A saída de cinco profissionais médicos da equipe obstétrica do Hospital Santo Antônio, em Blumenau, tem provocado críticas de defensores do tratamento humanizado para gestantes e bebês. Publicações feitas em redes sociais questionam o fato de que os cortes teriam atingido justamente obstetras reconhecidos por serem adeptos dessa forma de atendimento. O trabalho nos últimos anos colocou a instituição hospitalar em posição de destaque na realização de partos.
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O Hospital Santo Antônio divulgou nota informando que “mudanças administrativas e técnicas estão sendo realizadas”, sem confirmar abertamente a saída desses obstetras. Questionada, a assessoria de comunicação confirmou que houve rompimento de alguns contratos, mas que esses profissionais serão substituídos e que não haverá prejuízo para o atendimento.
O comunicado cita ainda que a instituição faz “mais de 300 partos mensais com uma equipe especializada para a realização do parto natural, priorizando sempre a saúde e o bem-estar da mulher e do bebê”. Por fim, garante que o hospital continua pactuado com a Rede Cegonha, programa que assegura atenção humanizada à gravidez, ao parto e ao período após o nascimento. A manutenção do vínculo com a Rede Cegonha é uma preocupação manifestada por quem questiona as saídas dos obstetras.
Embora tenha parcerias e vínculos com o poder público, o Hospital Santo Antônio é uma entidade privada sem fins lucrativos, administrada pela Fundação Hospitalar de Blumenau. Procurada pela reportagem, a Secretaria Municipal de Promoção da Saúde informou que recebeu um ofício do hospital na manhã desta quinta-feira informando uma rescisão de contrato com a empresa que atuava no serviço de obstetrícia e que o atendimento continuaria sendo feito “por outro profissional”. A secretária Maria Regina de Souza Soar afirmou, por intermédio da assessoria de imprensa, que a prefeitura não tem gerência sobre a admissão e demissão de profissionais do hospital e que “não nos cabe questionar o motivo dessa decisão”.
Mulheres temem mudança na humanização
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A enfermeira obstetra Luciane Ávila, defensora da humanização em Blumenau, alerta que o hospital é referência na rede pública e que essas mudanças podem repercutir na saúde coletiva, o que exigiria um posicionamento da prefeitura sobre o assunto. Ela lamenta que os cortes tenham atingido profissionais que, segundo ela, são os que estavam mais engajados com o atendimento humanizado.
– Ainda não sabemos dizer qual vai ser a repercussão, mas é um retrocesso na forma de pensar a humanização do parto e do nascimento. Blumenau tinha avançado em alguns aspectos, mas com isso perde bastante – afirma.
A empresária Rafaela Prebianca Righetti Picoli integra um grupo de mulheres que discute a questão do parto natural em Blumenau e foi uma das pessoas que questionou as demissões e o possível impacto que elas possam trazer ao atendimento. Ela diz que foi graças ao esforço da equipe atual que o hospital ganhou reconhecimento no atendimento humanizado de gestantes. Segundo ela, nos últimos anos isso vinha atraindo até mesmo pacientes de convênios e da rede particular ao hospital. Agora, o temor das mulheres que acompanham o assunto é de que a saída da equipe possa mudar o comportamento da unidade e que também prejudique as gestantes, principalmente as atendidas pelo plantão, que não terão mais esses profissionais.
– Foi necessária muita luta para chegar a esse nível. Blumenau foi a primeira cidade do país a aprovar a Lei das Doulas (legislação que permite uma acompanhante a mais na hora do parto). E agora, como é que vai ficar? – questiona.
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Confira a seguir a nota divulgada pelo hospital na íntegra:
Com o objetivo de melhorar ainda mais o atendimento humanizado, qualificado e ético aos seus pacientes, mudanças administrativas e técnicas estão sendo realizadas no Hospital Santo Antônio.
Somos uma entidade privada, sem fins lucrativos e mantida pela Fundação Hospitalar de Blumenau, referência em diversas especialidades, entre elas a materno-infantil. Realizamos mais de 300 partos mensais com uma equipe especializada para a realização do parto natural, priorizando sempre a saúde e o bem-estar da mulher e do bebê.
Lembramos também que somos pactuados com a Rede Cegonha, que assegura às mulheres o direito ao planejamento reprodutivo e a atenção humanizada à gravidez, ao parto e ao puerpério, bem como assegurar às crianças o direito ao nascimento seguro e ao crescimento e desenvolvimento saudáveis.