Dar banho, trocar fralda, alimentar, sair para passear, ensinar a andar de bicicleta. Algumas tarefas que requerem tempo e dedicação, geralmente feitas pelas mães. Agora, imagine ter que fazer tudo isso sem enxergar nada.
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Para Elisiane Telles de Souza, de 30 anos, cega desde os 15, não há dificuldade alguma, nem para o marido, também cego. O problema vem dos outros: na falta de conhecimento de quem desconfia que ela, por ser cega, não pode cuidar da filha. Diferentemente dos pais, a pequena Lívia Telles Loques, de cinco anos, enxerga totalmente.
– Ela convive, sai com a gente, sabe que conseguimos nos virar sozinhos. Desde que nasceu, eu já procurei fazer tudo sozinha com ela. Desde o primeiro dia que ela saiu do hospital. Para criar aquele vínculo de confiança mesmo, de ela confiar na gente como os pais dela. Elisiane, que nunca quis terceirizar nenhum cuidado dela, nasceu com glaucoma e enxergou até os 15 anos. Seu marido, Danilo Loques, deixou de enxergar após um acidente de moto com 22 anos.
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Elisiane e seu marido são os únicos responsáveis por cuidar da menina. Os dois dividem as tarefas domésticas e os cuidados com a filha. Eles se conheceram em 2006 pela internet. Em 2009, Elisiane foi morar em Santos com Danilo, quando se casaram. Eles tiveram a filha lá e em 2013 vieram morar em Joinville.
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– Eu não posso contar – disse Lívia, ainda tímida, sobre a homenagem ao Dia das Mães, que vai fazer para a mãe.
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Desde o ano passado, Lívia começou a ir para a escola. Todos os dias, no início da tarde, o transporte escolar vai buscar a menina em sua casa, no Escolinha. Só depois disso, a mãe sai para trabalhar. Ela é assistente administrativa na Associação Joinvilense dos Deficientes Visuais (Ajidevi).
– As pessoas ainda se chocam ao me ver com ela na rua e fazem comentários. Para mim tudo bem, mas ela, uma criança de cinco anos, ter que ouvir a pessoa dizendo ‘ah, cuida bem da tua mãe. Ela é só uma criança. Quem tem que cuidar dela somos nós – defende Elisiane. Teve uma época em que a própria Lívia começou a se preocupar quando via a mãe saindo sozinha.
Quando questionada sobre como é sua mãe, Lívia sequer comenta a deficiência visual de Elisiane.
– Minha mãe? Ela tá um pouco gripada. Eu também – disse a pequena.
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Carla Vidoto Knittel, diretora pedagógica da Ajidevi, era professora de Elisiane na associação, na época em que ela ainda enxergava parcialmente. Quado Elisiane perdeu a visão, Carla foi uma das responsáveis por acompanhar essa fase, difícil para as duas.
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– Eu sofri bastante também. A pessoa sofre muito, acaba sofrendo junto. A gente virou amiga – disse Carina, que acredita ainda que a ida para Santos ajudou muito no processo de aceitação de Elisiane.
– Uma mãe como as outras, preocupada com a Lívia, cuida com tudo. Ela é uma super mãe, enxerga com o coração. É uma mãezona – comenta Carla, que destaca ainda a participação na vida escolar da filha. Mesmo não enxergando, os pais ajudam nas tarefas de casa.
Elisiane trabalha há pouco mais de um ano na Ajidevi, associação que atende a pessoas com deficiência visual, crianças, adolescentes e adultos de Joinville e região, atuando no campo da educação, habilitação, reabilitação e integração social. Atualmente a entidade possui 910 associados cadastrados.