Conforme as previsões maias, o fim do mundo estaria programado para dezembro de 2012. Esteja você no grupo dos alarmistas ou no dos otimistas, saiba que a trilha sonora para os últimos dias está garantida: é The 2nd Law (ou A Segunda Lei), sexto álbum da banda inglesa Muse.
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O título é referência direta à Segunda Lei da Termodinâmica, fundamento da Física que trata da troca de energia dentro de um sistema. A alusão óbvia é a cenários decadentes do mundo atual, como a forte crise econômica de países europeus, os protestos de movimentos como o Occupy Wall Street, a escassez de recursos naturais e a corrida nuclear de potências menores, como Paquistão e Irã. Também poderia se aplicar a ocorrências recentes, como o furacão que atingiu os EUA.
Formado em 1994 por Matthew Bellamy (guitarra e voz), Christopher Wolstenholme (baixo e voz) e Dominic Howard (bateria), o Muse vive a melhor fase da carreira com a chegada de seu sexto álbum. Este ano, a banda emplacou a música tema da Olimpíada de Londres (Survival), quase ficou com o tema do novo filme do agente 007 (Supremacy, que é melhor do que a escolhida, da cantora Adele) e foi eleita, em outubro,como a melhor banda da atualidade pela renomada revista Q. No Brasil, no entanto, o prestígio ainda não é o mesmo. Apesar de ter feito shows aqui, em 2008, ficou mais conhecida dos brasileiros em 2011, quando abriu as apresentações do U2.
A exemplo do CD anterior, The Resistance, em The 2nd Law o Muse não opta pelo caminho fácil e volta a experimentar, criando um álbum conceitual no qual são ampliadas ainda mais as influências de outras bandas. A abertura, com Supremacy, mistura riffs ao estilo Led Zeppelin com ataques de orquestra e bateria marcial, chamando à reflexão: “Acorde para ver/sua verdadeira emancipação é uma fantasia”. Na sequência, vem a hipnótica Madness, com uma linha de baixo comandado por um touch pad, e um solo de guitarra que remete direto a Brian May. Panic Station é bem pop, praticamente uma mistura de INXS com os primeiros CDs do Red Hot Chili Peppers.
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A instrumental Prelude é uma prévia para a grandiosa Survival, com letra adequada ao espírito olímpico, mas com a grandiloquência típica da banda (“Eu escolho sobreviver/ custe o que custar/você não vai me ultrapassar porque eu vou manter o ritmo/E eu vou revelar minha força para toda a raça humana”). Follow Me é eletrônica e muito parecida
com a trajetória da banda, ao passo em que Animals emula Radiohead,fala de ganância e termina abruptamente com sons de uma rebelião.
Na boa balada Explorers, a banda britânica aborda a escassez de alimentos e de recursos naturais, suplicando no refrão: “Liberte-me deste mundo/Nós não pertencemos a este lugar/Foi um erro aprisionar nossas almas”. Em Big Freeze, com uma guitarra funkeada, o tema é a manutenção da esperança em um cenário melhor. As últimas quatro músicas do álbum mostram que o Muse segue um caminho diferenciado do restante das bandas de rock. Save Me e Liquid State são cantadas pelo baixista Wolstenholme, com letras dramáticas sobre sua luta contra o alcoolismo.
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Para o final, ficou o salto mais arriscado, com duas faixas que se complementam e resumem a ideia do álbum. The 2nd Law: Unsustainable é o Muse se inspirando diretamente em nomes da cena eletrônica atual, como Skrillex e Aphex Twin. Perfeita para a abertura dos shows, a música é quase uma vinheta, com uma narração que termina em voz robótica: “Novas formas de energia não podem ser criadas / e energias de alta escala estão sendo destruídas. / Uma economia baseada em crescimento infinito é insustentável”. E, em The 2nd Law: Isolated System, com clima bem ao estilo das trilhas sonoras do italiano Giorgio Moroder, há só uma frase, que faz referência direta à citada lei da Física:”Em um sistema isolado / a entropia só pode aumentar”.
The 2nd Law é um CD para ouvir aos poucos, juntando um caleidoscópio aparentemente diverso para construir uma unidade. Precisa tempo para absorvê-lo. E isso não falta, a não ser que o fim do mundo realmente chegue.
Saiba mais sobre a 2ª Lei da Termodinâmica
A Segunda Lei da Termodinâmica, segundo o professor Jeferson Arenzon, do Instituto de Física da Ufrgs:
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– É um dos principais fundamentos da Física e trata de quais processos de troca de energia podem ocorrer ou não em um sistema isolado. Por exemplo, espontaneamente, o calor (energia) passa de um corpo mais quente para outro mais frio, mas não o contrario. A energia tende a se espalhar, se desconcentrar. Quando o calor flui de um corpo para outro, podemos utilizar uma parte para acionar um motor, mas uma fração sempre se perde, ou seja, um motor não pode ser 100% eficiente. E a Segunda Lei nos diz qual é o máximo de eficiência possível. Ao se referir à Segunda Lei, os físicos costumam falar em degradação da energia. E é justamente esse o ponto abordado pela banda: os recursos no nosso planeta são finitos e nem sempre renováveis.
THE 2ND LAW
Muse
Warner, 13 faixas, preço médio de R$ 34,90