As mudanças climáticas estão avançando cada vez mais rápido e trarão consequências “sem precedentes”, segundo relatório do IPCC, Painel Intergovernamental de Mudança do Clima da ONU. O documento, que quantifica o aumento da frequência e da intensidade dos eventos extremos ligados às mudanças climáticas, foi divulgado nesta segunda-feira (9) e assinado por 234 autores de 65 países.
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Por volta de 2030, dez anos antes do que se estimava, a temperatura do planeta alcançaria o limite de aumento de 1,5ºC em relação à era pré-industrial, com riscos de desastres “sem precedentes” para a humanidade, já sacudida por ondas de calor e inundações.
Variações extremas de temperatura que aconteciam uma vez por década hoje podem ocorrer 2,8 vezes no mesmo período e devem se tornar anuais em um cenário de 4ºC de aquecimento global, em que as mudanças abruptas de temperatura podem ser mais intensas, chegando a 5,1ºC de variação.
Pela primeira vez, o IPCC não descarta a chegada de “pontos de inflexão”, eventos irreversíveis pouco prováveis, mas de impacto dramático, como o degelo da calota de gelo antártica, ou a morte da floresta amazônica.
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Antes de 2050, este limite seria superado, chegando inclusive a um aumento de 2ºC, se as emissões não forem reduzidas drasticamente. Isto representaria o fracasso do Acordo de Paris, que pretendia limitar o aquecimento global a abaixo de 2ºC, ou, se possível, de 1,5ºC.
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A menos de três meses da cúpula do clima COP26 em Glasgow (Reino Unido), os especialistas climáticos das Nações Unidas responsabilizaram o ser humano por estas alterações e advertiram que não há outra opção, além de reduzir drasticamente as emissões de gases de efeito estufa.
Efeitos no Brasil
As projeções regionais do IPCC mostram aumento das chuvas fortes no Centro-Sul do Brasil, com grandes volumes de água concentrados em até cinco dias de chuva, enquanto o Nordeste e a Amazônia devem sofrer com períodos secos mais prolongados.

No cenário extremo de aquecimento global de 4ºC, além das mudanças serem mais drásticas nos quadros de chuvas fortes e secas, o país também deve ver alterações mais marcantes no volume de precipitação anual, que fica mais escasso na região Norte e mais volumoso no Sul e Sudeste.
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Na maior parte do país – região que abrange Norte, Centro-Oeste, Sudeste e parte do Nordeste – há projeções de aumento de secas agrícolas e ecológicas para meados do século, em um cenário de aquecimento global de 2°C. Com a aridez, também se espera o aumento de climas propícios para incêndios, com impactos para os ecossistemas, a saúde humana, a agricultura e a silvicultura.
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Na Amazônia, o número de dias por ano com temperaturas máximas superiores a 35°C aumentaria em mais de 150 dias até o final do século no cenário de aquecimento global superior a 4°C, enquanto se espera que aumente em menos de 60 dias no cenário de aquecimento limitado a 2°C.
Primeiro alerta
O planeta já alcançou um aumento de 1,1ºC e começa a sofrer as consequências: incêndios que arrasam os Estados Unidos, a Grécia e a Turquia, chuvas diluvianas que inundam a Alemanha, ou a China, termômetros beirando os 50ºC no Canadá.
— Se acham que isto é grave, lembrem que o que vemos agora é só a primeira salva — diz Kristina Dahl, da organização União de Cientistas Preocupados (UCS).
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Mesmo limitando o aquecimento a 1,5ºC, ondas de calor, inundações e outros eventos extremos aumentarão de forma “sem precedentes” em sua magnitude, frequência, localização, ou época do ano em que ocorrem, adverte o IPCC.
— Estabilizar o clima demandará uma redução forte, rápida e sustentada das emissões de gases de efeito estufa para alcançar a neutralidade de carbono — insiste Panmao Zhai, copresidente do grupo de especialistas que elaborou a primeira parte desta avaliação do IPCC.
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A segunda, prevista para fevereiro de 2022, mostrará o impacto destas mudanças e como a vida na Terra será transformada irremediavelmente em 30 anos, inclusive menos, segundo uma versão preliminar obtida pela agência de notícias AFP. A terceira parte abordará as soluções possíveis e é aguardada para março. Mas o caminho a seguir é conhecido de sobra: impulsionar a transição para uma economia descarbonizada.
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