Andréia Cristina Schmidt, de 27 anos, de Guaramirim, hoje está mais tranquila do que há pouco mais de um mês e curte numa boa a filha Isabela. Informada há três anos que não poderia mais ter filhos por causa de um cisto no ovário, a costureira passava por uma bateria de exames de encaminhamento para cirurgia quando em um ultrassom descobriu que estava grávida de uma menina. E que a nenê já tinha 36 semanas de gestação.
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Também não imaginava que uma semana depois, Isabela já viria ao mundo. A menina nasceu saudável, 3,3 kg, 49 cm, para a alegria de Andréia, do marido Edson Luiz Beseke, 43 anos, e do filho do casal Erik Luiz Beseke.
Mas antes de segurar Isabela no colo, a família percorreu um longo caminho. Depois de diagnosticado o cisto no ovário, há três anos, Andréia iniciou uma longa peregrinação pelo SUS para resolver o problema.
Durante a gravidez não esperada e também não conhecida, passou por cinco consultas sem que em nenhuma delas os médicos desconfiassem da gravidez – por causa do cisto, a costureira não menstruava mais. Em novembro, já de cinco meses, procurou a rede pública se queixando de azia. O médico do posto de saúde do bairro disse que ela estava com sobrepeso e que tinha de se exercitar.
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– No retorno ele disse que eu estava com colesterol alto e me deu remédio para pressão e diuréticos – lembra.
Em dezembro, ela voltou a passar mal e foi para o hospital, onde fez passou por raio X.
– O médico disse que a dor era do cisto, receitou Buscopan e voltei para casa. Em nenhum momento desconfiaram que eu poderia estar grávida – conta.
Em janeiro, de posse das radiografias, Andréia fez nova consulta, desta vez no posto de saúde do Centro.
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– Ele disse que eu não poderia engravidar porque não menstruava há três anos. Mostrei o raio X e o médico disse que era intolerância a lactose.
No retorno, ou seja, a quinta consulta de Andréia pelo SUS, a costureira tinha emagrecido quatro quilos e, mais uma vez, o médico não detectou a gravidez. Só na sexta consulta, em 26 de abril, a costureira conseguiu fazer a ultrassonografia e constatou a gestação.
Para piorar a situação, Andreia e Edson ficaram desempregados. Quando ficou sabendo que teria Isabela, a costureira já tinha pedido a conta na empresa em que trabalhava e estava perto de ser contratada por outra firma, mas quando souberam da gravidez recuaram. Agora, a costureira aguarda a liberação da licença maternidade por parte do INSS prevista para o mês que vem.
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Enquanto isso a família sobrevive com doações. A médica ginecologista e obstetra Ieda Mara Schroeder confirmou que é possível mulheres não perceberam que estão grávidas e já atendeu casos semelhantes em seu consultório.
– Isso ocorre principalmente com mães obesas ou com menstruarão irregular. Cada gravidez tem sintomas diferentes e têm pessoas que não sentem praticamente nada – admite.
Segundo a médica, da mesma forma que as mulheres que planejam uma gravidez se concentram em perceber os sintomas, as que não podem mais ter filhos descartam qualquer possibilidade. Os sintomas em comum entre a gravidez e a síndrome de ovários policísticos, segundo Ieda, são o ganho de peso e a menstruarão irregular.
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A diretora da Secretaria de Saúde de Guaramirim, Caroline Lutz, disse que tem conhecimento do caso e fará um levantamento do prontuário da paciente nas três unidades públicas que ela foi atendida. Depois de coletar os dados, o órgão abrirá uma sindicância interna para apurar o ocorrido.
– Nenhuma medida será tomada antes de o resultado da sindicância, que será aberta nos próximos dias. Vamos encaminha para o jurídico, que vai avaliar se houve negligência nesse caso – informa.