Uma pesquisa recente do Sebrae mostrou que 52% das novas empresas no Brasil são gerenciadas por mulheres. Esta vocação empreendedora é algo que Leda Borges observa todos os dias como diretora executiva do Consulado da Mulher, uma ação social instituída em 2002 pela marca Consul, da fabricante de eletrodomésticos Whirlpool.

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O programa oferece assessoria a mulheres de baixa renda e pouca escolaridade em 20 Estados e 55 cidades brasileiras. Em Joinville, 120 negócios são beneficiados. Abrir o próprio negócio não é tarefa fácil.

Para as mulheres, significa falar também da dupla jornada (casa-trabalho), e para aquelas que moram em comunidades de baixa renda, superar ainda os desafios econômicos. Mas tudo é encarado com coragem e disposição.

Leda mora em Joinville com a família, mas viaja de Norte a Sul do Brasil acompanhando o desenvolvimento do programa. Bacharel em administração de empresas e especialista em gestão de recursos humanos, ela já trabalhava na Whirlpool antes de ingressar no Consulado.

Por mais de uma década, atuou em áreas como recursos humanos e inovação, mas foi no Consulado, onde começou de forma voluntária no início dos anos 2000, que descobriu sua grande paixão: o terceiro setor.

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PARECER DO CÔNJUGE

– Quando decide abrir um negócio, de início, a mulher de baixa renda não recebe muito apoio do cônjuge. Ele diz: “Você vai fazer esse negócio, não vai dar certo, larga disso”. Só num segundo momento, quando o negócio começa a prosperar, ela recebe o apoio da família.

REDE

– As mulheres se ajudam. Na própria comunidade, quando uma começa um empreendimento e convida outra, é muito fácil formar uma rede de mulheres. Trabalhar junto é mais comum entre as mulheres do que entre os homens. Elas têm mais facilidade de chamar uma vizinha e dizer: “Olha, estou com uma encomenda grande, você pode me ajudar?”

NECESSIDADE

– O perfil do empreendedorismo muda conforme a região. Pode ser por vocação, mas também por necessidade. Em algumas localidades do Norte e do Nordeste, há o empreendedorismo de necessidade, que acontece quando a pessoa está passando fome, não tem trabalho e precisa alimentar os filhos. O clima não favorece o plantio e não há muita indústria, então, as pessoas acabam empreendendo pela necessidade de gerar renda.

COMPLEMENTO

– Em Joinville, as mulheres de baixa renda empreendem mais na área de alimentação. Nossa região é de pleno emprego. O empreendedorismo acaba sendo uma segunda alternativa.

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MATURIDADE

– Na região Sul, a jovem está na indústria. A mulher que recebe apoio do Consulado tem mais de 40 anos, muitas vezes já criou os filhos, terminou um casamento ou está sem companheiro, não tem aposentadoria e não se encaixa no mercado de trabalho porque não tem disposição física para trabalhar na linha de produção ou porque não tem a formação necessária. Então, ela busca o empreendedorismo como alternativa para gerar renda.

PESQUISA

O que facilita o empreendedorismo é fazer uma boa pesquisa. Empreender sem estudar o mercado, sem entender o que está ao redor e o que já existe naquele empreendimento é um erro grave. Outro fator importante é buscar informação e capacitação sempre, para que o produto seja diferenciado no mercado. Se fizer mais do mesmo, a competitividade será maior e o nível de dificuldade de se manter e crescer será maior ainda.

PATRIMÔNIO

– Um erro comum é quando o negócio começa a dar dinheiro e a pessoa aumenta o patrimônio. Conhecemos muitos casos em que a empresa faliu, mas o empresário está com carro zero, trocou de casa e fica devendo para os empregados.

– Os primeiros anos são de trabalho duro e deve-se reinvestir no próprio negócio, assumindo riscos calculados. Se quero comprar uma máquina de costura, devo verificar em quanto essa máquina vai aumentar a produção, e se isto será suficiente para pagar o financiamento da máquina. Às vezes, faz-se um investimento de ampliação, mas não há perspectiva de aumentar a clientela e as vendas, então a ampliação passa a ser um problema.

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– As decisões de negócio não podem ser embasadas na fantasia. Devem ser embasadas na pesquisa e na certeza de que vai dar certo.

CRITÉRIOS

– A premissa para receber apoio do Consulado da Mulher é ser um grupo de trabalho que se forme na comunidade. Não assessoramos individualmente. O grupo precisa ter finalidade de geração de renda, especialmente na área de alimentação, onde há uma vocação natural na região. Oferecemos assessoria e orientação, mas o grupo precisa ter claro qual vai ser o negócio, que habilidade possui, mesmo que precise de algum reforço de capacitação.

DISCIPLINA

– Quando abrem um negócio, as pessoas acham que vão trabalhar pouco e ganhar muito, e não é assim. A empreendedora vai trabalhar muito e receber pouco até que o negócio se estabeleça. É preciso disposição e disciplina para fazer o registro de toda a movimentação da empresa.

– O controle financeiro apurado é a coisa mais difícil com que a gente lida. Se você não tem histórico dos dados, quanto você vendeu no mês passado e no mês anterior, não consegue estudar a empresa e saber se está dando lucro. Também orientamos a ter um fundo de reserva, uma economia para os períodos mais difíceis.

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TRABALHO COLETIVO

– Sempre estimulamos o trabalho coletivo, até na hora de fazer as compras, para conseguir maior volume e um preço melhor. E sempre orientamos que trabalhem em grupo para explorar talentos e habilidades.

RESULTADOS

– Nosso trabalho é medido pela riqueza gerada para a comunidade a partir do investimento feito. A Whirlpool investe cerca de R$ 3,5 milhões por ano no Consulado da Mulher, e prestamos contas sobre quantas pessoas beneficiamos, que são em média 1,5 mil a cada ano. Em 2013, o faturamento dos empreendimentos assessorados foi perto de R$ 7 milhões.

– Cada R$ 1 que a companhia investe em ação social reverte em pelo menos R$ 2 de riqueza para a comunidade. Como a empresa doa recursos, muitas vezes eletrodomésticos que são usados como meio de produção, mais o conhecimento da assessoria, esse dinheiro se multiplica.

– No próximo ano, teremos novos empreendimentos e terminará o ciclo de assessoria de alguns, que dura em média dois anos. Só que o negócio continua gerando renda.

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