Um servidor público que trabalha no Centro Público de Atendimento ao Trabalhador (Cepat) é suspeito de cometer racismo contra uma moradora de Joinville. De acordo com Renata Marisa Silva da Luz, de 47 anos, mais conhecida por seu apelido de capoeira – Pandora -, o servidor teria cometido um ato de racismo ao dizer, sem ser questionado, que não havia vagas disponíveis para limpeza nem para os cargos de cozinheira e costureira. A Prefeitura informou que o caso foi encaminhado para uma coordenadoria e um conselho que vão acompanhar a investigação policial.
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Morando há dois anos em Joinville com seu companheiro, Pandora conta que estava fazendo um curso de macramê oferecido pelo Cepat e que está desempregada desde que chegou na cidade. Formada em Design de Moda e Vestuário, o seu sonho é lecionar. Ela conta que o caso aconteceu no dia 27 de setembro enquanto ela olhava uma lista de oportunidades divulgadas pelo Cepat.
– Quando eu botei a mão na lista, ele falou assim: “não tem nada pra cozinha”. Aí eu falei: “que bom, porque eu não sei cozinhar mesmo, então não tem problema”. Fui levando na brincadeira, mas já senti aonde que a gente ia com aquilo. Eu achei que ele ia parar ali, mas não parou. Aí ele falou: “mas não tem nada pra limpeza também”. Eu respondi: “também não sei limpar nada, meu amigo”. Não contente com isso, ele disse: “mas também não tem nada pra costureira”. Aí eu falei: “também não sei costurar” – contou Pandora, que mora no Fátima, bairro da zona Sul de Joinville.
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Depois, Pandora disse que informou que era formada em Design de Moda e que que seu desejo era lecionar. Segundo ela, o servidor teria respondido com ar de deboche. Uma semana depois, quando voltou ao Cepat para ter aula, ela conta que quando caminhava para sua sala ouviu a voz de uma funcionária perguntando onde ela ia. Para Pandora, esta foi mais uma demonstração de racismo. Chegando na sala, ela desabafou com sua professora e falou sobre as situações que passou. Minutos depois, o servidor público que havia falado com ela na semana anterior a procurou e perguntou o que havia acontecido. Ela conta que ele pediu desculpas, mas que isso não foi suficiente.
– Desde que cheguei aqui, eu passo por uma trajetória de processos discriminatórios. Eu cansei. É recorrente e aqui em Joinville me parece que é cotidianamente. Todo dia eu sofro algum tipo de problema. Se as pessoas não sabem lidar com pessoas pretas, elas que aprendam – diz Pandora, que já foi gerente de Políticas de Promoção da Igualdade Racial do Espírito Santo, estado onde morava antes de se mudar para Joinville.
Pandora diz que o problema não são as profissões mencionadas, pois as considera “tão gloriosas quanto outras”. Ela diz que é militante do movimento negro há 30 anos e que participa de outros movimentos sociais. Um boletim de ocorrência foi registrado e as advogadas de Pandora devem judicializar o caso nesta semana.
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– O racismo se apresenta em cada lugar de maneira muito peculiar. Nas relações sociais e raciais, há uma situação de racismo cordato. Ao mesmo tempo que as pessoas não xingam as pessoas nas ruas, há um processo discriminatório em que os dois lados tratam como natural. As pessoas aqui não se envergonham de serem racistas – afirma.
Em nota, a Prefeitura de Joinville informou que o caso foi encaminhado para a Coordenadoria de Políticas para a Juventude, Direitos Humanos e Promoção da Igualdade Racial da Prefeitura de Joinville e para o Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial (Compir) “para que tenham conhecimento e tomem as devidas providências”. A Prefeitura também ressaltou que não tolera atos racistas.
Mário José de Souza Leal, diretor-executivo do Cepat, afirmou que o funcionário denunciado é servidor público há 28 anos e que já apresentou sua defesa por escrito, negando as acusações. A reportagem não localizou o servidor e a Prefeitura de Joinville e o Cepat não forneceram seu contato. Ele está ausente de seu trabalho desde a semana passada após apresentar atestado médico.
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