Empresas inovadoras e de alto crescimento lideradas por mulheres têm mais facilidade em atrair e reter talentos do que as lideradas por homens, item considerado o maior entrave de qualquer empreendedor. Enquanto 57,7% dos homens declararam ter dificuldades na área de recursos humanos ou no processo produtivo, este porcentual cai para 34,6% entre as mulheres. O levantamento aponta, ainda, que elas trazem mais inovação ao setor de serviços, área que já responde por 60% do PIB do país e apresenta maior potencial de crescimento.

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Estas e outras conclusões fazem parte de uma pesquisa conduzida pela ONG Endeavor com empreendedores inovadores de ambos os sexos, considerados exemplos a serem seguidos por outros empresários. Trata-se da primeira pesquisa no mundo sobre empreendedores inovadores que procura entender as diferenças entre os gêneros. A sondagem integra um estudo mais amplo da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (UNCTAD), financiado pelo governo sueco. Além do Brasil e da Suécia, Suíça, Estados Unidos, Uganda e Jordânia também participam do estudo. Os resultados completos, com comparações entre os seis países, serão divulgados em julho de 2011.

Foram entrevistados empreendedores proprietários de companhias com alto crescimento e faturamento anual entre US$ 10 mil e US$ 10 milhões. Segundo o IBGE, essas empresas são aquelas que apresentam crescimento médio do pessoal ocupado assalariado maior de 20% de maneira sustentada por um período de 3 anos. As companhias têm, pelo menos, 10 funcionários assalariados.

“A escolha por essas empresas não foi aleatória. As empresas de alto crescimento representam apenas 1,7% dos negócios com empregados no Brasil, mas foram responsáveis pela criação de 57,4% dos empregos gerados entre 2005 e 2008, totalizando 2,9 milhões de novos postos de trabalho. É muito importante entender melhor como estes empreendedores alcançam este nível de sucesso para multiplicá-lo pelo Brasil”, diz Juliano Seabra, diretor de Educação, Pesquisa e Cultura da Endeavor.

Inovação em serviços

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A pesquisa aponta ainda que, enquanto os homens se concentram em áreas mais tradicionais, como a indústria, e inovam principalmente na criação de produtos – o que gera níveis mais elevados de registro de patentes entre as empresas lideradas por eles -, as mulheres inovam no processo produtivo, assim como na implementação de novas técnicas de marketing, recursos humanos e integração da equipe. Consequentemente, suas inovações são menos visíveis, o que faz com que elas tenham mais dificuldade em obter financiamento privado e público. Segundo a pesquisa, 38,5% dos homens entrevistados obtiveram algum tipo de financiamento governamental para suas inovações, enquanto somente 19,2% das mulheres conquistaram o mesmo.

“É preciso que as instituições de fomento aprendam a lidar com o jeito diferente de fazer negócios das mulheres. Afinal, um levantamento recente do Global Entrepreneurship Monitor mostrou que 51% dos empreendedores brasileiros são do sexo feminino”, diz Amisha Miller, gerente de pesquisa da ONG. “Além disso, o IBGE aponta que o setor de serviços é o maior gerador de empregos formais do país. Em uma área em que as mulheres mais inovam, é natural esperar que elas tenham um potencial ainda maior de crescer rapidamente”, complementa.

Obstáculos sociais

As mulheres começam seus negócios com uma rede menor de contatos, o que diminui as oportunidades de interação com outros empresários e instituições de fomento e financiamento. Isso acontece principalmente porque as mulheres tendem a ter menos sócios – apenas 26% das empreendedoras tem 3 ou mais sócios, metade do índice encontrado entre homens. De acordo com Amisha, “ao contrário dos homens, que veem na abertura da empresa um objetivo e buscam sócios para atingi-lo, as mulheres se tornam empreendedoras mais “por acaso”, como consequência de sugestões recebidas ou expertise na área de atuação”

Algumas das entrevistadas se sentem discriminadas por bancos, governos e financiadores, em grau bem maior que os participantes homens. “Se eu fosse homem, talvez tivesse sido mais fácil me posicionar frente a instituições”, diz uma das mulheres ouvidas. Outra queixa feminina é a discriminação pela idade, reclamação ausente entre os homens, mesmo entre os que começaram quando jovens. “Muitos clientes não acreditavam que eu era a empresária, por causa da minha idade. Eles achavam que eu era representante de vendas”, diz outra entrevistada.

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São muitas as diferenças, mas também há semelhanças. O percentual de homens e mulheres que acham, por exemplo, que a família é mais importante que o trabalho, é de 40% para cada sexo. Este comportamento é mais comum após o casamento, entre ambos os sexos. Homens e mulheres empreendedores também valorizam igualmente o crescimento de suas empresas, preferindo expandi-la geograficamente a diversificar os setores de atuação. Ambos obtêm informações de fontes variadas e valorizam a retenção de talentos.

A pesquisa

A Endeavor entrevistou 52 empreendedores entre setembro e novembro de 2010, sendo 26 homens e 26 mulheres, proprietários de companhias com alto crescimento. O levantamento teve como objetivo entender um segmento especifico da população formado pelos os empreendedores inovadores e entender como estas pessoas são bem-sucedidas e podem compartilhar suas lições com outros empreendedores.