florianópolis, cujo principal produto é uma máquina que coleta moedas e as transforma em cédulas, vale-compras ou doações para instituições beneficentes. Entre as razões para o sucesso do negócio está, justamente, a capacidade de oferecer um produto inovador que também proporciona facilidades para além dos seus clientes diretos.

O pontapé para fazer a startup funcionar foi um investimento de R$ 350 mil nos primeiros seis meses. O ritmo de crescimento do negócio surpreendeu devido ao contexto de crise econômica que afetava, principalmente, os pequenos e médios empreendedores brasileiros: foram 350% de crescimento em 2016 e a previsão é alcançar os 450% até o fim de 2017. Segundo Levy, a expectativa dos sócios é de que 15% do faturamento de 2017, em torno de R$ 41 milhões, venham das exportações.

Os 35 funcionários parecem pouco para uma empresa com três endereços no currículo. Além da sede em Florianópolis e da fábrica, em São José, no final do ano passado a Cata Company participou da maior feira financeira dos Estados Unidos e abriu, oficialmente, um escritório na Flórida. Além do país, os produtos da startup catarinense já podem ser encontrados em postos, bancos, farmácias, concessionárias e empresas de transporte da Argentina, Peru, Paraguai, México, Austrália e alguns países da Ásia.

O empreendedor garante que a iniciativa de internacionalizar seus produtos não veio apenas por conta do cenário de crise econômica, mas sim como uma oportunidade de negócio:

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– Com a exportação, surgem oportunidades que acabam compensando esse momento de crise. No entanto, acreditamos que ela deve ser vista como processo de continuidade, e não apenas um certo oportunismo porque o mercado está ruim no Brasil no momento. Identificamos que os Estados Unidos e vários outros países também possuem demandas que podem ser solucionadas por meio dos nossos produtos – observa Levy.

Pode parecer simples por conta dos números otimistas de crescimento da empresa, porém, os empreendedores que se arriscam no mercado internacional também enfrentam obstáculos. De acordo com o trio de sócios, um dos desafios a serem superados pela Cata Company é a diferença de modus operandi dos clientes do exterior, que impacta no desenvolvimento de novas versões de produtos e modelos de negócios específicos em cada local, além de exigir uma adequação dos produtos à realidade dos consumidores e do mercado externo.

Aumentar o número de clientes pelo mundo não é o único objetivo da empresa para os próximos anos. Com 35% dos gastos diretamente relacionados ao desenvolvimento de tecnologias nas áreas de hardware, software, mecânica e design de experiência e produtos, os sócios têm planos ousados em relação à inovação. Já são 13 pedidos de patentes solicitados ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi), sendo que quatro desenhos industriais e dois registros de marcas já foram confirmados pelo órgão. E, claro, seguindo perfil internacional da startup, as patentes também já começam a ser registradas no exterior.