O telefone toca e do outro lado uma amiga desabafa problemas conjugais. “Ele deixou de fazer isso, esqueceu aquilo, não deu importância a nada, saiu sem dizer para onde ia e desligou o celular.” Na linha, você se pergunta: “Por que eles sempre discutem?” E logo pensa nos conselhos que tanto ouviu da sua mãe. Tenta acalmar a amiga, sem muito sucesso. Ao desligar o telefone, toma uma decisão: “Quando me casar, isso não vai acontecer.” Puro engano. Ninguém está ileso a divergências com o parceiro ou com a parceira. Mais cedo ou mais tarde, as diferenças aparecerão. Quando você passar por elas é que poderá escrever o roteiro da sua história.

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No começo, a relação é um mar de rosas. Mas no recém-lançado livro Amar de Olhos Abertos (Ed. Sextante), os psicólogos argentinos Jorge Bucay e Silvia Salinas explicam, por meio da ficção, que o apaixonado não vê o outro em sua totalidade. Ou seja, nessa fase, ele projeta no parceiro seus aspectos idealizados. Passado esse período, seria possível construírem juntos o amor.

– Amar alguém é o desafio de desfazer essas projeções para me relacionar verdadeiramente com o outro – escrevem.

Nada de fórmulas prontas. Cada casal desenvolverá a sua forma de resolver os impasses da relação a dois.

Para a psicóloga Carolina Gonçalves, se o primeiro ano é de lua de mel, o tempo vai mostrar os impasses que o casal pode enfrentar. Segundo a especialista, as queixas mais comuns no consultório é a falha e a falta de comunicação.

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– Por exemplo: a mulher pede ao homem para pegar os filhos no colégio, ele acha que é ela quem tem essa obrigação, fica magoado, não fala com ela sobre aquilo, mas some para jogar bola ou não avisa se vai ficar mais tempo no trabalho.

Na terapia, é importante colher essas informações e fazer com que o casal converse entre eles.

– Tem gente que tem medo de se separar e, por isso, evita a terapia de casal. Em alguns casos, há a separação, mas em muitos atendimentos conseguimos resgatar a comunicação – explica a psicóloga.

O terapeuta de casais Enrique Maia concorda.

– O diálogo abre as portas para que as insatisfações sejam ditas e resolvidas pelo casal.

Um dos fatores que atrapalham essa comunicação estaria atrelado à percepção de cada um sobre como deve ser um relacionamento. Para a antropóloga Mirian Goldenberg, “pode-se perceber , nos discursos de homens e mulheres, um verdadeiro abismo entre os gêneros quanto ao valor e ao significado da intimidade e da compreensão nos relacionamentos amorosos”, apontou no livro Intimidade (Ed. Record). Quer dizer, para a mulher, o casamento ou namoro deve ser do jeito que ela aprendeu, enquanto para ele, a vida a dois pode ser completamente diferente. Encontrar esse meio termo é o grande desafio para a longevidade de relação.

Como superar as crises

:: Falta de diálogo e desavenças contínuas – Antes de julgar as atitudes do parceiro ou da parceira, observe se você está contribuindo para aquele cenário: a autocrítica pode revelar pistas sobre o porquê de algumas brigas. Falar e escutar o outro, respeitando os diferentes pontos de vista, pode ser a solução. Caso as brigas se prolonguem e indiquem uma possível separação, busque ajuda de um terapeuta de casais.

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:: Maternidade e paternidade ocupam o dia todo – Dediquem um ou dois dias na semana para ficarem sozinhos. Saiam para jantar, vão ao cinema ou façam algum curso juntos para reforçar a relação a dois.

:: Baixa libido e desencontros sexuais – Tente inovar com fantasias, locais diferentes e brinquedos. Solte a imaginação. Caso os problemas persistam, busque auxílio de um especialista.

:: Distanciamento de amigos e/ou familiares – Reserve um ou dois dias por semana para encontrar seus amigos e/ou familiares. Preservar a individualidade faz bem para os dois.

:: Competição por poder em casa – Estabeleça as atividades que cada um vai exercer em casa, desde compras, pagamento de contas, faxina, auxílio nas tarefas dos filhos, etc. Assim, cada um se sente responsável pela administração do espaço que compartilham juntos.

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:: Falta de tempo para si – Pelo menos uma ou duas horas por dia faça algo para você: ler um livro, ir ao salão de beleza, fazer exercício físico, meditar ou, simplesmente, ficar de pernas para o ar.

Mais dicas

:: Estabeleça um dia por semana para sair da rotina. Esse dia pode não ser fixo se quiser surpreender sua parceira ou seu parceiro.

:: Crie um ambiente romântico em casa. Basta jogar um edredon no chão, acender velas, colocar uma música envolvente, levar para o quarto uma bandeja com bebida da preferência do casal e frutas, ou aperitivos para desfrutarem um momento diferente do dia a dia.

:: Compre uma lingerie e surpreenda seu marido quando ele chegar do trabalho. Vale convidá-lo para tomar um banho juntos. Para isso, compre sais de banho, espalhe velas aromáticas e curta o momento. O homem também pode surpreender a parceira quando ela chegar do trabalho com o mesmo ritual do banho.

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:: Não se limite a datas comemorativas como aniversário, noivado ou casamento. Seja inusitado e comemore outros dias.

:: Faça uma massagem no seu parceiro ou na sua parceira. Para isso, você pode criar um ambiente relaxante, à meia luz, com incenso ou velas.

:: Demonstre carinho: seja com um beijo de boa noite e de bom dia, abraços no café da manhã, elogios sinceros… É importante cultivar o afeto diário.

Você sabia?

Ela liga para o namorado e diz: “Precisamos conversar”. Do outro lado da linha, uma pequena crise de pânico se desenha na cara do homem. Poucas horas depois, eles marcam um encontro no café da esquina. Ele logo pensa: “Ela vai querer terminar o namoro”. Quando se encontram, ela começa a listar críticas e mais críticas ao comportamento do parceiro, mas ele só consegue ficar em silêncio.

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Não é para menos. Segundo pesquisadores da Universidade do Sul da Califórnia, em momentos de tensão, as atividades do cérebro ocorrem de maneira diferente para homens e mulheres. O experimento realizado com 50 voluntários sob estresse monitorou a resposta cerebral deles ao se deparar com imagens de rostos com expressões irritadas e aborrecidas.

Para os homens, a atividade cerebral ficou reduzida. Enquanto para as mulheres, a capacidade para interpretar emoções aumentou consideravelmente. Ou seja, em meio a uma discussão de relacionamento, a famosa “DR”, o cérebro do seu namorado desliga e deixa de prestar atenção no que acontece ao redor. Vale a pena, então, conversar com jeitinho.