Forasteira de uma história de amor mal sucedida, Neusa Luca, 45 anos, encontrou abrigo na rodoviária de Joinville, onde mora há mais de um mês. Depois do Carnaval, ela chegou à cidade e fez de uma sala comercial desocupada, no piso superior do Terminal Rodoviário, a sua casa.
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Dorme sobre um pedaço de papelão e come quando tem dinheiro ou recebe doações. Até a última segunda-feira (21), a sua presença no local não havia sido percebida pelos fiscais da rodoviária.
História que lembra o filme O Terminal, no qual o ator Tom Hanks interpreta o turista Viktor Navorski que é obrigado a viver no aeroporto de Nova York por estar sem visto.
Nascida em Mondaí, no extremo-oeste de Santa Catarina, Neusa mudou-se para a cidade de Medianeira (PR) aos nove anos. Aos 15, seus pais decidiram morar no Paraguai. Lá, ela ajudou a família no plantio de arroz, feijão, algodão e melancia. Um ano depois, a família retornou para Navegantes, onde vive até hoje.
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– Eu não volto pra casa. Meu irmão bebe. Já quebrou um cabo de vassoura apertando aqui ó – contou ela, apontando para a própria garganta.
Para o amor de sua vida, Cláudio, ela também não quer voltar. Neusa conheceu o ex-marido aos 16 anos. Apaixonou-se por ele numa brincadeira de criança, pega-pega. Era Cláudio quem corria. Aquela que fosse pega por ele ganhava três beijos. O terceiro foi um selinho na boca de Neusa. Depois do beijo, passaram 18 anos se cumprimentando timidamente, até que Cláudio a convidou para ouvir o CD da Cristina Mel, uma cantora gospel.
– Sempre fui muito religiosa. Nunca namorei.
Decidiram morar juntos. Cláudio já bebia e foi perdendo o controle ao longo dos anos. Tornou-se agressivo e não queria buscar tratamento. Depois de 11 anos de convivência, ela resolveu abandonar o marido. Chegou a Joinville, trabalhou em uma empresa de saneamento básico, capinou terrenos e pintou meios-fios. Mas emprego de carteira assinada ela não consegue. Tudo porque não tem residência fixa.
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O fiscal do Instituto de Trânsito de Joinville (Ittran), Edmundo Timm Júnior, reconhece que vê muitos casos parecidos com o de Neusa todos os dias. Segundo ele, muitos se aproveitam da rotatividade do local para pedir esmolas. Mas Neusa é diferente. Edmundo afirma que ela é “discreta”, tanto que nem tinha percebido que ela morava na rodoviária.
Cláudia Leal, balconista de uma lanchonete da rodoviária, é uma das pessoas que ajuda Neusa. Ela garante que a mulher não é pedinte, não bebe nem usa drogas. Hoje, o fiscal do Ittran promete encaminhar Neusa para uma assistente social e à ONG Porto Seguro pra que ela consiga um lugar pra morar. Quem sabe, desta vez, sua busca chegue ao fim.
– Eu só quero trabalhar, e a rodoviária não é residência fixa para ninguém – diz Neusa.