Nove mulheres ligadas ao alto comando da facção Primeiro Grupo Catarinense (PGC), que age dentro e fora das prisões, são o principal alvo da Operação Íris desencadeada nesta terça-feira em Santa Catarina e Rio Grande do Norte (RN). Elas são suspeitas de agir como mensageiras no elo de comunicação montado com os líderes do bando que estão na penitenciária federal de Mossoró (RN) e os comparsas no Estado.

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A ação é resultado de inquérito da Diretoria Estadual de Investigações Criminais (Deic) em Florianópolis, que obteve 15 ordens de prisões preventivas decretadas pela Justiça. Ao menos 12 pessoas foram presas, sendo duas em Mossoró, que são Daiane Cristina da Mota, 29 anos e Rosimeire Bueno de Andrade, 37 anos, ambas apresentadas à imprensa nesta terça pela Polícia Civil do Rio Grande do Norte, que apoiou os policiais civis catarinenses.

Três policiais da Deic viajaram a Mossoró, distante 3.468 quilômetros de Florianópolis, para cumprir as prisões, sendo um deles o delegado Osnei de Oliveira, recentemente integrado à Divisão de Repressão ao Crime Organizado (Draco).

Daiane é mulher do traficante Roberto Tavares Onofre, o Betinho da Favela, e já havia sido presa outras quatro vezes nos últimos anos. Ela seria contabilista do tráfico e remetente de informações do preso para comparsas soltos, conforme a polícia. Em SC, os presos não tiveram os nomes divulgados pela Polícia Civil. A reportagem não conseguiu contatar a defesa de Daiane e Rosimeire.

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A polícia ampliou a investigação após a apreensão de cartões e chips embaixo de um colchão no Presídio Feminino de Florianópolis. A suspeita é que as mulheres passaram a se envolver diretamente com o PGC desde 2013, quando cerca de 40 líderes foram transferidos para a penitenciária federal por ordenar atentados nas ruas do Estado. Hoje, 30 criminosos considerados do alto comando da quadrilha seguem em cadeias federais.

Em Mossoró, as mulheres contavam com imóveis bancados pela facção que servia como espécie de casas de apoio aos parentes dos detentos. São investigados crimes como organização criminosa, tráfico de drogas e crimes contra o patrimônio. A difusão das informações se dava pela internet em redes sociais, bilhetes e cartas.

O promotor Wilson Paulo Mendonça Neto afirmou que a operação visa a enfraquecer o crime organizado em SC e quebrar o elo de comunicação com as lideranças da facção, além de desestruturar economicamente os criminosos. Na mitologia grega, Íris (o nome que batizou a operação) era a mensageira dos deuses.

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“Imóvel mantido pela facção”

O delegado Osnei de Oliveira, da Deic e mais dois policiais civis catarinenses viajaram a Mossoró, no Rio Grande do Norte, para cumprir os mandados de prisão da Operação Íris. Por telefone, ele conversou com o DC:

Como foi a operação em Mossoró?

Aqui tivemos três prisões, duas buscas e uma condução coercitiva. São duas mulheres presas e um homem que já estava preso no presídio federal.

Qual o nível de envolvimento deles?

Um que já estava preso é um dos principais líderes da facção (cumpre condenação) e a esposa dele e a outra mulher eram responsáveis por difundir as mensagens e as ordens para cometimento de crimes.

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Havia uma casa como “QG” deles em Mossoró?

Isso, eles têm um imóvel aqui mantido pela facção num bairro de classe média.

Seria uma casa com piscina?

Na outra que eles estavam anteriormente, sim.

Há indícios que elas levavam informações criminosas para a facção?

Temos provas cabais a respeito disso, tanto é que foram deferidas as preventivas. Basicamente por tráfico de drogas e ações relacionadas a facções.

Qual a importância em atacar o elo dos criminosos com SC?

Exige trabalho constante. Se não tivesse certamente teríamos inúmeras situações relacionadas a práticas de crimes como ocorreu anteriormente. A própria manutenção deles no sistema penitenciário federal, tem um rigor maior na segurança, isso faz com que eles tenham que se expor na hora de fazer esse fluxo de informações.

Essas mulheres de SC viajavam constantemente a Mossoró?

Elas são de Florianópolis e estavam ficando nessa residência locada pela facção e eventualmente viajavam para SC.

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E as despesas dessas locomoções?

Basicamente dinheiro da facção, do crime, oriundo do dízimo e de crimes praticados. Estavam praticando a conduta típica de integrar organização criminosa.

O leva e traz criminoso

Elo

Mulheres da Grande Florianópolis eram o elo com detentos catarinenses líderes do PGC que estão na Penitenciária Federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte.

Decisões

Levavam e traziam informações dos criminosos a comparsas que estão em SC e também consultavam os líderes sobre tomada de decisões e pagamentos.

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Internet

A polícia obteve conversas entre elas pelo Facebook onde há suspeitas de negociações e apoio aos criminosos em delitos como tráfico de drogas e crimes contra o patrimônio (assaltos), além do temor às instituições públicas.

Organograma

Em Mossoró, os líderes também eram informados sobre a atual composição do PGC, o organograma e o tráfico de drogas em Florianópolis, assim como o fluxo financeiro.

Conta bancária

Uma das mulheres teve conta bancária usada pelo grupo, onde cuidava do dinheiro para as despesas delas em Mossoró.

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Prisões

Há movimentações suspeitas delas no Presídio Feminino, onde foram apreendidos chips e cartões, presídio Santa Augusta em Criciúma, Penitenciária de São Pedro de Alcântara e presídio de Itajaí.

Segurança máxima

Desde 2013, criminosos integrantes dos chamados 1º e 2º ministério da facção Primeiro Grupo Catarinense (PGC) estão na Penitenciária Federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte.

Na época, cumpriam o Regime Disciplinar Diferenciado (RDD) por envolvimento em duas ondas de violência nas ruas de SC, como atentados a ônibus e a prédios policiais.

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Entre os detentos chefes do bando há acusados de mandar matar a agente penitenciária Deise Alves, em São José, em 2012, que ainda não foram julgados pelo assassinato.