Os imóveis não operacionais da Busscar Ônibus, entre eles apartamentos, terrenos, salas comerciais, lojas e garagens, vão começar a ser leiloados em julho de 2015. A afirmação é do juiz da 5ª Vara Cível de Joinville, Luís Felipe Canever. A data, horário e local ainda dependem de providências burocráticas anteriores, que serão tomadas pelo magistrado ao longo das próximas semanas.

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Canever concedeu entrevista exclusiva de uma hora e meia ao “A Notícia” na última quinta-feira, 16 de abril, em seu gabinete de trabalho. O juiz antecipa que o modelo de venda será híbrido: presencial e por meio virtual (eletrônico).

Este é um dos maiores processos cíveis em andamento em todas as comarcas de Santa Catarina. Já tem 135 volumes e 27 mil páginas. Só o processo principal está com 90 volumes e 18 mil páginas.

A seguir, os trechos principais da conversa.

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A Notícia – Quando o senhor assumiu a 5ª Vara Cível, onde corre o processo de falência da Busscar?

Luís Felipe Canever – Assumi em agosto de 2014. Outros oito magistrados já passaram pelo caso e deram despachos importantes. Quando assumi, a leitura do caderno especial de 20 páginas, contando a trajetória do Grupo Busscar desde a fundação, produzido por vocês, do jornal “A Notícia”, me auxiliou bastante para compreender a extensão dos fatos que cercam a história da companhia até a recuperação judicial. Foi um atalho para me orientar.

AN – Quando o senhor pretende leiloar os imóveis não operacionais da

Busscar?

Canever – Pretendo começar em julho os leilões dos 45 imóveis não operacionais do Grupo Busscar. Antes, ainda devo receber documentos e, a partir de maio, vou analisar o quadro todo para marcar os editais e definir as datas dos leilões a serem programados. Vamos marcar vários dias de leilões dos imóveis. Creio em muitos interessados porque imóveis sempre atraem muitas pessoas. Juntos, os bens estão avaliados em R$ 39,6 milhões. O mais valioso é um terreno de 115,3 mil m² na avenida Santos Dumont, no bairro Aventureiro, em Joinville, que está avaliado em R$ 9,3 milhões. Do total de bens, só sete não se localizam no município sede do grupo.

AN – Qual será o modelo de venda?

Canever – O nosso objetivo é realizar vários leilões, em datas diferentes, porque a quantidade de bens a serem colocados à venda é muito grande. A intenção é separar, por lote, cada imóvel. Esta forma facilitará a negociação. O modelo melhor é o do leilão misto: presencial e virtual (eletrônico), para ajudar no caso daqueles que residem em outras cidades.

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AN – A leiloeira Tatiane S. Duarte comentou que já fez a catalogação e fotografou todos os imóveis. A vistoria deles também vai acontecer?

Canever – No edital de leilão que vou mandar publicar terá, claro, data e hora para os interessados fazerem suas vistorias, para conhecer como são os imóveis à venda. É um procedimento natural. Assim, os possíveis proponentes poderão verificar o estado em que se encontram para decidir se querem apresentar propostas e disputar no leilão.

AN – A venda conjunta dos imóveis é viável?

Canever – A venda conjunta é inviável. Não apareceria nenhum interessado por três motivos: os bens são muito diferentes entre si; geograficamente se espalham por vários Estados; e o preço global destes ativos, possivelmente, seria alto para um único potencial cliente. A maioria dos imóveis são de uso comercial – há até uma igreja, em Joinville. Aqueles ativos já alugados por inquilinos também serão ofertados. Se os atuais ocupantes derem o melhor lance, podem manter a posse.

AN – Qual é o tamanho do processo?

Canever – O processo de falência do Grupo Busscar, no conjunto, tem 135 volumes. Cada volume tem 200 páginas. Isso significa que já há 27 mil páginas. O processo principal reúne 90 volumes, o equivalente a 18 mil páginas. Em outros 40 volumes, constam avaliações e documentos relacionados à arrecadação. E cinco volumes referem-se, unicamente, às prestações de contas feitas ao longo destes anos de tramitação.

