Cada vez mais, mulheres jovens têm sido assassinadas em Santa Catarina por pertencerem ao gênero feminino. Os dados de feminicídios deste ano, no Estado, em comparação com 2021, no período de janeiro a maio, mostram queda de oito anos na média de idade das vítimas.

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A idade média de uma mulher vítima de feminicídio em Santa Catarina está em 36 anos, atualmente. Em 2021, a média ficou em 44 anos, dentro do período analisado.

A vítima mais nova a perder a vida por feminicídio nos últimos meses foi uma criança de dois anos, morta em abril. Os dados da Secretaria de Segurança Pública contam ainda com uma vítima de sete anos e outra de 11 — mortas entre janeiro e maio. No ano passado, a vítima com menor idade tinha 20 anos. 

Porcentagem da faixa etária das vítimas
Porcentagem da faixa etária das vítimas (Foto: NSC Total)

Conforme explica a coordenadora da Dpcami em Santa Catarina, Patrícia Zimmermann, os feminicídios acontecem, em sua maioria, quando a mulher põe fim no relacionamento. A violência costuma acontecer em um período de 60 dias do pós-término.  

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— Os relacionamentos estão começando cada vez mais cedo, e as mulheres estão cada vez mais intolerantes à violência. Um relacionamento abusivo não é mais tolerado. A gente vê que, na grande maioria, a mulher aceita o convite do autor para resolver algo específico no pós-término e aí acontece a morte, geralmente, nos primeiros dois meses do pós-relacionamento — afirma. 

Região

A maioria dos crimes, segundo dados da SSP-SC, acontece no Oeste de Santa Catarina. Das 81 mulheres mortas entre 2021 e 2022, cerca de 32% moravam na região. Isso se dá devido à forma como os moradores do Oeste, em sua maioria, enxergam as relações íntimas de afeto, segundo a polícia. 

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— Infelizmente, ainda é muito forte a cultura de que a mulher precisa obedecer ao marido e não pode ter um novo relacionamento. O que a gente tem visto é a falta de aceitação do término, excesso de ciúme e sensação de posse da mulher — explica. 

A advogada e especialista em violência contra a mulher Tammy Fortunato explica que há uma diferença de acesso às delegacias entre as mulheres do Oeste, onde a vida rural é mais comum, e as do Litoral, por exemplo, onde há mais delegacias ou mesmo vizinhos que podem chamar a polícia. 

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— No Oeste, as mulheres estão mais isoladas, e isso é bem interessante de analisar. É em questão de acesso à informação e a possibilidade de pedir socorro e auxilio. No campo, essa facilidade não se dá como em outras regiões, por exemplo, onde tudo é muito perto — diz. 

De acordo com dados da Polícia Civil, a maior parte das mortes acontece no meio rural. Neste ano, dos 26 feminicídios registrados, pelo menos cinco aconteceram em regiões afastadas da cidade — número que representa 19% do total. Já em 2021, essa porcentagem foi de 29% durante o ano todo. 

Feminicídios por região
Feminicídios por região (Foto: NSC Total)

Autores da violência

Segundo a advogada e especialista Tammy Fortunato, os autores da violência contra a mulher, refletida no feminicídio, podem ser dividos em três fases da vida. 

Na infância, conforme explica, os crimes são praticados, em sua maioria, por pais, padrastros, irmãos e tios. Na fase adulta, no entanto, o personagem se transforma no companheiro ou ex-companheiro. No caso das vítimas idosas, o principal agressor passa a ser o cuidador da mulher — um neto, um sobrinho, um irmão ou um filho. 

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Dados de relação com a vítima
Dados de relação com a vítima (Foto: NSC Total)

— Mas a gente precisa chamar a atenção para uma coisa: as mulheres também são autoras de feminicídios. Recentemente, tivemos um caso, por exemplo, em que a mãe matou a filha porque ela tinha supostamente iniciado a vida sexual dela. A menina tinha 12, 13 anos. E se fosse um menino? Essa mãe teria tido essa mesma reação? Ou foi só porque era uma mulher? Foi pela condição de gênero? É importante olharmos para isso também — explica. 

Maioria dos feminicídios acontece de dia

De acordo com dados da SSP/SC, a maioria dos feminicídios em Santa Catarina acontece durante o dia e na casa da vítima. Das 55 mulheres que morreram em 2021, 30 foram assassinadas entre as 6h e as 18h — o que representa 54% dos casos. 

Segundo a coordenadora da Dpcami no Estado, Patrícia Zimmermann, a maioria das mortes acontece após violência familiar, dentro de casa. Por esse motivo, o crime não tem hora para acontecer, nem dia da semana. 

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A especialista em violência contra a mulher Tammy Fortunado, no entato, questiona a situação. Segundo ela, é preciso pensar que, apesar de a morte ter sido consumada durante o dia, geralmente ela é decorrida de uma briga que se estendeu durante a madrugada. 

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— Se a gente pega uma morte que ocorreu às 6h30 da manhã, por exemplo, isso pode ser decorrido de todo um enfrentamento durante a madrugada — diz. 

Em 2021, das 55 mortes registradas, 24 ocorreram entre às 19h e às 6h. Dessas, apenas 10 foram registradas durante a madrugada. 

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