Mariana Goulart estava aflita após acompanhar a situação das chuvas históricas do Rio Grande do Sul. Assim como milhares de brasileiros, a designer de moda pensava em maneiras de como ajudar o povo gaúcho em meio a uma situação de catástrofe que já acumula 169 mortes até sexta-feira (31). Foi quando, em um domingo à noite, ela olhou para máquina de costura e se lembrou que poderia fazer a diferença com a produção de roupas para bebês vítimas das chuvas.
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Assim como Mariana, outras mulheres de Santa Catarina se uniram para auxiliar os afetados pelas enchentes históricas do Rio Grande do Sul em um laço de solidariedade. O trabalho das catarinenses está presente desde a confecção de roupas e peças íntimas ao voluntariado na área da saúde para ajudar aqueles que precisam de cuidados.
No caso da designer, a ideia foi compartilhada com mais dez estudantes de Moda do Centro Universitário Estácio, localizado em São José, na Grande Florianópolis. No local, os alunos embarcaram na missão de acudir os recém nascidos do Rio Grande do Sul.
— No domingo, chamei várias alunas no WhatsApp, nos grupos que nós temos das disciplinas, e perguntei se alguém seria parceira na empreitada. Quase todo mundo aceitou. Montamos uma escala de quem podia ajudar, recolhemos o que a gente tinha de material em casa e na segunda-feira nos reunimos — disse.
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Apesar de morar em Santa Catarina, Mariana é gaúcha e tem família em Porto Alegre. Ela contou com o auxílio dos primos para saber as principais necessidades dos abrigos da região.
— O frio foi se aproximando e teriam muitas crianças sem roupas e com a necessidade também de novas peças mais quentes. Nós fizemos, inclusive, uma vaquinha interna e compramos tecido para fazer manta e começamos a fabricar essas peças — conta a designer.
Foco são crianças até 2 anos
As voluntárias produzem roupas para recém nascidos e crianças de até 2 anos. O foco, segundo Mariana, é por conta do molde, quantidade de tecido utilizado e a praticidade na produção.
— Nós notamos que tem a funcionalidade de ser um molde menor, então algumas alunas já estavam produzindo umas peças, já tinham os moldes. Nós desenvolvemos mais alguns e por ser uma peça menor e mais fácil de confeccionar, seria mais rápido também — conta.
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Gisa Lüdtke, aluna da universidade, nunca tinha trabalhado com costura para roupas de bebê. Entretanto, mesmo sendo a primeira vez confeccionando esse tipo de peça, ela acredita que a ajuda para o estado gaúcho é mais importante do que nunca.
— Acho que todo mundo que está em casa se sente um pouco agoniado vendo tudo isso que está acontecendo e a gente sempre procura maneiras que possamos ajudar — fala a aluna.
Diferente de Gisa, Ana Priscila Padilha é acostumada com a confecção de roupas menores. Dona de uma loja de roupas para crianças, ela é uma das alunas que ajudam no projeto.
— É algo que não é remunerado financeiramente, mas remunera no nosso interior, na nossa alma. Fazer algo pra alguém que a gente não conhece, mas que a gente sabe das necessidades e de tudo o que vem passando — fala.
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Conforto em primeiro lugar
As roupas produzidas pelo grupo de alunas são enviadas assim que ficam prontas. Segundo Mariana Goulart, as doações são mandadas para os primos que estão no Rio Grande do Sul, que entregam aos abrigos de Porto Alegre.
— O combinado é no mínimo uma vez por semana a gente enviar o que está pronto — explica.
Além das roupas, conforto é o que a designer espera entregar para as famílias e crianças atingidas pelas enchentes. Para as alunas, tem sido uma oportunidade poder ajudar com o conhecimento e mão de obra.
— É um momento difícil. Pra gente tem sido uma oportunidade de poder ajudar. Então, no pouco tempo que algumas têm, qualquer forma de ajudar está sendo importante. A mão de obra é o que a gente tem e pode entregar mais rápido — fala
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Doações de peças íntimas
Assim como as voluntárias da universidade, as alunas da Escola Profissional de São José, na Grande Florianópolis, também utilizam da mão de obra para ajudar as vítimas do Rio Grande do Sul. No local, o auxílio é através da confecção de peças íntimas.
Andréa Tenconi é uma das professoras de Corte e Costura da escola e responsável por coordenar a produção. Segundo ela, muitos alunos possuem familiares no estado gaúcho e, por isso, surgiu a ideia de ajudar.
— A gente resolveu fazer calcinhas infantis no início. Depois, peças adultas. Vi muita doação de calça e blusa, mas a roupa íntima é muito difícil de doar porque não tem que ser uma coisa nova, não pode ser uma coisa velha — explica a professora.
A partir do momento que a ideia surgiu, todas as alunas abraçaram a iniciativa, explica Andréia. Agora, além das peças íntimas, o grupo também produz pantufas e roupões para que os afetados pelas chuvas se protejam do frio.
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Conforme a professora, parte do material usado para a produção das peças vem de doações do comércio. Além disso, as alunas também levam tecidos para as confecções.
— Tem muitas alunas que já tem a sua confecção e que já tem a sua loja. Então, elas têm material de sobra — diz.
O sentimento que fica para a professora e as alunas é o de empatia.
— A gente tem que ajudar o próximo, isso faz bem para a gente e faz bem pra eles. Lá na ponta a gente vê tanto sofrimento. Isso aqui é um carinho que vai ali e um pedacinho da gente que está lá — conta.
A Escola Profissional de São José não é o único local do Estado onde mulheres atuam na produção de roupas íntimas para as vítimas das enchentes. Em Chapecó, no Oeste de Santa Catarina, a empresária Marly Fávero, dona de uma loja de tecidos da região, criou uma espécie de linha de produção, onde cada voluntária tem uma função na confecção de calcinhas para as irmãs gaúchas.
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— Nós percebemos a necessidade de roupa íntima porque, como trabalhamos com assistência social, a gente percebe que as pessoas não costumam doar esse tipo de peça. Eu convoquei as costureiras e alunas do curso de corte e costura e nos mobilizamos — conta.
As peças íntimas são confeccionadas em tecido de algodão e em todos os tamanhos. Silvana Dal Bosco é uma das alunas de corte e costura e voluntária do projeto. Segundo ela, o curso acontece duas vezes por semana, mas após as chuvas do Rio Grande do Sul, o encontro passou a ser mais frequente para dar conta da produção das peças.
— A peça íntima é uma coisa muito particular. Foi por isso que optamos por ela. É algo que é importante ser novo — fala.
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Além do grupo de alunas de corte e costura, outras mulheres de Chapecó também se uniram em solidariedade às irmãs gaúchas. Como é o caso da empresária Cinara Kasper Machado, que está arrecadando doações de absorventes. Os itens são enviados junto com calcinhas para a cidade de Roca Salles, município gaúcho.
— A ideia surgiu quando a gente percebeu que a roupa íntima era uma coisa que não ia tanto nas doações e as mulheres têm necessidade desse produto novo — relata.
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