Às 18h30min de sexta-feira Gilce Chalvinski, 44 anos, acendeu uma vela para a imagem de Nossa Senhora Aparecida que tem em frente de casa. Estava pagando uma promessa que fez quando viu o marido, Valmor dos Santos, 33, soterrado pela lama.

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O acidente ocorreu no final da manhã de quinta-feira. Santos trabalhava numa obra de esgoto em Xanxerê, Oeste catarinense. Ele estava dentro de uma vala com dois metros de profundidade e 1,50 metro de largura, colocando o encanamento. Quando deu três batidas num dos canos, sentiu um baque nas costas e ficou soterrado.

Parte da terra do barranco e a pedra de uma das paredes da valeta desabaram. Santos conseguiu retirar a terra do rosto com uma das mãos, que ficou livre, e pediu por socorro.

– Piazada, me ajudem – gritou para os companheiros de trabalho.

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Santos ficou prensado contra um cano, o que evitou que afundasse mais na lama. Por cima dele, uma pedra o pressionava no lado esquerdo das costas, prejudicando sua respiração.

– Tinha que respirar devagarinho – lembrou.

Já com o rosto livre, ele nem conseguia conversar muito com a mulher e a irmã, que aguardavam a retirada. Queria sair logo do local e até pediu para utilizarem uma retroescavadeira para mover a pedra.

Depois de quase uma hora de trabalho, saiu, cuspindo barro. Fez exames no Hospital São Paulo, em Xanxerê, e depois foi para casa. Lá, levou mais de uma hora no banho. Mesmo assim, sobrou um pouco de sujeira nas unhas.

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O trabalhador ainda está mancando com a perna direita, que ficou presa na tubulação da vala. Santos comentou que faltou proteção na valeta, para evitar o desabamento. Mas elogiou o tratamento da empresa que trabalha, a ORX, que na sexta-feira o levou para mais exames em Sarandi (RS), e pagou os remédios para dor e anti-inflamatórios.

No início da noite de sexta-feira, ele chegou na casa onde mora com a mulher e três enteados, no Bairro Santa Cruz, em Xanxerê. Depois dos sete dias de atestado, Santos quer voltar a trabalhar para pagar as últimas prestações da casa, que somam R$ 3 mil. Mas promete ter mais cuidado.

– Agora só entro na vala se tiver segurança – afirmou.

Afinal, não é sempre que Nossa Senhora Aparecida poderá protegê-lo.