As mudanças na dinâmica familiar forçadas pela pandemia do coronavírus afetaram especialmente a rotina das mulheres dentro de casa. A afirmação vem de uma pesquisa divulgada pelo Núcleo de Pesquisa Interdisciplinar Sociedade, Família e Política Social (Nisfaps) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Conforme o estudo, o acúmulo de tarefas domésticas e o apoio às crianças estudando em casa pesou mais nas costas das mulheres.

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A pesquisa mostra que o tempo gasto com atividades domésticas como cozinhar e limpar a casa aumentou para todos, aparecendo na rotina de sete entre cada dez homens das famílias pesquisadas. No entanto, para as mulheres o índice é de nove entre dez. Somente 36% dos homens disseram que lavam e passam as roupas em casa, contra 74% das mulheres.

Contando que cerca de 60% dos entrevistados disseram que passaram os primeiros meses da pandemia trabalhando remotamente, a pesquisa conclui que grande parte das mulheres precisaram dividir o tempo entre o trabalho formal e os afazeres domésticos, nem sempre com o apoio dos companheiros.

A diferença aparece também no cuidado com os filhos em casa. Três em cada dez mulheres disseram que ajudam os filhos a estudar em casa, contra dois em cada dez homens.

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“Proporcionalmente os homens se envolveram menos com o trabalho doméstico e mais com o trabalho remoto remunerado, isso indica que alguma pessoa do sexo feminino realizou o trabalho de cuidados com a casa e para as pessoas da casa, reiterando a tradicional divisão sexual do trabalho”, aponta o estudo.

Dificuldades para estudar em casa

A pesquisa também analisou as dificuldades encontradas pelas famílias com a educação em casa. Nas casas em que havia alguém estudando remotamente durante a pandemia, o principal problema apontado foi a dificuldade em criar uma rotina de estudos.

Sem o contato diário da escola, os pais também encontraram problemas para ajudar os filhos com o conteúdo das aulas. 11% dos entrevistados disseram que tiveram dificuldades para que os filhos aceitassem as orientações dos pais na ausência dos professores, e 10% apontaram problemas no entendimento dos filhos sobre o conteúdo das aulas online.

“O acompanhamento escolar dos filhos/enteados evidenciou a sobrecarga familiar provocada pela educação não presencial em virtude do isolamento social, alterando rotinas e aumentando a demanda de cuidados dos pais ou responsáveis no espaço doméstico”, destacam as pesquisadoras.

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Impacto na renda

Conforme o levantamento das pesquisadoras da UFSC, a pandemia afetou negativamente a renda de praticamente metade (49%) das famílias catarinenses entrevistadas. Destas, 18% apontaram que foram impactadas e já gastaram todas as reservas financeiras que possuíam. Outras 6% têm reserva para menos de um mês.

A redução da renda familiar foi o segundo item mais apontado pelos entrevistados como uma dificuldade enfrentada durante o isolamento social, atrás apenas das dificuldades emocionais. 55% dos entrevistados disseram que sofreram com problemas emocionais causados pelo isolamento.

Outras dificuldades mapeadas pela pesquisa foram o aumento das atividades domésticas, as dificuldades com filhos e o aumento dos conflitos conjugais.

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Para 81% dos entrevistados, o maior medo com a pandemia é perder familiares para o coronavírus, seguido por transmitir a doença para familiares e, em terceiro lugar no ranking, contrair a covid-19.

Coordenado pelas professoras Liliane Moser e Edilane Bertelli, o estudo teve a participação de oito pesquisadoras da UFSC e duas alunas bolsistas.

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