Natural de Lille, no norte da França, François Hautekeur aportou em terras brasileiras há três anos com a nobre e árdua tarefa de estimular o consumo de espumantes e champanhes no país da cerveja e da cachaça. O desafio é enorme e não dá pra negar que uma das principais barreiras é o preço. Mas ela não é a única: falta de conhecimento é outra e essa o enólogo e comunicador da LVMH, maior conglomerado de luxo do mundo, que reúne bebidas icônicas como Moët&Chandon, Veuve Clicquot e Dom Pérignon, enfrenta como ninguém. Com humildade, simpatia e bom-humor, ele percorre o país difundindo a cultura da bebida envolta em glamour, mas desmitificando sua aura de ¿para poucos e bons¿.
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– Meu principal desafio é ensinar a cultura a estimular o consumo. Ensinar como beber, o serviço, temperatura, harmonização, características. É preciso explicar tudo isso até porque não é uma bebida barata . Há muito o que ensinar. Acho que não fico desempregado tão cedo – conta entre risos François, dono de um cargo que só garante o quanto o Brasil é estratégico nos planos da gigante de luxo.
Difundir o consumo falando do assunto que mais ama foi o que François veio fazer na Praia do Rosa, em Imbituba, onde conversou com a coluna e participou do Agosto Del Vino, evento que reúne vinhos e gastronomia e encerra nesse sábado.
– Gosto da pedagogia e da ideia de construir um discurso acessível para todo mundo entender o vinho. Fazer uma espécie de democratização do discurso – compartilhou, entre um charuto e outro, o francês que retorna a SC no final do mês para uma programação de jantares harmonizados.
Como você se aproximou do universo dos vinhos?
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Sou engenheiro mecânico e deixei a indústria metalúrgica por amor aos vinhos. Depois de dois anos de estudos superiores de enologia em Toulouse entrei na Moët&Chandon para fazer os vinhos tintos usados nos rosés da Möet e logo depois fui para a Veuve Clicquot, onde trabalhei nove anos. Viajei o mundo inteiro como enólogo e comunicante (espécie de embaixador) da Clicquot. Hoje trabalho só no Brasil, mas com todas as marcas, embora meu papel de enólogo esteja concentrado na Chandon. Seis vezes por ano eu vou para Garilbaldi (RS), onde está a Chandon do Brasil, para participar das degustações de assemblage (vinho produzido com diferentes variedades de uvas). Ano passado, a Chandon produziu 3,5 milhões de garrafas em Garibaldi.
E para morar, Brasil ou França?
Gosto muito de São Paulo, onde a gastronomia e a vida cultural são ótimas e sempre há coisas novas para descobrir. Floripa também é uma cidade onde eu gostaria de morar, assim como gosto do Rio de Janeiro e de Belém. Mas um dia vou terminar minha vida na França. Minha esposa é brasileira e também quer morar lá.
Qual é o rótulo de espumante/champanhe da LVMH mais vendido no mundo e no Brasil?
No mundo é a Moët Imperial Brut e aqui no Brasil é Chandon Réserve Brut.
Qual é o rótulo do grupo mais premiado no mundo?
Provavelmente Krug Grande Cuvée.
Quais são os principais concorrentes da Chandon no Brasil?
A cerveja, bebida mais consumida no país.
Qual é o seu champanhe preferido?
A Clicquot é minha casa mais querida. Tenho uma afeição particular. É como se Madame Clicquot fosse minha avó. Em 2010 descobrimos garrafas no fundo do Mar Báltico e eu fui um dos enólogos que degustou os vinhos que Madame fez em 1840. Foi como se eu estivesse beijando a sua boca.
Os espumantes feitos com o método champenoise, normalmente mais valorizado do que os charmat, são superiores em qualidade?
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Não necessariamente. Os métodos charmat e tradicional são métodos para fazer borbulhas. São duas ferramentas e a qualidade final do produto depende dos parâmetros que você vai aplicar para usar a ferramenta. Por exemplo, a Chandon, que é o arquétipo do charmat qualitativo faz uma segunda fermentação lenta para criar borbulhas finíssimas.
Qual é a temperatura ideal para consumo? Entre 7ºC e 12ºC e a temperatura de serviço perto de 6ºC.
É errado colocar o espumante no congelador para gelar mais rápido? Sim.
Para quem não tem uma adega em casa, qual a melhor forma de guardar espumantes? Pode colocar no refrigerador por algumas semanas e 30 minutos antes de servir, colocar no balde com água e gelo (50-50).