Em Santa Catarina, mulheres com média de idade de 34 anos são maioria no número de inscrições de médicos generalistas, de acordo com dados da Demografia Médica de 2024 do Conselho Federal de Medicina (CFM). Entre as profissionais, são 5.086 inscrições no Estado, enquanto os homens somam 4.864, além de ter a média de idade de 39 anos.

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Os médicos generalistas são responsáveis por diagnosticar pacientes e prescrever tratamentos, além de fazer atendimento preventivo, como solicitar exames de rotina e check-ups gerais para identificar e prevenir doenças.

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Para a catarinense Andrezza Bertoli, de 28 anos, que iniciou a carreira como médica generalista aos 23 anos em um posto de saúde em São José, cidade da Grande Florianópolis, o fenômeno se dá pela “feminização das universidades”.

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— O fato de termos mais mulheres que são médicas generalistas e jovens em Santa Catarina está diretamente relacionado com o aumento de mulheres que ingressam na universidade, e do aumento de mulheres que decidem estudar medicina — afirma ela.

Ainda de acordo com a Demografia Médica de 2024 do CFM, é a partir dos 35 anos que os homens voltam a ser maioria entre os médicos generalistas do Estado de Santa Catarina. Para Andrezza, isso é um reflexo do aumento da presença de mulheres nos cursos e nas turmas mais jovens de medicina.

— É um reflexo dos últimos 10 anos, e acredito que esse fenômeno vá se prolongar ao longo dos anos. A proporção de mulheres que cursam medicina e se tornam médicas jovens ainda vai aumentar — estima ela.

O levantamento feito todos os anos pelo CFM aponta o mesmo. No Brasil, o número de médicas aumenta cada vez mais. De acordo com a Demografia Médica de 2024, os homens ainda representam a maioria entre os médicos com até 80 anos, correspondendo a 50,08% do total, enquanto as mulheres compõem 49,92%. Mas a estimativa é de que o número de médicas ultrapasse o de médicos em breve. Entre os profissionais com 39 anos ou menos, as mulheres já predominam: são 58% em comparação a 42% dos homens. O ponto de virada foi em 2009, há 15 anos.

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Natural de Balneário Camboriú, Andrezza está cursando o mestrado em Internacional Health, na Alemanha, que é voltado para políticas públicas em saúde para países em desenvolvimento. Ela se formou em Medicina na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) em 2019, onde ganhou a medalha de mérito acadêmico.

Ela conta que ser médica generalista veio naturalmente para ela, quando estava no último ano da faculdade.

— Quando eu estava perto da formatura, foi muito difícil ter que optar apenas por uma área da medicina, porque eu gostava de todas, e todas elas me me pareciam importantes de alguma maneira — explica.

Andrezza também compartilha que, durante o curso, todas as aulas chamavam a atenção.

— Era uma escolha difícil para mim ter que optar, por exemplo, fazer pediatria e deixar de atender adultos, ou fazer obstetrícia e deixar de atender homens, ou fazer cardiologia e não ver mais tantos pacientes da área de “gastro” — diz.

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Médica generalista

De acordo com ela, os quatro anos e meio que atuou no posto de saúde como médica generalista deram a ela muitas experiências positivas.

— Muitos pacientes vieram me buscar justamente por eu ser mulher. Mães, idosas, grávidas, adolescentes e às vezes até mesmo crianças preferiam me procurar em detrimento de um profissional homem para ter as consultas, justamente por ter um senso maior de identificação, e uma sensação maior de acolhimento e também por terem a ideia de que eu conseguiria compreender melhor as fases do ciclo da vida que essas pessoas estavam passando — explica.

Enquanto médica generalista, ela sentia que, muitas vezes, os pacientes — principalmente as mulheres — tinham a confiança de que ela conseguiria compreender como uma grávida se sente, como é ter filhos pequenos ou como é cuidar de uma casa e ter que trabalhar ao mesmo tempo, no caso da jornada dupla.

— O fato de eu ser mulher me fez, às vezes, ser a prioridade de escolha não só de pacientes mulheres, mas também de homens, que me buscavam pela sensação de acolhimento, escuta com cuidado e pela humanização maior da medicina que eu percebo por parte das mulheres — afirma.

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Para ela, a área médica a proporcionou um repertório de possibilidades para trazer soluções para os problemas dos pacientes.

— Nesses quatro anos que eu que eu trabalhei como generalista, eu tive contato com diversas histórias de vida de pacientes de todas as faixas etárias. Desde pacientes com histórias de vida tristes, difíceis, sofridas até casamentos com complicações. Ao passo disso, eu também vi muitas histórias felizes e acompanhei diversas gestações, vi nascimento de crianças, acompanhei crescimentos, vi adolescentes virarem adultos e começarem a ter as suas profissões… Vi famílias que se reuniram com muitos pacientes que migraram de outros estados para região de Santa Catarina — conta a médica.

Ela diz que ser generalista também é ser um porto seguro para os pacientes, ou seja, um local onde eles centralizam o cuidado de saúde.

— Eu atendia pacientes com diversos problemas de saúde, e eles vinham conversar comigo por eu ser generalista. Era “meu cardiologista me receitou isso e isso, doutora. Posso seguir essa receita?”, ou “meu nutricionista me passou essa dieta”, “minha psicóloga comentou comigo que talvez fosse bom eu usar alguma medicação”. Como generalista, eu me tornei a referência para todas as questões de saúde da vida do paciente e eu conseguia juntar cada um desses pedaços que ficavam soltos entre um especialista e outro — fala.

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Como é o trabalho de um médico generalista?

No Brasil, o médico generalista tem um papel importante, conforme Andrezza. Eles podem trabalhar fazendo plantões, em postos de saúde, em clínicas privadas ou em teleatendimento.

— Por ser um profissional muito versátil, eles acabam sendo a porta de entrada no sistema público de saúde dos pacientes — diz.

De acordo com a Secretaria de Atenção Primária à Saúde, órgão ligado ao Ministério da Saúde, 85% das queixas de pacientes que chegam às Unidades Básicas de Saúde (UBS) e aos hospitais públicos brasileiros poderiam ter sido resolvidas por médicos generalistas, além de médicos de família e comunidade.

— O médico generalista é essencial o para o sistema público de saúde funcionar bem. Isso porque eles identificam a necessidade de encaminhamento, transferência, ou solicitação de exames. Em alguns casos, também é feita uma prescrição que por muitas vezes já resolve o problema que o paciente vem apresentando — afirma.

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Ela ainda destaca que a área é a formação mais abrangente dos médicos.

— Nós acabamos entendendo de tudo um pouco, e para a formação das primeiras hipóteses diagnósticas isso é essencial. É mais vantajoso para um paciente que tem uma doença que ainda não sabe o que é e que ainda precisa de um direcionamento, passar por um um generalista que consiga descartar algumas hipóteses diagnósticas — explica.

*Sob supervisão de Jean Laurindo

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