Ela é velada, mas ainda existe. Os especialistas em mercado pregam repulsa a qualquer tipo de distinção entre homens e mulheres. Mas o fato é que a guerra dos sexos continua. De acordo com uma pesquisa da Universidade de Brasília, de autoria de Amanda Zauli-Fellows, cerca de 95% dos homens e 85% das mulheres ouvidos no estudo concordaram com a ideia de que indivíduos do sexo masculino são mais capazes de exercer a liderança.

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Na opinião dos quase 2 mil entrevistados, a mulher exerce um tipo de liderança voltada para o relacionamento, ou seja, com mais conversa com os funcionários, o que pode lhe dar a imagem de “pulso fraco”. E quando tenta se espelhar na figura masculina, ela torna-se mais rígida, o que gera resistência da equipe.

Por outro lado, a pesquisa revela que 72,3% dos homens não se importariam de serem comandados por uma mulher – o que na prática nem sempre funciona. Pollyanne Basso, 23 anos, que o diga.

– Por ser mulher e com pouca idade, muitos homens não me davam crédito. Mas o relacionamento foi construído com o tempo – diz a gerente de vendas da Rio Cor.

Ela comanda um equipe de 13 vendedores na loja de tintas. Apesar de ser uma chefe jovem, Pollyanne não comete o erro de imitar o comportamento masculino para se manter na liderança.

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– A gente acaba conversando de futebol e usando um pouco da linguagem dos homens. Mas não deixo de lado a minha feminilidade. Não abro mão de passar o batom e usar salto – diz.

Para Rudney Pereira Junior, gerente de projetos do Grupo Foco, a máxima de que as mulheres preferem homens na chefia é coisa do passado.

– Essa questão está muito mais relacionada à competitividade entre as mulheres do que ao estilo de gestão – destaca.

Maria Elisa Moreira, psicóloga organizacional, pondera.

– Não é que a mulher não gosta de ver uma colega na liderança. Todas nós estamos buscando autonomia. Então, é óbvio que o mercado é restrito. Além disso, o homem está há mais tempo no mercado e tem o seu espaço. Estamos aprendendo a lidar com hostilidades. Sem contar que competimos com nós mesmas – explica.

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Empreendedoras

Mas quando o assunto é abrir o próprio negócio, elas estão na frente. Pela primeira vez a proporção de mulheres empreendedoras supera a de homens na mesma condição, segundo pesquisa da Global Entrepreneurship Monitor (GEM) 2009, divulgada em abril pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). Dos 18,8 milhões de empreendedores em estágio inicial ou com menos de 42 meses de existência no Brasil, 53% são mulheres e 47%, homens.

– Pelo que a gente percebe, elas enfrentam muitas barreiras na criação e sustentação do negócio: problemas gerenciais, preconceito e até resistência do marido. Mesmo com as dificuldades, ela chegam lá porque contam características fundamentais ao empreendedor: a persistência e a determinação – explica Adrianne Rocha, gestora do prêmio Mulheres de Negócios Sebrae/DF.

Segundo Adrianne, ao contrário dos homens, as mulheres entram de cabeça quando o assunto é realizar o sonho de ter o próprio negócio, enquanto eles, pensam mais antes de arriscar.

– O planejamento talvez seja a parte que elas menos dominam. O importante é destacar que isso não faz deles empreendedores, nem melhores, nem piores. Cada um aproveita seus atributos na hora de se lançar em um negócio – ressalta.

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É o que defende Luiz Fernando Pereira, professor de fisiologia e Ph.D em bioquímica da Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Para ele, o novo sentido dado à expressão sexo oposto conferido por Susan Pinker não defende que os atributos típicos de um dos gêneros sejam superiores ao do outro.

– Estudar as diferenças comportamentais entre homens e mulheres não acarreta necessariamente discriminação, desde que as generalizações não sejam aplicadas a casos individuais – diz.

Evitar os preconceitos no escritório é o alerta de Maria Elisa Moreira, psicóloga organizacional.

– As empresas que souberem criar ambientes favoráveis para que homens e mulheres aproveitem seus melhores atributos, respeitando as diferenças, contarão com profissionais mais feliz que, consequentemente, produzirão mais.