Pelo terceiro ano seguido e também no mês de maio, a professora aposentada Rosa Maria Aguiar, de 46 anos, solteira e sem filhos, é surpreendida com o abandono de um recém-nascido na varanda da casa onde vive, na localidade de Santiago, interior de Laguna, no Sul do Estado. No dia 5, uma criança do sexo feminino ainda com o cordão umbilical e enrolada em uma velha blusa de lã foi deixada na porta da residência. A menina está em um abrigo e será encaminhada para a adoção.
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A misteriosa sequência de abandonos sempre no mesmo lugar começou em 2010. Numa quinta-feira, por volta das 14h30min, um homem foi visto por vizinhos deixando uma sacola na varanda da casa. Quando ela chegou em casa levou um susto ao ver o que havia dentro.
– Era uma sacola de compras do Paraguai e tinha um menino – recorda.
O bebê foi encaminhado para adoção e já está num novo lar.
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No ano passado, a professora aposentada, que mantém em casa um pequeno escritório para ajudar na distribuição de correspondências da posto dos Correios, lembrava da chegada do “aniversário” do abandono do menino quando no dia 30 de maio um outro bebê apareceu. Era uma menina, mas que por coincidência se tornou um membro da família Aguiar.
Ela foi adotada por uma sobrinha de Rosa, que estava na fila de adoção aguardano um bebê.
Dois recém-nascidos abandonados na mesma casa e sempre no mês de maio fizeram com que dona Rosinha e a vizinhança ficassem ainda mais surpresas.
O que já era curioso se tornou um mistério quando no dia 5 deste mês mais um recém-nascido foi abandonado na mesma varanda.
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– Aqui funciona o postinho dos Correios e agora também o “posto da cegonha” – brinca a aposentada.
A menina abandonada está no abrigo Casa Lar e o Ministério Público já iniciou os procedimentos para um possível processo de adoção. Um circunstância curiosa é que junto dos três bebês havia um objeto religioso: o primeiro estava com uma fita de pulso do Senhor Bom Jesus dos Passos, o segundo um rosário e o terceiro um escapulário.
Rosa não tem filhos e nunca se casou. Adotar uma criança chegou a ser considerado há cerca de 15 anos.
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– Mas não podia porque cuidava da minha mãe que era muito doente.
Hoje, a convivência com vários sobrinhos, dos quais cinco são afilhados, ajuda a superar o passado.
– Existem outras maneiras de preencher esse vazio de nunca não ter sido mãe. Tenho meus catequizandos, vários sobrinhos e dois afilhados.
Uma delas ficou na família
A criança que foi deixada na porta de dona Rosinha ano passado não ficou muito tempo sem um lar: acabou adotada pela sobrinha Edna de Souza Santos, uma professora de 48 anos.
Edna e o marido Jucemar dos Santos, 49, pensaram em adotar uma menina quando o filho Murilo, hoje com 24 anos, sofreu um grave acidente de moto aos 17 anos. O rapaz teve 18 fraturas, mas conseguiu sobreviver e se recuperar. Eles também são pais de Marcos, 17.
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– Aí pensamos como a vida é tão pequena e decidimos que poderíamos ter uma menina – conta Edna.
O casal estava inscrito no cadastro de adoção há três anos quando dona Rosinha acolheu a menina abandonada e a encaminhou ao Conselho Tutelar. Naquele dia foram ao Fórum para saber da possibilidade de ficar com o bebê e tiveram a surpresa.
– Havia somente um casal na nossa frente na lista de espera e que estava se separando. Aí conseguimos a adoção da menina – recorda Edna.
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Como Edna e Jucemar são muito religiosos e devotos de Maria, mãe de Jesus, e Madre Paulina, decidiram escolher o nome da filha de Maria Paula. O dia de nascimento ficou registrado como 29 de maio e o batizado do mais novo membro da família aconteceu pouco depois, no dia em que os pais comemoraram 25 anos de casados.
– A gente ficou se perguntando se iríamos amar essa filha como os outros meninos. Pois a amamos ainda mais do que eles – garante a professora, com o aval do marido.
Delegado diz que não foi coincidência
O delegado José David Machado, da Polícia Civil de Laguna, é o responsável pela investigação do caso de abandono. Ao saber que o episódio ocorrera novamente na localidade de Santiago, ele chegou a duvidar que pudesse ser na mesma casa dos anos anteriores. Quando teve a confirmação do endereço, chegou a uma conclusão:
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– Não tem como ser coincidência, os autores dos abandonos com certeza são as mesma pessoas.
Os abandonos de 2010 e 2011 nunca foram esclarecidos. Nos casos passados, os investigadores analisaram todos os Programas de Saúde da Família (PSF) de toda a região e não havia registro de gestações suspeitas ou sumiço do bebê.
Para o delegado Machado, o intervalo de um ano entre os abandonos sugere que há possibilidade da mesma mulher ser a mãe das crianças. Entre os integrantes da família Aguiar, muita gente concorda que os bebês são muito parecidos.
– Investigamos toda a região, mas pode ser alguém de um município vizinho. Uma possibilidade é de que a gestante seja de alguma casa de prostituição – explica.
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Na vizinhança a suspeita é de que os nascimentos tenham ocorrido com a ajuda de alguma parteira.
– Não sei como uma mãe tem coragem de abandonar um filho assim, correndo o risco dele morrer de frio na madrugada – lamenta uma mulher que trabalha na vizinhança.
Campanha Laços de Amor
A Campanha “Adoção – Laços de Amor “, que foi realizada no ano passado no Estado, será relançada dia 25. É promovida em Santa Catarina pela Assembleia Legislativa, Ministério Público, Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e Tribunal de Justiça.
A campanha estimula a adoção tardia (de criança com mais idade), múltipla (grupos de irmãos) e, também, de crianças deficientes.
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Na mídia e no portal da campanha, www.portaladocao.com.br serão apresentadas histórias reais e de sucesso sobre adoção tardia, de irmãos e de crianças com necessidades especiais.