A conselheira da Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida (Apremavi) e ambientalista Miriam Prochnow, 48 anos, conversou na tarde desta terça-feira com a reportagem do Santa por telefone.
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Com tranquilidade, ela relatou os momentos de violência vividos ao lado do marido, Wigold Bertoldo Prochnow, quando os dois foram atacados por um caçador na manhã do último domingo, enquanto passeavam e fotografavam árvores e animais na propriedade do casal em Atalanta, no Alto Vale do Itajaí.
Miriam, que é defensora da fauna e da flora há muitos anos, foi uma das fundadoras da Apremavi ao lado do marido, em 1987. Também foi dela a ideia de transformar as terras da família numa propriedade modelo, com reserva legal, matas ciliares, horta orgânica, manejo florestal, esgoto filtrado, estrada florida em curva de nível, apicultura, chiqueiro e pasto.
Agora, Miriam e Wigold foram os alvos de um caçador. Ela relata como foram os momentos em que estiveram sob a mira de um rifle de repetição, enquanto tentavam negociar a manutenção da própria vida. Confira:
Jornal de Santa Catarina – Como foi o momento do ataque?
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Miriam Prochnow – Meu marido sempre anda um pouco mais à frente para fotografar flagrantes de animais, e nisso ele entrou numa trilhazinha na mata. De repente ouço ele gritar “socorro, Miriam”, escuto um tiro, e não ouço mais nada. Chamo pela nossa filha e digo para ela chamar a polícia, porque o pai estava baleado e tento chegar no local. Quando eu cheguei, vi que não tinha acontecido o pior, mas eles estavam brigando no chão. Na hora pensei “a única coisa que posso tentar fazer é registrar esse momento, porque é o que nós vamos ter para nossa defesa”. Aí eu fiz fotos, e quando ele (o agressor) viu que eu tinha fotografado veio para cima de mim para tentar tirar a minha máquina. Nisso o Wigold se recuperou mas acabamos ficando reféns dele por uns 20 minutos, no mínimo.
Santa – Você se sentiu como uma “caça”?
Miriam – É exatamente o que a gente sente. O Wigold até depois escreveu “como reage um animal quando é surpreendido por um caçador camuflado no meio da mata?”, e a resposta é: não reage, porque ele nem chega a ver o caçador. Poderia ter sido muito mais trágico, felizmente não foi, mas revela um problema ambiental talvez bastante forte aqui na região do Alto Vale ainda, que é a caça. E os caçadores de hoje não são mais aqueles senhores, são jovens voltando à pratica da caça, com equipamentos cada vez mais sofisticados, camuflados. Na caça os animais não têm chance de defesa, não têm máquina fotográfica para servir de barganha.
Santa – Você acha que essas pessoas têm um limite?
Miriam – Na minha opinião, esse tipo de caça de hoje é muito mais prejudicial do que as caças de antigamente, porque não têm limite: as armas são mais sofisticadas e as pessoas não querem saber. Não precisam da caça para alimento, isso já não existe há muito tempo, e fazem isso porque gostam. Na minha avaliação isso é até um desvio de comportamento, porque eu não consigo entender que uma pessoa possa ter prazer em matar um animal indefeso. E não titubearia, como foi o caso, em matar uma pessoa.
O suspeito de agredir o casal deve se apresentar à polícia nesta quarta-feira, na Delegacia de Polícia Civil de Atalanta. O delegado Paulo César França espera concluir o inquérito dentro de 30 dias.
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