Convidado pela prefeitura de Moscou para pintar um mural em homenagem à bailarina Maya Plisetskaya, o artista paulista Eduardo Kobra se arriscou para deixar uma mensagem pedindo liberdade para a compatriota Ana Paula Maciel, presa na cidade de Murmansk com outros ativistas do Greenpeace após um protesto contra a exploração de petróleo no Mar de Pechora, no Ártico.

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Kobra, 37 anos, é conhecido pelos coloridos murais em algumas das mais conhecidas cidades do mundo. Em São Paulo, é responsável pelo projeto Muros da Memória, em que cenas da cidade em 1920 são ilustradas em tamanho real. Denuncia em uma série de trabalhos a questão da pesca predatória, do aquecimento global e dos maus tratos a animais – e a detenção dos 30 tripulantes do Arctic Sunrise lhe despertou a vontade de fazer seu próprio protesto contra aquilo que, para ele, constitui uma injustiça. O urso polar pintado por ele, isolado em uma placa de gelo e erguendo uma placa onde se lê “Free Ana!” (“Libertem Ana”, em inglês), requereu coragem e muita atenção com a nervosa polícia local, segundo contou a Zero Hora em uma entrevista por telefone na tarde desta terça-feira.

– Eu queria pintar alguma coisa, mas estava muito tenso, era muito difícil por conta do rigor de Moscou com tudo isso, ainda mais com street art, porque lá quase não tem trabalhos desse tipo. Em um dos dias em que estávamos lá, fiz contatos com outros artistas de rua. Me disseram que não tinha permissão para fazer, mas que, se eu quisesse mesmo, me mostrariam um local – disse.

Brasileiro pintou mural em homenagem a Maya Plisetskaya, primeira bailarina do Bolshoi nos anos 1960

Foto: Divulgação, Studio Kobra

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Durante a pintura do mural que foi convidado para executar, o artista disse ter se sentido bastante vigiado. O local inicialmente planejado para o painel foi vetado pela administração da cidade logo na chegada da equipe de Kobra. No entanto, uma outra parede, próxima ao Teatro Bolshoi, foi cedida para a intervenção. Mesmo com o projeto aprovado em mãos, oficiais da prefeitura questionavam o artista a todo o momento sobre as cores e outros detalhes. Em um dos últimos dos 14 dias de sua estada na capital russa, disse à equipe que estava se sentindo mal, que não poderia trabalhar, e se dedicou ao projeto paralelo. Na estação Mendeleevskaya do metrô moscovita, pintou o urso polar à noite, em cerca de quatro horas – a frase foi a última etapa – e só divulgou fotos do trabalho uma vez que já estava a bordo do voo de 17 horas que o levaria de volta para São Paulo.

– Fiz o trabalho e não publiquei nas minhas redes sociais, porque fiquei preocupado. Afinal de contas, estava lá contratado pela prefeitura da cidade. Só publiquei ontem (segunda-feira), quando já estava no avião. Tenho certeza que, se me pegassem no ato, eu teria um problema muito sério – brinca.

Daquilo que viu pelas ruas de Moscou, afirma que a população vê a detenção do grupo de ativistas como um ato de aviso.

– O comentário é de que essa prisão é um exemplo para não se faça nada parecido, porque a pena vai ser rigorosa. E infelizmente, a Ana acabou aí, dentro desse quadro.

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