Mulheres em cargos de chefia podem chegar a ganhar um terço do salário pago a homens que desempenham a mesma função. Em 2018, o rendimento médio mensal de uma dirigente de serviços de saúde, por exemplo, era de R$ 4.764, enquanto sua contraparte masculina ganhava R$ 14.891. Já uma dirigente de explorações de mineração recebia R$ 5.439, enquanto eram pagos a um diretor equivalente R$ 17.006.

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Os números fazem parte de uma pesquisa do IBGE divulgada nesta sexta-feira (8), quando se celebra o Dia Internacional da Mulher.

O instituto partiu da base de dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua para analisar as diferenças de rendimento médio real entre mulheres e homens de 25 a 49 anos, ocupados na semana de referência. Essa população totalizava 56,4 milhões de pessoas em 2018 -45,3% de mulheres.

Apesar dos exemplos extremos para uma diretora do campo da saúde ou da mineração, a diferença salarial entre homens e mulheres está espalhada pelas mais diversas áreas e níveis de instrução, observa a analista Adriana Beringuy, da Coordenação de Emprego e Rendimento do IBGE.

— Fizemos uma seleção de ocupações numerosas e variadas, com maior e menor presença feminina, exigências mais altas e mais baixas de escolaridade, e o que percebemos é que em qualquer situação desses cenários continuamos vendo a mulher com rendimentos inferiores aos dos homens — afirma.

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No ano passado, o valor médio da hora trabalhada era de R$ 13 para mulheres e de R$ 14,2 para homens, ou seja, o pagamento delas por hora representava 91,5% daquele oferecido aos homens.

Rendimento total

Se a base de comparação for o rendimento total, a proporção cai ainda mais. Em 2018, as mulheres recebiam, em média, R$ 2.050 -79,5% dos R$ 2.579 dos homens. O rendimento médio da população ocupada de 25 a 49 anos de idade era de R$ 2.260.

Parte disso se explica porque as mulheres têm uma jornada de trabalho semanal menor: 37,9 horas, ante 42,7 horas dos homens. Beringuy ressalta que o estudo computou as horas de trabalhos voltados para o mercado, isto é, excluindo o tempo dedicado a atividades domésticas e cuidados de terceiros.

— Nessa outra conta, sabemos por outros estudos que as mulheres muitas vezes chegam a superar os homens em número de horas trabalhadas — afirma.

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Além disso, a jornada dos homens caiu 1,6 hora em relação a 2012 (início da série histórica do IBGE), enquanto a das mulheres reduziu apenas 0,4 hora.

Essa diferença de carga horária não é suficiente para explicar toda a disparidade salarial entre homens e mulheres, aponta Beringuy.

As mulheres representam 59% dos trabalhadores dos setores de serviços e comércio e trabalham 88% das horas dos homens, mas recebem 66,2% do salário deles. No detalhe, uma gerente de comércios atacadistas e varejistas ganha R$ 2.668, enquanto um homem no mesmo posto recebe R$ 4.045.

— A jornada não explica tudo, assim como a educação também não — diz a analista do IBGE.

Ela cita, por exemplo, as médicas especialistas, que ganham 71,8% do que recebem seus pares masculinos: R$ 12.618 ante R$ 17.572. Advogadas e juristas têm um rendimento médio de R$ 5.033, 72,6% do recebido pelos homens.

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Mulheres na ciência

Olhando para grandes grupos, o IBGE constatou que as mulheres eram maioria entre profissionais das ciências e intelectuais (63%), mas recebiam 64,8% dos rendimentos médios dos homens.

— Isso abre espaço para outras questões, como qual será a especialização que as médicas têm buscado? São as de maior remuneração, como cirurgia e anestesia? E mais: elas são empregadas ou são donas dos seus próprios negócios? — questiona Beringuy.

As mulheres conseguiam chegar mais perto dos salários dos homens em trabalhos de rendimento médio mais baixo.

Em ocupações elementares (auxiliares em geral), o salário delas era 89,8% daquele recebido pelos homens, mas o valor de R$ 951 não chegava nem a um salário mínimo (R$ 954 em 2018). Os homens nesses cargos ganhavam R$ 1.060.

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— Em ocupações cujo salário é muito nivelado pelo piso mínimo, a diferença é menor. Conforme olhamos para ocupações que exigem maior escolaridade ou cujos rendimentos são maiores, essa remuneração de referência vai se perdendo, há um leque maior de cargos dentro da própria carreira, e aí as diferenças também começam a aumentar — diz Beringuy.

Sejam brancas, pretas ou pardas, as mulheres têm rendimentos inferiores aos dos homens de mesma cor. Mas essa diferença é maior entre mulheres e homens brancos (76,2%) do que entre mulheres e homens pretos ou pardos (80,1%).

De acordo com o IBGE, essa menor desigualdade pode estar relacionada ao fato de que a população preta ou parda como um todo tem ocupações com pagamentos mais baixos, muitas vezes de um salário mínimo.

Questão de tempo para a mudança

A diferença de horas trabalhadas entre mulheres e homens aumenta conforme aumenta a faixa etária, e isso também afeta diretamente os rendimentos.

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Em 2018, a mulher ocupada com 25 a 29 anos de idade recebia 86,9% do rendimento médio do homem e trabalhava 3,6 horas a menos. No grupo de 40 a 49 anos, a diferença chega a 5,4 horas, e essas mulheres ganhavam 74,9% do rendimento médio real dos homens.

O estudo observa ainda que o tempo de trabalho na ocupação exercida influencia a evolução profissional e o planejamento de carreira, com consequentes efeitos sobre a remuneração do trabalhador.

Interrupções de trabalho muitas vezes fazem com que as pessoas topem se reinserir no mercado em vagas com rendimentos mais baixos.

— Você volta para o mercado na base da carreira e vai acumulando uma trajetória que não é linear. Se isso já é difícil para os homens, imagine para mulheres que ficam grávidas ou têm de reduzir sua carga horário para cuidar de outros — diz a analista.

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