A dificuldade para engravidar é um problema mais comum do que se imagina. Estima-se que pelo menos 15% dos casais sofrem do que especialistas em reprodução humana chamam de infertilidade conjugal, devido a diversos fatores. Mesmo para os casais saudáveis as chances de gerar um bebê por meios naturais são pequenas, em média de 20% ao mês.
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Apesar desse baixo índice, os médicos recomendam esperar pelo menos um ano até consultar um especialista. Acontece que para homens e mulheres que sonham em ter um filho isso pode ser tempo demais, e a investigação do problema – que leva em conta não só os fatores fisiológicos como os emocionais – pode demorar.
Segundo o ginecologista e obstetra José Bento de Souza, dos hospitais Albert Einstein e São Luís, até simples mudanças na alimentação e a redução do estresse elevam a probabilidade de gravidez. Nos casos em que medidas simples como essa não resolvem, ele diz que os modernos recursos em reprodução humana ajudam. Para esclarecer essas questões, Bento acaba de lançar o livro Engravidar. Sim, é possível – Os novos recursos e as técnicas de reprodução assistida (Editora Aláude).
Não dá para desanimar. Até porque, afirma Bento, o “caminho até a gravidez pode ser longo, árduo e exigir empenho, paciência, energia e persistência, investimento, tolerância e compreensão entre os cônjuges”. O primeiro passo parece óbvio, mas nem sempre é visto com atenção: o casal que deseja ter filhos precisa intensificar a frequência de suas relações sexuais no período de ovulação.
Bento comenta que muitos casais, mesmo em seus primeiros anos juntos, mantêm poucas relações sexuais, isto é, menos de três vezes por semana. E não tentam em dias mais propícios à gravidez. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), um casal é classificado como infértil quando não consegue gerar um bebê num prazo de 12 a 18 meses mantendo relações frequentes, claro, sem o uso de métodos anticoncepcionais.
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Segundo o ginecologista, metade dos casais inférteis, procura auxílio médico em busca de técnicas de reprodução assistida, algo que pode exigir grande disponibilidade de recursos financeiros e nem sempre o sucesso é garantindo. Mas por meio desses métodos a taxa de gravidez pode chegar a 55% por tentativa em mulheres de até 35 anos. Antes, porém, é preciso investigar as causas. Entre as mulheres, os principais motivos de dificuldade de engravidar são problemas hormonais que prejudicam a ovulação, síndrome de ovários policísticos, alterações nas trompas, endometriose e mudanças no muco cervical que atrapalham o caminho dos espermatozoides. Os miomas, por exemplo, são outro fator, e a doença afeta de 20% a 30% das mulheres. E a idade também.
– Após os 40 anos a mulher tem mais problemas ginecológicos que afetam a fertilidade e as chances de engravidar passam de 20% para 5% – diz Bento, que estima em dez milhões o número de casais brasileiros com dificuldade para engravidar. – Os homens também perdem parte da capacidade reprodutiva com a idade, mas não importante quanto o sexo feminino.
Nos homens, além da idade, a redução do número de espermatozoides, a pouca mobilidade deles ou alterações que sofrem são os principais motivos. A concentração deve ser acima de 20 milhões de espermatozoides por mililitro de sêmen, e a motilidade superior a 50%, e pelo 75% devem estar vivos. Em em ambos os sexos é fundamental afastar outras possíveis causas, como câncer e diabetes, alerta o médico.
Esses são apenas os aspectos que dizem respeito ao organismo. Mas o comportamento do casal também influencia, e muito. A falta de sintonia e a ideia de marcar hora e dia para transar com o objetivo de engravidar atrapalham.
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– Isso acaba com a espontaneidade, o sexo deixa de ser prazer e começa a ser encarado como obrigação – diz.
O médico explica que os dias mais férteis de um ciclo de 28 a 30 dias estão entre o décimo-segundo e o décimo-quinto dias (o primeiro dia do ciclo é o primeiro dia da menstruação). Pesquisa apresentada pela Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva revelou que a chance de o espermatozoide fertilizar o óvulo aumenta nos dias anteriores à ovulação, especialmente no décimo-quarto. O mesmo trabalho indicou que mulheres que fazem sexo diariamente ou a cada dois dias no período que antecede a menstruação aumentam sua probabilidade de ser mãe.
E se o casal praticar exercícios e cuidar da alimentação maiores a possibilidade de sucesso. Consumir mais grãos integrais, óleos vegetais, frutas, verduras e legumes, peixes e laticínios, sem gordura, ajuda bastante. Por exemplo, a endometriose pode estar associada à doença na tireoide, e iodo é essencial para esta glândula. Essas mulheres deveriam começar a consumir mais antioxidantes, frutas cítricas, vitaminas do grupo B, A e E. Já o ácido fólico (encontrado em cereais, lentilhas, espinafre e trigo) estimula a fertilidade em ambos os sexos, diz Bento. O melhor mesmo é consultar o ginecologista, que pode, se for caso, encaminhar a um nutricionista.