Com um olhar sorridente e a cabeça sem cabelos, o pequeno João Vitor Loch, 4 anos, tem a força de um guerreiro. Desde que um câncer em seu fígado foi descoberto, em 23 de dezembro de 2013, o garoto tem sido submetido a sessões de quimioterapia, porém somente um transplante poderá salvar sua vida.
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Tatiana Solanca, 33 anos, é casada e mãe de Pedro, 4 anos. A dona de casa acima do peso tem sua trajetória marcada pela perda de quatro gestações, e o desejo de ser mãe novamente. Foi na Igreja Batista do Alto Aririú, em Palhoça, que as vidas de Tatiana e João Vitor se cruzaram, no fim de 2013. A avó de João, Maria Eloina Ferreira de Freitas – que tem a guarda do menino – pediu que Tatiana e o marido, pastor da Igreja, orassem pelo neto que estava doente. Mas assim que viu João, Tatiana não conseguiu tirar a imagem no menino careca sorridente da cabeça, da mesma idade de seu filho Pedro, e resolveu fazer algo mais.
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Na família de João, as esperança de encontrar um doador estava perdida. Por impedimentos médicos a mãe e os avós não poderiam doar. A família do pai não se envolveu, e uma tia que era compatível acabou engravidando durante o processo.
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No dia 11 de fevereiro Tatiana embarcou junto com João e a avó para uma bateria de 35 exames no Hospital Sírio Libanês, em São Paulo. Na notícia de compatibilidade, o alívio para dona Maria, mas os médicos avisaram: Tatiana precisaria emagrecer e chegar a 70kg para a cirurgia acontecer com segurança para os dois. A mulher na época estava com cerca de 90kg.
– Os médicos chegaram a propor para eu ficar lá por dois meses direto, mas eu não podia deixar minha família por um período longo. Ao mesmo tempo que veio a felicidade de saber que poderia ajudar, sabia que não tinha muito tempo – conta.
Para dona Maria faltam palavras para agradecer o sacrifício de Tatiana:
– Foi Deus que colocou ela na nossa vida. Tudo o que ela está fazendo pela gente, não tem preço. Só tenho a agradecer – diz com a voz embargada.
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Foto: Betina Humeres / Agência RBS
Esforço e dedicação em uma corrida contra o tempo
O título de heroína Tatiana dispensa, mas ninguém pode negar que ela é uma lutadora. Vencendo seus próprios obstáculos e saindo da condição de vítima para ter papel importante na vida de João Vitor, Tatiana se reinventa:
– Eu pensava que tinha todos os motivos do mundo para estar deprimida, pois havia perdido dois bebês na barriga em 2013, e sempre tive o sonho de ser mãe de muitos filhos. Mas com o João eu aprendi que existem várias formas de ser mãe. Ele pra mim é um filho agora, e tenho fé que Deus me dará outros – diz emocionada.
Em julho de 2013, Tatiana chegou a pesar 103 kg. Ao poucos começou a mudar alguns hábitos, mas sem muita cobrança ou ajuda de profissionais. Na última pesagem, na segunda-feira, 7, Tatiana estava com 81 kg. A cirurgia ainda não foi marcada, mas ela sabe que está em um corrida contra o tempo, pois a vida de João não pode esperar muito mais.
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Uma corrente surgiu em volta da mulher e João Vitor. Na cidade onde vive, Santo Amaro da Imperatriz, conseguiu apoio da academia Fenix para fazer ginástica e acompanhamento nutricional. O proprietário, Lenilson da Veiga Melo, elogia a dedicação da aluna:
– Está sendo um desafio, pois a Tati precisa perder muito peso em pouco tempo. Ela era sedentária e se alimentava mal, mas agora está muito disciplinada, não falta os treinos, e está seguindo a dieta certinho – conta.
Na dia 14 de abril eles embarcam novamente rumo a São Paulo para mais exames, e é possível que a cirurgia já seja marcada, quando os prazos vão se apertar ainda mais.
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Marido e filho também entraram na dieta
Tatiana se emociona quando fala do apoio que está tendo do marido e do próprio filho no processo. Toda a família mudou os hábitos alimentares, e o filho Pedro se deu muito bem com o novo amigo:
– Quando o Pedro me perguntou porque o João era careca, expliquei que ele estava doente. Na volta da viagem de São Paulo, o João não estava muito bem, e saiu no meu colo do avião. Quando ele nos viu, saiu correndo para nos abraçar e disse que estava com muita saudades, e tinha rezado muito por mim e pelo João. Ali eu vi que ele entendia.
Ela conta que há uma semana Pedro quis raspar a cabeça e pediu para colar o cabelo na cabeça do João.
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Você também pode ajudar
A situação da família de João Vitor não está fácil. A avó não pode trabalhar, pois além do menino, que exige cuidados integrais, ela cuida dos irmãos de João, mais três crianças, e do próprio filho de 12 anos. A mãe das crianças está desempregada. Recentemente dona Maria também descobriu que está com um tumor no útero, mas ainda não teve tempo para se dedicar a ela mesma.
O avô trabalha como vigilante e faz bicos para dar conta, e recebem uma pensão do Estado por conta da doença de João. Quem puder colaborar com o pacotes de fralda tamanhos G e Extra G e leite, pode entrar em contato com a família pelo telefone (48) 8416 3963/ 8486 9098
Entenda o transplante
O transplante de fígado ocorre principalmente de duas formas: utilizando o órgão de um doador que já morreu ou parte do órgão de um doador vivo, chamado de intervivos. No caso de crianças, torna-se mais difícil encontrar doadores no tamanho adequado. Geralmente acontece entre familiares, e quando não há relação é necessário uma autorização judicial.
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A cirurgia é de grande porte, e existe risco para os dois pacientes. Uma pequena parte do fígado do doador é retirada, que se regenera entre quatro a seis semanas após a cirurgia, no entanto cuidados pós operatórios são necessários, e exige internação de cerca de quatro dias. O transplantado fica um tempo maior internado, no mínimo 10 dias. Também é preciso tomar medicamentos para evitar a rejeição.
As duas cirurgias acontecem em paralelo para diminuir o tempo do órgão fora do corpo. No doador, dura em média de 4 a 6 horas, e no transplantado, em média 8 horas. O fígado costuma acumular muita gordura, e quanto mais saudável for o doador diminui o risco na própria cirurgia e de rejeição.
Em Santa Catarina, nenhum hospital realiza o procedimento de transplante de fígado pediátrico.
Fonte: *Dr Mauro Igreja, cirurgião da SC Transplantes. *O médico não está atendendo no caso de João Vitor e Tatiana, falou do procedimento de modo geral.
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