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AN – Quanto vale a Busscar?

Canever – A empresa entrou em recuperação judicial em 31 de outubro de 2011. O passivo, em sua totalidade, segundo a avaliação feita em 2012, soma R$ 1,6 bilhão. Os ativos valem três vezes menos. Não há como pagar a todos. Sem dúvida, muitos credores não vão receber nada.

AN – É um processo desafiador?

Canever – Este é um dos processos mais complexos e, talvez, o maior entre todas as varas cíveis de Santa Catarina atualmente. Na minha mesa, não há nenhum processo de tanta relevância social como este. O caso envolve 6 mil pessoas, entre ex-funcionários, bancos, fornecedores e clientes. Tenho outros 6 mil processos para analisar. Bem menores, que vamos tocando na medida em que as movimentações vão surgindo.

AN – O senhor centralizou a atenção para este caso?

Canever – Lógico que o processo da Busscar é prioridade máxima. Tanto que qualquer movimentação que seja feita nos autos, analiso e despacho pessoalmente. Neste caso, determinei que tudo o que se relaciona ao Grupo Busscar tem de passar por mim. Quero ter controle absoluto da situação. Em outros casos, assessores e servidores auxiliam nos despachos.

AN – O senhor visitou a fábrica, naturalmente…

Canever – Uma das cenas mais impressionantes foi ver a fábrica da Busscar, enorme, vazia e parada. Ainda não chamamos leilão das instalações fabris porque o momento macroeconômico era ruim, e piorou mais neste ano de 2015. Tem muita gente com créditos relativamente pequenos a receber. Tenho compreensão para isso. Não podemos deixar que a Busscar se transforme numa segunda Sulfabril, que demorou 14 anos para ser leiloada.

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AN – O que é diferente?

Canever – No caso daqui, o que nos favorece para não demorar tanto é o fato de a legislação ter mudado neste período. Com as alterações legais, é possível mais agilidade na tramitação. Mesmo assim, não tenho expectativas de que o processo termine nas minhas mãos. Tende a demorar mais do que a minha presença na 5ª Vara.

AN – Como fica a Tecnofibras?

Canevert – A venda dos ativos da Tecnofibras (do mesmo Grupo Busscar) é prioridade também. Isso porque é uma empresa viável econômica e financeiramente. Há clientes interessados na continuidade da operação porque tem credibilidade e produtos de alta qualidade.

AN – Um novo leilão vai demorar?

Canever – Temos interesse de parar de ter administrador judicial para a Tecnofibras. Ele, o doutor Rainoldo Uessler, faz um ótimo trabalho. Mas encontrar um operador do mercado que seja um empresário é interessante. A empresa é muito boa. Tem até a possibilidade de entrar em novo tipo de negócio.

AN – O senhor se reuniu com duas montadoras recentemente…

Canevert – Sim. Há quase duas semanas, nos dias 7 e 8 de abril, recebi, em audiência, representantes da Volkswagen e da John Deere, importantes clientes da Tecnofibras. Foram conversas separadas. Cada um tinha demandas próprias sobre como ficará a Tecnofibras. A empresa é boa para a sociedade joinvilense e serve como uma metáfora do que é o espírito empreendedor dessa gente.

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AN – O terceiro leilão vai acontecer quando?

Canever – O terceiro leilão da Tecnofibras – foram feitos dois, um em novembro de 2014 e outro em março de 2015 – vai acontecer quando percebermos sinais de melhoria do cenário macroeconômico. Não há risco de paralisação das atividades da companhia. Então, vamos esperar que aumente o faturamento para que ela possa ser vendida adiante e possa crescer. Uma hipótese, num terceiro leilão, é o da venda separada dos imóveis. Não há, ainda, como dizer quando vai acontecer um novo leilão.