Marisa Teófilo de Oliveira, 25, esfaqueada pelo companheiro em Gaspar, teve de esperar cerca de 24 horas para ser levada a um hospital de Blumenau, pois o que ela estava não possuía leito de UTI disponível. Marisa faleceu horas depois da transferência, ainda no sábado (5). A agressão ocorreu na quinta-feira (3) e até o pedido de socorro foi difícil, conforme apurou a Polícia Civil.

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Marisa mantinha o relacionamento há menos de dez meses com o principal suspeito do crime. Na noite de quarta-feira (2) estava com ele em casa, no bairro Santa Terezinha, quando as discussões começaram. Depois da meia-noite e alguns gritos, o homem pulou o muro e bateu à porta do vizinho, pedindo socorro porque a mulher havia sido esfaqueada. Com medo, o vizinho não atendeu. O mesmo aconteceu em uma segunda tentativa, em outro imóvel.

No terceiro, um casal saía para trabalhar de carro quando foi abordado por Marisa, ensanguentada, e o parceiro dela. Eles aceitaram a ajudar e, depois que Marisa entrou no automóvel, o suspeito sumiu. Foi neste momento que ela revelou que o autor das agressões era ele. Todo o relato foi dito pelas testemunhas em depoimento ao delegado Bruno Fernando, que pediu e conseguiu autorização judicial para prender o homem preventivamente.

Naquela madrugada, chegando ao Hospital Perpétuo Socorro, Marisa recebeu os primeiros atendimentos e, apesar de ter perdido muito sangue (foram ao menos quatro golpes) e ter passado por cirurgia, estava evoluindo de maneira estável, conforme informações repassadas pela assessoria da instituição.

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Porém, houve uma piora no quadro clínico e a equipe solicitou, via Sistema de Regulação do Estado, uma vaga em UTI. O pedido foi feito na madrugada de quinta para sexta porque em Gaspar os leitos disponíveis são exclusivos para os pacientes com coronavírus. Antes da pandemia a unidade sequer possuía Unidades de Terapia Intensiva. Assim, uma liberação ocorreu apenas na madrugada seguinte, de sexta para sábado.

A transferência ocorreu, mas Marisa não resistiu aos ferimentos e morreu no Hospital Santo Antônio horas depois, em Blumenau. Em nota, o hospital de Gaspar explicou que “o atendimento ocorreu dentro dos parâmetros necessários para casos como o dela” e que ela foi transferida “assim que a vaga foi liberada”.

O delegado pretende investigar se houve alguma negligência no atendimento à vítima devido à falta de vaga.

Leitos à beira da lotação

Com o coronavírus, o sistema hospitalar catarinense está à beira do colapso. No Médio e Alto Vale do Itajaí, conforme dados do Estado deste domingo (6), há 16 leitos adultos regulados disponíveis. São 92,8% de ocupação, entre pacientes contaminados e com outros problemas.

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Marisa tinha dois filhos

Uma familiar de Marisa, que por medo prefere não ser identificada, conta que a vítima havia comprado uma árvore de Natal para montar com os filhos de seis e sete anos neste semana, estava empolgada com os presentes que havia comprado e com o aniversário de 26 anos que comemoraria no dia 23. Natural de Minas Gerais, Marisa veio com os pais, tios e irmãs morar no Vale do Itajaí quando era adolescente. 

Os parentes não gostavam muito do atual companheiro. Ela teria contado que ele tinha episódios agressivos, mas não chegou a registrar nenhum boletim de ocorrência. Acreditava que o comportamento tinha relação com o uso de drogas e chegou a interná-lo em uma clínica de reabilitação, da qual ele saiu.

Marisa foi esfaqueada pelo companheiro
Marisa foi esfaqueada pelo companheiro (Foto: Arquivo Pessoal)

Na noite do crime, as crianças estavam com a avó. O pai delas morreu antes do caçula nascer. Marisa teve outro relacionamento depois de viúva, também conturbado. À época, procurou a polícia algumas vezes para denunciar o companheiro.

Desta vez, acreditou que conseguiria auxiliar o namorado a vencer a dependência química. Para a familiar, não há explicações para o que aconteceu. Eles apenas esperam por justiça, que o homem seja preso e julgado. 

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O nome dele não foi revelado. Até o fechamento deste texto o suspeito continuava foragido.