Mesmo com uma carreira consolidada e o conforto de uma casa em Balneário Camboriú, a catarinense Caroline Eberhardt descobriu que poderia carregar nas próprias costas o necessário para sobreviver. Formada em Fisioterapia, ela decidiu trocar os privilégios da cidade dos arranha-céus por um mochilão pelo Brasil, sozinha e sem um destino final. Para alguns pode até parecer loucura, mas a viajante prova que é possível — se estiver disposto a encarar o imprevisível.

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Aos 30 anos ela deixou para trás a “vida perfeita” e foi em busca de um novo sentido para si. Era dezembro de 2023 quando Caroline se despediu dos pais e embarcou para um mochilão quase que de forma repentina. Isso porque fazia apenas seis meses que a ideia martelava na cabeça da fisioterapeuta desde que, em junho daquele ano, conheceu um viajante em uma passagem pelo Rio de Janeiro.

Ao ver com os próprios olhos uma pessoa que conseguia viver daquela maneira, Caroline passou a pesquisar mais sobre o assunto e a planejar a própria aventura.

— Eu tinha uma vida normal, acordava e ia trabalhar todos os dias. Mas comecei a sentir que não fazia mais sentido para mim. Eu não estava mais feliz com o meu trabalho como sempre fui — conta.

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Caroline durante a viagem (Foto: Arquivo pessoal)

No meio desse processo, a fisioterapeuta descobriu uma plataforma disponível em diferentes países — incluindo o Brasil — que oferece hospedagem em troca de trabalho. Assim, ela não precisaria pagar estadia e teria menos gastos durante a viagem. Parecia viável, pensou. E, hoje, esse é um dos meios usados para o sustento dela.

Com um mochilão de 75 litros e outra bolsa menor para carregar o notebook, Caroline partiu de Balneário Camboriú rumo à costa do país. Em cerca de oito meses, ela já conheceu o Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Bahia — onde está atualmente. Sem qualquer “motorhome” ou meio de transporte próprio, a fisioterapeuta faz os trajetos de ônibus ou com um aplicativo de caronas.

Assim, cada lugar vira a casa temporária dela por aproximadamente quatro semanas. Agora, em Itacaré (BA), ela conta que conseguiu hospedagem ao aceitar fazer o marketing de um hostel no Instagram. A rede social também permite que a catarinense produza os próprios conteúdos sobre a viagem e ganhe dinheiro com isso.

Veja fotos do mochilão pelo Brasil

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Fora das telas, Caroline ainda vende fotos tiradas com uma câmera polaroid e faz auriculoterapia, técnica aprendida no período de fisioterapeuta para tratar dores físicas e emocionais com pontos na orelha. Assim, no dia a dia, ela se divide em trabalhar por cerca de quatro horas e, no restante do tempo, “mergulhar” no universo de cada cultura.

— Tenho uma vida normal. As pessoas pensam que é só bagunça, mas eu também tenho trabalho, os meus compromissos, faço exercício todo dia. Então por mais que eu esteja sempre me mudando, eu tento criar uma rotina porque acho que isso faz parte de viver a cidade — explica.

Enxergando o “mundo real”

Sozinha, Caroline caminha pelas ruas disposta a ir além dos pontos turísticos que visita. Nos lugares, ela vai a mercados e acompanha a rotina dos moradores de cada região. Para a catarinense, ter contato com diferentes culturas vem transformando ela em um ser humano melhor ao mesmo tempo em que também escancara a dura realidade vivida por muitos brasileiros.

— A consciência social é uma coisa que me atravessa o tempo inteiro. Ainda mais eu, que vim de uma cidade em que é difícil ver algum resquício de pobreza. Então eu tenho passado por lugares em que a pobreza e a riqueza estão juntas, não há muita separação. Não é como era na minha cidade. E aprendemos a dar atenção a isso, a ver que tem gente que não está ali porque quer, pedindo dinheiro ou comida. Mas porque precisa. Agora eu vejo o quanto o nosso Brasil é desigual — conta.

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A coragem para ver de perto o “mundo real” ela teve desde o momento em que saiu de casa, na verdade. Enquanto a fisioterapeuta esbanjava confiança com o novo desafio, os pais da aventureira temiam pelo o que ela encontraria pelo caminho.

Aos 30 anos, ela confessa viver um processo de autodescoberta com o mochilão (Foto: Arquivo pessoal)

Mesmo assim, Caroline partiu com a certeza de que, caso precisasse voltar para a cidade de origem, a família estaria lhe esperando de braços abertos. Um apoio e privilégio que, desde início, fizeram toda a diferença na trajetória dela.

— É que a gente é acostumado a ter uma vida normal, seguir aquela carreira, aquela formação que sonhamos. Então para eles foi um baque muito grande. Eu lembro de eu saindo de casa, me despedindo, e eles chorando, assustados, com medo. Mas entenderam que eu estava fazendo aquilo por mim — diz.

Aventura sem linha de chegada

Desapegada a roteiros e situações pré-definidas, a fisioterapeuta também não sabe até onde essa aventura vai levá-la. Sem uma linha de chegada ou destino final, Caroline pretende seguir viagem até o momento em que o corpo aguentar, como ela mesma diz.

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Para o futuro, almeja melhores condições financeiras para ter maior conforto durante as estadias, já que, ao sair de Balneário Camboriú, a catarinense teve de abdicar da privacidade. Para além das perdas materiais, ela ainda precisou aprender a se acolher quando não encontrasse mais ninguém por perto e ser a própria fortaleza nos momentos de angústia.

Registro feito por Caroline durante o mochilão (Foto: Arquivo pessoal)

Mesmo assim, diante de tantos medos e incertezas, ela não se arrepende de nenhum passo até aqui.

— Eu faço para que mais pessoas conheçam e saibam que dá para viajar, porque a gente sempre pensa que é impossível. Eu achava que não tinha como, sem meu trabalho. E hoje em dia eu dou conta de fazer tudo e ainda conheço muitos lugares, culturas diferentes. Sinto que agora estou no meu verdadeiro caminho. Estou muito mais leve, mais feliz com a minha vida, com o meu trabalho. Acho que as coisas pesam menos quando você realmente se descobre — revela.

*Sob supervisão de Augusto Ittner

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