Enquanto a cardiopediatra Eliana Costa Pelissari “tirava fotografias” do seu coração, Keren Vitória Antunes de Almeida aguardava tranquilamente e cheia de sorrisos. Era como se o bebê de sete meses sentisse que naquele dia, contra todas as expectativas, receberia alta: estava tudo bem com seu órgão vital, apesar do alto número de anomalias cardíacas congênitas em crianças com síndrome de Down. Keren passou por consulta, eletrocardiograma e ecocardiograma durante o Mutirão de Cardiologia do Hospital Infantil Dr. Jeser Amarante Faria, que ocorreu na sexta-feira e no sábado em Joinville.
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Atualmente, o tempo médio de espera por uma consulta ambulatorial de cardiologia é de seis meses, e 719 pacientes estavam na fila até quinta-feira. No mutirão, 288 consultas foram agendadas para aliviar este fluxo e agilizar os atendimentos. No total, 30 profissionais, entre médicos, enfermeiros e equipe de apoio, foram envolvidos nesta ação, que tem como objetivo atender a 40% da fila de espera.
A alta procura do hospital infantil localizado em Joinville acontece porque, entre outros motivos, ele é referência estadual em cirurgias cardíacas para crianças e adolescentes. Portanto, pacientes de toda a região que são encaminhados para o procedimento precisam passar por consulta e refazer os exames na unidade hospitalar, para uma reavaliação. Em média, 27 cirurgias cardíacas são realizadas no Hospital Infantil por mês. Além disso, crianças que são moradoras da região também procuram os especialistas para o primeiro diagnóstico.
— Normalmente, o pediatra escuta um “sopro” no coração e encaminha para avaliação. Há outros casos em que a criança tem cianose, que são os lábios arroxeados. Cansaço nas mamadas, muitas pneumonias ou desmaios também chamam atenção, assim como a criança que não ganha peso e não encontra outras anomalias: ela faz exame de urina, não tem intolerância à lactose, mama bem e mesmo assim não cresce — explica Eliana.
Há, ainda, os casos como a da pequena Keren, em que a cardiopatia está associada a síndromes genéticas, causada por málformações – elas devem ser monitoradas com frequência. Quando a mãe, Sirlene, começou a frequentar a Associação Amor pra Down, em Balneário Camboriú, recebeu um pedido de providenciar todos os exames importantes para crianças com síndrome de Down. Ela realizou o agendamento quando Keren tinha pouco mais de 30 dias e conseguiu a consulta durante o mutirão quando o prazo máximo da fila de espera estava chegando ao fim.
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Já a pré-adolescente Kemilly Dayane Machado Canceler não tinha nenhum histórico que pudesse fazer a família suspeitar que ela precisaria consultar um cardiologista tão cedo. Ela tinha nove anos e era um dia comum em agosto de 2016 quando Kemilly sentiu que o nariz havia começado a sangrar.
— Nós fomos para o posto de saúde porque não conseguíamos estancar. Lá, passamos quase 12 horas até o médico decidir que era melhor ela vir para o Hospital Infantil — lembra o pai, Sidney.
A menina passou três dias em observação e sendo medicada antes de receber alta. Deveria ter retornado ao especialista em 2017, para o acompanhamento anual, mas a consulta só foi possível agora, quando ela já está com 11 anos, por causa do mutirão.
— Na época, o médico disse que o problema poderia ser causado pela hipertensão, mas só agora saberemos o diagnóstico — contou o pai.
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