São menos de 3 mil habitantes. Mas nos últimos dois dias, foram quase 6 mil olhos e ouvidos atentos às notícias que vinham pelo rádio e pela televisão do outro lado do Oceano Atlântico. A expectativa dos moradores de Alto Feliz, no Vale do Caí, era saber se o novo papa seria aquele cuja família fixou raízes no município há mais de 140 anos.
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Quando a fumaça branca finalmente foi anunciada pelos meios de comunicação, fogos de artifício e os sinos da igreja central soaram ininterruptamente por mais de 15 minutos. Mas após cerca de uma hora, a expectativa se transformou em frustração.
– Eu estive com o Odilo no Vaticano quando ele foi nomeado cardeal, em 2007. Foi triste ver que quem saiu da basílica hoje, no mesmo lugar onde ele saiu após se tornar cardeal, não foi o Odilo – contou o secretário municipal de Administração e amigo íntimo do arcebispo, Marcelo Sauthier.
Durante essa quarta-feira, quase não se viu pessoas circulando pelas ruas da cidade. Mas em qualquer estabelecimento ou casa habitada, a luz da televisão palpitava, à espera de notícias do Vaticano, na terra de Mathias Scherer. O imigrante alemão, que chegou ao município do Vale do Caí em 1872, quando tinha entre 15 e 16 anos, deu origem a uma extensa linhagem. De uma das ramificações da árvore genealógica dos Scherer, está Odilo José, que era um dos candidatos favoritos a assumir o cargo máximo da igreja católica.
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– Mesmo não tendo sido eleito, o fato de ter sido cotado já nos enche de orgulho – comentou o produtor de acácia Pedro José Faccin, 64 anos, morador de Alto Feliz.
Ainda conforme ele, o prefeito passou há alguns dias nas casas do município pedindo que os proprietários mantivessem os pátios organizados. O motivo era a possibilidade de os olhos do mundo se voltarem para o Rio Grande do Sul e também para Alto Feliz.
As irmãs Germana, 70 anos, e Neli Scherer, 75 anos, revezavam, durante os quase dois dias de incerteza, as orações com as espiadas na televisão da sala. Elas moram na casa que foi construída no século 19 pelo seu avô e bisavô de Dom Odilo, Mathias Scherer, junto a uma terceira irmã, Laura, de 85 anos.
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A casa permanece parcialmente preservada na localidade de Arroio Jaguar. A parte que permanece de pé era antigamente a cozinha, que ficava separada dos quartos e da sala, costume da época que, em caso de incêndio, não permitia que o fogo se propagasse para os aposentos em que a família dormia.
Além do imóvel, dois porta retratos pesados com as fotos dos avós Mathias e Elisabeth, duas malas-baú de madeira que teriam vindo da Alemanha e alguns artefatos já não mais utilizados, como um batedor de manteiga e uma prensa de cana para fazer geleia, são preservados pelas netas do imigrante alemão.
– É uma pena que o papa não é nosso, mas sentimos orgulho igualmente pelo nosso Odilo – conclui Neli Scherer.
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Duração dos conclaves nos últimos dois séculos:
Bento XVI, 2005 – 2 dias
João Paulo II, 1978 – 2 dias
João Paulo I, 1978 – 1 dia
Paulo VI, 1963 – 3 dias
João XXIII, 1958 – 3 dias
Pio XII, 1939 – 1 dia
Pio XI, 1922 – 4 dias
Bento XV, 1914 – 3 dias
Pio X, 1903 – 4 dias
Leão XIII, 1878 – 1 dia e meio
Pio IX , 1846 – menos de dois dias
Gregório XVI, 1831 – 54 dias
Pio VIII, 1829 – Mais de um mês
Leão XII, 1823 – 26 dias
Pio VII, 1799-1800 – 3 meses e meio
Veja algumas curiosidades sobre o conclave:
– a língua oficial do conclave é o latim, mas todos os cardeais devem saber se comunicar em italiano
– os cardeais não podem votar em si mesmos
– deve-se escrever com caligrafia diferente na cédula para garantir o sigilo
– o conclave pode durar dias, semanas e até meses
– o eleito recebe um anel de ouro com a imagem de São Pedro pescando, que é o selo oficial do papa
Acompanhe a cobertura do enviado do Grupo RBS ao Vaticano
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