O presidente Luiz Inácio Lula da Silva espera que, após a crise global, surja uma sociedade que beneficie a produção, e não a especulação, na qual a função do setor financeiro seja estimular a atividade econômica – ainda assim sob controle rigoroso nacional e externo de organizações sérias e representativas. Essa é a visão sobre o futuro do capitalismo expressa pelo presidente, em artigo publicado hoje pelo jornal britânico Financial Times (FT), semanas antes da reunião do G-20 (grupo formando por grandes economias desenvolvidas e emergentes) que acontecerá em Londres.
Continua depois da publicidade
– Acima de tudo, espero um mundo livre dos dogmas econômicos que invadiram o pensamento de muitos e ficaram presentes como verdades absolutas – escreve.
– Não estou preocupado com o nome que será dado à ordem econômica e social que virá depois da crise, desde que sua preocupação central seja os seres humanos.
Para Lula, ninguém pode prever hoje o futuro do capitalismo, tema da série publicada esta semana pelo jornal britânico:
– Como governante de uma grande economia descrita como “emergente”, o que eu posso dizer é o tipo de sociedade que eu espero que nasça da crise.
Continua depois da publicidade
Ele também defende o comércio internacional livre do protecionismo, que “mostra perigosos sinais de intensificação”. O presidente espera ainda organizações multilaterais reformadas, com programas de apoio para as economias pobres e emergentes, de forma a reduzir os desequilíbrios que afetam o mundo hoje.
– Haverá um novo e democrático sistema de governança global.
Lula vê ainda a necessidade de novas políticas energéticas, reforma dos sistemas de produção e do padrão de consumo, para assegurar a sobrevivência do planeta ameaçado pelo aquecimento global. Ele avalia que políticas anticíclicas devem ser adotadas não somente durante a crise.
– Aplicadas antecipadamente, como foi feito no Brasil, elas podem garantir uma sociedade mais justa e democrática.
Trajetória
O presidente inicia o artigo afirmando que, para ele, o capitalismo nunca foi um conceito abstrato, pois é parte concreta da rotina diária. Descrevendo sua trajetória do interior do Pernambuco para a liderança do movimento sindical em São Paulo, Lula diz que sua infância não foi diferente da de muitos garotos de famílias pobres: empregos informais, com pouca educação formal.
Continua depois da publicidade
Ao chegar à presidência da República, após ter perdido quatro eleições, ele diz ter encontrado um país com sérios problemas estruturais e uma herança de desigualdades enraizadas:
– Muitos de nossos governantes, mesmo aqueles que ordenaram reformas no passado, governaram para poucos – diz.
– Eles se preocuparam com um Brasil onde somente um terço da população importava.
Lula também argumenta que, ao chegar ao governo, encontrou “profundos preconceitos” que poderiam levar o País à estagnação, como a avaliação de que não era possível crescer sem ameaçar a estabilidade econômica. Ou o governo aceitava as ordens da globalização ou o Brasil seria condenado a um isolamento fatal, diz.
– Ao longo dos últimos seis anos, nós destruímos esses mitos – afirma.
– Nós crescemos e aproveitamos a estabilidade econômica.
Segundo o presidente, o crescimento nacional tem sido acompanhando da inclusão de dezenas de milhões de brasileiros ao mercado consumidor, com distribuição de bem-estar para 40 milhões que viviam abaixo da linha da pobreza. A expansão do mercado interno, avalia, não ocorreu em detrimento das exportações, que triplicaram no período.
Continua depois da publicidade
– Atraímos enormes volumes de investimento estrangeiro sem perda da soberania – diz.
– Tudo isso nos permitiu acumular US$ 207 bilhões em reservas externas e nos proteger dos piores efeitos de uma crise financeira que, nascida no centro do capitalismo, ameaça toda a estrutura da economia global.