Mulheres e jovens de classe média recém-saídos da faculdade, agora, são maioria entre os 10 milhões de brasileiros que querem entrar na carreira pública por meio dos concursos. Segundo especialistas, as vantagens de ter o Estado como chefe mudaram o perfil dos concurseiros, antes formado, principalmente, por homens sem curso superior.

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A estabilidade e os salários mais altos são responsáveis por atrair candidatos cada vez mais novos. Para disputar as vagas tão concorridas, é preciso se manter “afiado” e aproveitar as vagas dos próximos editais porque os concursos podem ser reduzidos pela metade a partir de 2012.

Por observação e pesquisas, professores de cursinhos preparatórios para concursos, consultores e especialistas em administração pública constataram que o interesse dos jovens que saem da faculdade pela carreira pública tem aumentado.

Hoje, os jovens da classe média recém-graduados são a maioria entre os candidatos, e usam o diploma como pontuação nos concursos públicos (veja quadro), de acordo com o doutor em gestão de conhecimento da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Dante Marciano Girardi e com as pesquisas do consultor de cursinhos preparatórios Juliano Maziero.

Para o professor Eduardo Guerini, mestre em Sociologia Política e especialista em Avaliação de Políticas Públicas da Universidade do Vale do Itajaí (Univali), os recém-formados querem manter o mesmo padrão de vida que tiveram na infância.

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– Quem disputa um concurso é naturalmente competitivo e sabe que os bons salários renderão oportunidades de garantir para si e para a família, no mínimo, as mesmas condições em que viveu. A instabilidade da iniciativa privada, ao contrário, não é garantia para pagar um curso de línguas, participar de eventos culturais ou frequentar academias caras – afirma Guerini.

Os especialistas apontam que o aumento do nível de escolaridade dos concurseiros provoca um efeito direto no serviço público: a qualificação do atendimento prestado à população. Os diplomados, teoricamente, são mais preparados para executar suas funções e mais conscientes de suas obrigações.

Em busca de estabilidade e segurança no trabalho

Entre as mulheres, que correspondem a 60% dos candidatos, a discriminação salarial na iniciativa privada e o instinto próprio do gênero feminino de buscar segurança em todos os aspectos são fatores apontados pela psicóloga da Univali Cláudia Schiessl para justificar o aumento do número de mulheres que querem entrar na carreira pública.

Em 2009, mesmo sendo maioria entre as pessoas que têm curso superior, o rendimento médio delas equivalia a 82,84% do rendimento deles, segundo dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). No ano passado, o salário médio do homem que tem curso superior ficou em R$ 5.019, 49, enquanto que o da mulher com a mesma escolaridade foi estimado em R$ 2.919,99.

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A jornalista Renata Adriano Cavalheiro, 23 anos, sabe que a diferença salarial entre homens e mulheres pode chegar a 50% na iniciativa privada e reconhece que ter um salário de R$ 4 mil – remuneração dada à vaga que ela disputará no concurso do MPU – na sua área de atuação é raridade. Essas razões, aliadas à segurança de trabalhar em uma repartição pública e de não ser demitida por motivos políticos, motivaram-na a se inscrever em concursos:

– Sou filha de funcionária pública e conheço as vantagens. Quando entrar na carreira vou unir o jornalismo e a estabilidade profissional.