O isolamento social colocou uma luz sobre questões sérias e importantes: a desigualdade, as dificuldades e o preconceito enfrentados pelas minorias da nossa sociedade. As notícias que surgem a todo momento sobre situações de injustiça e violência colocaram em pauta os movimentos sociais, que, mesmo em tempos de distanciamento, se fazem presentes e cada vez mais fortes. Será o início de uma mudança significativa no comportamento do ser humano em sociedade?

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Racismo, diversidade, igualdade de gênero: é preciso falar sobre isso

Uma coisa é certa: nós já estamos falando sobre isso, direta ou indiretamente. As redes sociais se tornaram espaços de expressão para quem, antes, não tinha sua voz ouvida. A televisão, o cinema e a publicidade parecem caminhar para um mundo com mais representatividade. Mesmo aqueles que resistem à discussão desses temas já são parte disso.

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— A mudança de comportamento em relação a questões sociais precisa ser matizada. Por um lado, há uma crescente conscientização em relação a problemas da nossa sociedade, como o racismo, o sexismo e a desigualdade econômica. Por outro lado, vemos surgir um grande backlash, um movimento de reação a essa participação e conscientização, que, instigado por grupos conservadores, tenta naturalizar novamente comportamentos racistas, machistas, xenófobos e etnocêntricos. Essa é uma das grandes questões do nosso presente e já afeta a educação e o mercado de trabalho de maneira evidente — afirma a professora e pesquisadora do curso de Cinema e Audiovisual e do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Linguagem da Unisul, Ramayana Lira.

Ela acredita que a formação crítica dos profissionais é de extrema importância, pois são eles que oferecerão ao mercado de trabalho novas formas de organização e atuação. No ensino do cinema, por exemplo, já existem iniciativas, projetos de pesquisa e extensão e coletivos com foco em diversidades e acessibilidade.

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— Não é mais possível pensar na formação de realizadoras e realizadores sem que questões como assédio em sets de filmagem, políticas de casting, acesso e manuseio de equipamentos sejam enfrentadas por docentes e discentes. Sem abrir mão da excelência técnica, a formação de pessoas que vão construir narrativas, sons e imagens de grande alcance social não pode ser conduzida como se a universidade fosse um espaço separado do mundo que a cerca. As fronteiras das instituições de ensino superior têm que ser mais permeáveis e admitir uma troca mais intensa com a sociedade. As demandas, os saberes e os modos de vida de grupos que antes eram, ou hoje ainda são, excluídos dos contextos formais de educação aos poucos transformam o que ensinamos e como ensinamos — explica Ramayana.

O papel da educação e dos novos profissionais na mudança do comportamento

O estudo da História teve a sua importância destacada nos últimos meses. Está cada vez mais claro que, para entender e solucionar os problemas da sociedade atual, é preciso olhar para o passado.

— É importante que a História seja livremente estudada, com critérios acadêmicos rigorosos, de modo frio e isento, sem paixões, evoluindo, pois é dinâmica. A contemporaneidade, com a ajuda do conhecimento das várias correntes historiográficas, proporciona ao historiador uma nova forma de ver o mundo por meio dos acontecimentos que variam de uma cultura para outra. O historiador torna-se um guardião dos conhecimentos acumulados pelas gerações que nos precederam, de maneira a assegurar de forma eficiente que estes conhecimentos sejam devidamente transmitidos para as gerações futuras — afirma a Coordenadora do curso de História da Unisul Virtual, Rosa Beatriz Pinheiro.

Mas como atrair estudantes para o estudo das questões sociais, principalmente em meio a uma crise econômica? A professora do curso de Cinema e Audiovisual da Unisul, Ramayana Lima, acredita que a resposta está em um pensamento da teórica feminista negra Bell Hooks: “é preciso haver prazer na sala de aula”.

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— Temos que alimentar o entusiasmo de alunas e alunos, por meio do interesse que eles têm uns pelos outros, pela capacidade de ouvirem uns aos outros, perceberem as presenças dos outros. O ensino tradicional foca a atenção no professor. Ora, isso é uma redução violenta do entusiasmo, que encontra apenas um canal para sua sustentação. É preciso que a presença e as vozes de todos sejam reconhecidas. Quando recebemos alunas e alunos que já entendem como são construídas desigualdades e que buscam equalizar injustiças e promover a diversidade, se não nos adaptarmos a esse impulso que trazem de reconhecer a existência do outro, de lidar com as diferenças, de querer ouvir outras vozes, fatalmente matamos o entusiasmo — afirma Ramayana.

Essa mudança no comportamento e nos pensamentos dos alunos já vem sendo percebida também em outras áreas do conhecimento, afinal, parece ser urgente que esses temas se tornem universais.

— Temas tão transversais e interdisciplinares como a diversidade, o racismo e o feminismo devem fazer parte constante de nossas discussões, não só nas ciências sociais ou na saúde, mas igualmente nas ciências exatas, engenharias, ciências de tecnologia, política, economia, química, matemática, entre tantas outras áreas que só parecem não estar implicadas com esta temática. A educação será afetada, pois exigirá novos olhares mais atentos e diversos e educadores que saiam de seus espaços de conforto. Da mesma forma, o mercado de trabalho deverá estar apto a receber as demandas sociais diversas e incorporar um indivíduo mais indagador e reflexivo — aponta a Coordenadora do curso de Naturologia da Unisul, Patricia Kozuchovski Daré.

Os efeitos da pandemia na vida social impactaram nossos relacionamentos, quem somos e como vemos o outro. As diferenças e desigualdades vieram à tona, exigindo que todos olhassem para elas através de um novo ponto de vista, com mais respeito e menos preconceito. Mas ainda há muito pela frente, e o caminho a ser percorrido tem muito estudo e trabalho. Como definiu a Coordenadora do curso de História da Unisul, Rosa Beatriz Pinheiro é preciso “seguir fazendo história”.

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