Selma Rapschinski, 32 anos, assassinada pelo ex-companheiro na última sexta-feira, dentro do apartamento onde morava sozinha com o filho, no bairro Serrinha, em Florianópolis, era vítima de violência doméstica há cerca de quatro anos. Quando mudou-se para Santa Catarina, Selma que é natural do Paraná e morava em Londrina, disse à família que pretendia fugir do marido, Leandro Magalhães Maciel, 34 anos. Mas ele acabou viajando junto com ela.
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A irmão da vítima, Angelita Rapschinski, acredita que Selma tentou salvar o relacionamento diversas vezes, pois gostava dele. Além disso, Maciel era pai do filho dela, um menino de seis anos. Aparentemente, os dois viveram bem no início deste ano, quando chegaram a Florianópolis. Só que nos últimos três meses, os problemas recomeçaram. A família temia pela vida da cabeleireira e chegou a fazer alerta de preocupação. Porém, Selma tinha esperança que o companheiro, que trabalhava como motorista, mudasse o comportamento. Ela chegou a procurar ajuda numa igreja. O último pedido de socorro, pouco antes da morte, foi feito a um pastor de Londrina. Ela avisou que Maciel estava armado e pediu oração por whatsapp.
— Ela disse (ao pastor) que ele (Maciel) estava muito alterado. O pastor pediu para ela sair do apartamento. Ela chegou a orar com o pastor, conversou e pediu para que ele não contasse à família o que estava acontecendo. Ela tinha esperança que ele pudesse se acalmar — contou Angelita.
Maciel não se acalmou e fez dois disparos de arma de fogo contra ela. Depois, tirou a própria vida com um tiro na cabeça. O crime ocorreu por volta de 14h, na última sexta-feira, logo após o filho do casal embarcar na Van à caminho da escola. Ela estaria há dois dias presa dentro de casa.
— O meu sobrinho contou que ela estava chorando muito na sexta-feira. O síndico também disse que ela estava bem abatida. A Selma se despediu do menino quando ele embarcou na Van — lamentou a irmã.
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A família de Selma está cuidando do filho do casal. Eles ainda não contaram detalhes do que aconteceu para o menino. Mas, quando revelaram a morte da mãe, a criança já sentiu que o pai também não estava mais entre eles.
— Ele disse: ‘Tia, a minha mãe morreu’, e me deu um abraço apertado. Depois, completou: ‘E o meu pai também morreu, né’.
A Polícia Civil do Paraná confirmou que Selma já havia registrado um boletim de ocorrência em agosto do ano passado. Na época, ela havia conseguido medida protetiva. Segundo a irmã, Maciel teria sido preso por descumprimento da medida. No registro da ocorrência, diz que ele tentou sufocá-la com um pano e fez ameaças de morte.
Selma não conseguiu sair do ciclo de violência doméstica que vivia com o companheiro por conta própria, em meio a agressões e reconciliações. O Estado, também não conseguiu impedir que ela fosse morta. O filho não teria presenciado as agressões, mas percebeu que a mãe não estava bem. Na semana em que foi morta, a mulher não apareceu no trabalho. No condomínio onde morava, saiu apenas para levar o filho na Van da escola. Colegas do trabalho a procuraram na manhã de sexta-feira. Ela teria dito sem abrir a porta que estava tudo bem.
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O delegado Ênio de Oliveira Matos, da Delegacia de Homicídios da Capital, é o responsável pela investigação na Capital. O caso é tratado como feminicídio, uma vez que a mulher foi morta pelo companheiro dentro do contexto de violência doméstica. Como o feminicídio é uma qualificadora do crime de homicídio, caso estivesse vivo, o agressor teria a pena de prisão aumentada. Até o início da tarde, o delegado não havia confirmado quais testemunhas seriam ouvidas no inquérito policial.
Segundo o delegado, Maciel enviou uma mensagem para a mãe antes de matar a mulher dizendo que “resolveria o problema”. Preocupada, a mãe dele veio até Florianópolis, mas não chegou a tempo de tentar salvar a vida deles. Após os disparos, quando os dois já estavam mortos, vizinhos acionaram a polícia.
A mãe de Maciel disse à polícia que o casal tinha um relacionamento difícil, mas que havia reatado. Já a irmã de Selma afirma que os dois estavam separados. Segundo Angelita, ela, os outros cinco irmãos e a mãe estão muito abalados com a morte dela.
— A família está arrasada, estamos todos em farrapos. Um dos irmãos nem conseguiu entrar no velório.
Em seu perfil no Facebook, Selma costumava postar fotos e vídeos com o filho. Em uma das últimas publicações, ela ensina o filho a preparar um bolo. Ela também contemplava o carinho que recebia das clientes que atendia no salão de beleza onde trabalhava.
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Em uma postagem no início deste mês, publicou uma foto com o filho e amigas. A imagem foi legendada com as hashtags “hoje deu sol” e “hoje deu piquenique”. O registro foi feito no parque do Córrego Grande, na Capital.