*Por Hilarie M. Sheets

No Wilshire Boulevard, em Santa Mônica, na Califórnia, cinco artistas se reuniram recentemente, mantendo o distanciamento social apropriado. Eles pintaram "União" em enormes letras vibrantemente enfeitadas nos painéis de madeira compensada que protegiam as janelas de uma loja fechada de utensílios de cozinha, a Sur La Table.

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Longe de ser uma ação renegada ou uma grafitagem ilegal, a equipe estava trabalhando sob o patrocínio da Beautify, uma empresa de tecnologia criada no ano passado para facilitar as pinturas murais nas paredes deterioradas da cidade.

A pintura da Sur La Table foi encomendada pela Downtown Santa Monica Inc., depois que sua diretora executiva, Kathleen Rawson, desanimada com os negócios fechados em seu distrito, entrou em contato com Evan Meyer, diretor executivo da Beautify e também um artista de rua. "Podemos fazer algo que dê esperança às pessoas?", ela perguntou a ele. Rawson reuniu um pequeno orçamento para vários "murais de reação à Covid-19", como ela os chamou, nas telas mais recentes da cidade.

"Ele realmente adiciona uma camada de cor e inspiração a esses tempos sombrios", disse ela.

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(Foto: Kendrick Brinson / The New York Times )

Museus e galerias em todo o mundo trancaram suas portas, enquanto as pessoas esperam o fim da pandemia do coronavírus no isolamento. Mas as obras de arte de rua, que estão surgindo em paredes nuas e fachadas de lojas em paisagens urbanas, oferecem imagens de beleza e esperança para aqueles que se aventuram a sair para se exercitar.

Agora, a Beautify quer ajudar a aliviar o efeito econômico da crise para os artistas e para as ruas da cidade. Ela está adotando sua abordagem voltada para as comunidades em âmbito nacional com uma nova campanha que recruta marcas corporativas para patrocinar obras de arte públicas a US$ 10 mil cada. Chamada "De Volta às Ruas", seus criadores pretendem pintar mil murais de mil artistas em cem cidades, à medida que os bairros começarem a se abrir nas próximas semanas e nos próximos meses.

"Essa é uma oportunidade para manter as ruas vivas e reduzir o tempo de recuperação. As marcas podem salvar nossas comunidades", afirmou Meyer, visualizando os murais fixados nas celebrações das festas de rua.

A Beautify foi fundada como uma empresa irmã da Beautify Earth, uma organização sem fins lucrativos com sede em Santa Mônica, concebida por Meyer há sete anos para limpar o Lincoln Boulevard, uma rua comercial em Santa Mônica conhecida na época como "Lincoln fedorenta".

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"Eu tinha alguns amigos e começamos a receber aprovações para pintar as paredes. Era tudo voluntário no início", disse ele.

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(Foto: Kendrick Brinson / The New York Times)

O sargento Scott McGee, do Departamento de Polícia de Santa Monica, se lembra de ter passado por um gigantesco mural que dizia "Gratidão" e de ter estacionado seu carro. "Realmente me impactou", rememorou o oficial, que ingressou no conselho da Beautify Earth no ano passado. (Até o momento, a Beautify Earth colocou mais de 120 murais em Santa Mônica.)

"Esse tipo de arte tem a tendência de reduzir o vandalismo, os arrombamentos, os saques e todas as formas de crimes que podem resultar de prédios abandonados, negligenciados ou cobertos com tábuas", observou McGee, referindo-se a uma abordagem de boas práticas chamada Prevenção do Crime mediante o Design Ambiental.

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(Foto: Kendrick Brinson / The New York Times)

Com o tempo, a organização sem fins lucrativos construiu uma enorme rede mundial, composta por artistas, proprietários, empresários e patrocinadores, incluindo a Zappos, a American Express e a Lexus, interessadas em encomendar obras de arte públicas para realçar suas propriedades e atrair o tráfego de pedestres ou a atenção da mídia social para seus negócios. (A arte de rua ganha mais compartilhamentos como uma categoria no Instagram do que as hashtags para shows, culinária ou esportes.)

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"A organização sem fins lucrativos de Evan tinha todos os ingredientes para criar uma explosão de arte de rua, mas nenhuma tecnologia", comentou Paul Shustak, empresário de software. Ele uniu forças com Meyer no ano passado para criar a plataforma Beautify, que agora pode conectar todos os inúmeros artistas com apenas alguns cliques.

Proprietários e empresas interessadas em ter um mural pintado podem fazer o upload de imagens de suas paredes no site e anexar suas diretrizes e orçamentos.

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(Foto: Kendrick Brinson / The New York Times)

Os artistas, por sua vez, podem criar contas gratuitas para fazer o upload de seus trabalhos, navegar pelas paredes disponíveis e manifestar interesse em projetos. Quando selecionados, eles recebem 70 por cento do orçamento, e o restante vai para a Beautify, que lida com a logística de aprovações, contratações, seguros e pagamentos. A receita líquida dos 30 por cento da Beautify vai para os murais da campanha "De Volta às Ruas" e retornará à organização sem fins lucrativos por seu trabalho em escolas e comunidades carentes, de acordo com Shustak.

Meyer estima que suas duas organizações juntas ajudaram a criar nove mil obras de arte de rua em pelo menos 50 cidades em todo o mundo.

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"A melhor parte dessa plataforma é que eles conseguem as paredes para você", disse Gino Burman-Loffredo, um artista de Los Angeles que criou cerca de 15 murais desde 2015 por meio da organização e colaborou com Meyer, Ruben Rojas, Katarzyna Sciezka e Marcel Blanco na pintura "União" para a Sur La Table.

Corie Mattie, outra artista de Los Angeles, estava interessada em pintar uma imagem de si mesma como uma traficante em uma trincheira distribuindo símbolos de esperança (em vez de algo ilícito) durante essa crise. Ela encontrou uma parede disponível em um shopping em West Hollywood por intermédio da Beautify. Menos de 24 horas após entrar em contato com o proprietário, Matthew Lavi, no fim de março, Mattie concluiu seu mural "Cancelar Planos, Não a Humanidade".

"Se você estiver realizando o marketing corretamente e usando as mídias sociais, poderá trazer muito tráfego para as empresas que estão participando", afirmou Lavi sobre os murais.

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(Foto: Kendrick Brinson / The New York Times)

Parte da agenda do "De Volta às Ruas" é colocar os artistas de volta ao trabalho. A recente pesquisa do impacto da Covid-19 para artistas e trabalhadores criativos mostrou que 95 por cento dos artistas perderam renda e 62 por cento ficaram totalmente desempregados desde o início da crise. Cada mural é uma oportunidade para os artistas ganharem US$ 7 mil, 70 por cento do patrocínio.

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A equipe da Beautify tem estudado a iniciativa New Deal do presidente Franklin D. Roosevelt, dos anos 30, iniciada em outra era de desespero econômico. O Projeto Federal de Arte da Administração do Progresso das Obras (WPA, na sigla em inglês) pagou a uma geração de artistas para fazer obras públicas, incluindo cerca de 2.500 murais.

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(Foto: Kendrick Brinson / The New York Times)

"Falamos sobre o 'De Voltas às Ruas' como uma versão moderna da WPA. É definitivamente algo que nos inspira, olhando o que os artistas fizeram para tirar o país da Depressão", disse Shustak.

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