Joana Célia dos Santos, professora no Departamento de Estudos Especializados em Educação do Centro de Ciências da Educação da UFSC, considera que o cenário nacional tem levado as pessoas a assumirem mais as posturas racistas, e sem nenhum pudor. No cenário catarinense há um “imaginário desejado”, um estado branco eurocêntrico, pensamento que é incentivado:
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– A gente encontra inúmeras placas pelas rodovias informando: “Bem-vindo ao Vale Europeu”, ainda que se esteja entrando em áreas quilombolas ou indígenas. Aqui, uma escola confessional pede que as crianças se fantasiem de favelados do RJ; a suástica é pintada até mesmo dentro de universidades; haitianos e africanos são perseguidos e até mortos.
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Pesquisadora em Educação e Relações Raciais, com o foco na população negra, a professora aposta nas políticas de ações afirmativas como fundamentais para assegurar formação qualificada de negros e negras nas universidades. Mas acredita que serão insuficientes se o mercado não se abrir para contratação. E isso inclui empresas privadas e poder público:
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– As ações afirmativas dão oportunidade para que o país corrija o curso de desigualdades e se refunde, a partir de relações mais igualitárias e menos violentas como as que temos vivido por conta do racismo.
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A intolerância atinge fortemente as religiões de matriz africana e isso é mais intenso em cidades do interior de Santa Catarina, onde filhos de santos são questionados por situações diversas, como cobrir a cabeça ou usar roupa branca nas sextas-feiras. Integrante do Núcleo Ecumênico da Faculdade Católica de Santa Catarina, Kátia Regina Luz, sacerdotisa da Tradição de Umbanda e conhecida como Mãe Kátia d’Omolu, considera necessário olhar a pessoa que é diferente da gente com mais zelo e compaixão:
– Muitas pessoas agem de forma violenta porque elas não estão bem, elas não se entendem, e culpam o outro. Nosso Estado será um lugar muito melhor para se viver se houver respeito às diferenças – diz Kátia.
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“No Oeste, mulher negra e nordestina sofre xenofobia”, relata pesquisadora
Experiências racistas se espalham pelo território catarinense. É o que revela a pesquisa “Essas pretinhas intrusas que não se aquietam: os efeitos psicossociais do racismo sofrido por mulheres negras e nordestinas que moram no Oeste de Santa Catarina”, feita por Erika Fernanda Kofer, realizada no curso de Psicologia da Universidade do Oeste de Santa Catarina (Unoesc), em Pinhalzinho.
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– O que me motivou a investigar o tema foi, primeiramente, o contexto em que eu, Erika, mulher negra e nordestina estava inserida. Tal qual outras na mesma condição, vivenciava situações de racismo e xenofobia com feitos psicossociais adquiridos num espaço majoritariamente branco e que deixa marcas – conta a psicóloga.
Conforme Erika, em cidades menores da região, onde a população negra é quase zero, há uma resistência maior por parte da branquitude em aceitar que a mulher preta faça parte do espaço historicamente ocupado pelos brancos.
De modo geral, diz a pesquisadora, percebe-se efeitos de negação e rejeição do corpo negro e situações de posição de inferioridade cultural. Porém, também se configuram modos de visibilidade e de resistência.
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“Acreditamos que o diálogo seja a porta de saída dessa crise”, aponta imigrante
O haitiano Clefaude Estimable é mediador cultural e intérprete haitiano em Florianópolis, cidade onde mora há cinco anos. Com formação em Ciências Sociais, Religiosas e Arte Bizantina, ele estuda Psicologia na Universidade Sul de Santa Catarina (Unisul) e faz estágio no Setor de Imigração e Refúgio da Defensoria Pública da União.
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Ele também atua como mediador cultural e intérprete voluntário no Círculo de Hospitalidade voluntariamente, organização que apoia refugiados e imigrantes. E conta casos de violência relatados por outros imigrantes.

– Durante os atendimentos ouço muitos relatos de mulheres. Elas sofrem por serem negras e não falarem o português. Isso ocorre, principalmente, no ambiente de trabalho, e especialmente entre quem faz faxinas. Há um pensamento que devem ser os empregados negros a fazerem os trabalhos mais pesados e/ou considerados mais desagradáveis – relata.
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Mas nem tudo é tão ruim, reconhece Cleff. Existem muitos catarinenses que dão apoio e demonstram empatia. Atitudes assim servem de estímulo.
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– Acreditamos que o diálogo seja a porta de saída dessa crise humanitária que atinge o mundo, e não apenas Santa Catarina. Quando se vê uma imigrante na rua, pense que aquela pessoa tem família, carrega uma história e também sonhos de viver neste novo lugar.