As mudanças climáticas acrescentaram, em média, 49 dias de calor perigoso à saúde humana dos brasileiros em 2024, de acordo com um relatório da World Weather Attribution e da Climate Central, divulgado na sexta-feira (27). As regiões mais atingidas do Brasil foram Norte e Centro-Oeste. Em todo o mundo, a média foi de mais 41 dias de calor extremo no ano, conforme os pesquisadores.
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O cálculo considerou dias em que a temperatura ultrapassou o percentil 90 das temperaturas observadas no período entre 1991 e 2020 — níveis de calor considerados perigosos por estarem associados ao aumento dos riscos à saúde e à mortalidade. Os dias 21 e 22 de julho quebraram, em sequência, o recorde de dia mais quente da série histórica, conforme o relatório.
“Os últimos 12 meses proporcionaram uma série sem precedentes de ondas de calor e inundações, incêndios florestais e secas, sublinhando o perigo realidade de viver num mundo 1,3°C mais quente do que quando começamos a queimar combustíveis fósseis”, declara a pesquisadora Friederike Otto, líder da WWA e professora de ciência climática no Imperial College de Londres, que assina o relatório.
Mapa mostra regiões afetadas por calor extremo

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Enchentes no RS e queimadas no Pantanal
No Brasil, os impactos das mudanças climáticas incluem as enchentes no Rio Grande do Sul, a seca na Amazônia e as queimadas no Pantanal, segundo os pesquisadores. No caso do estado vizinho, as fortes chuvas podem ser explicadas pela combinação do aquecimento da atmosfera e dos oceanos.
Uma atmosfera mais quente pode reter mais vapor de água, o que resulta em chuvas mais intensas. Com um aumento de 1,3°C na temperatura global, a atmosfera pode reter cerca de 9% mais umidade, conforme os pesquisadores.
Além disso, quando a água do oceano fica mais quente, a taxa de evaporação aumenta, adicionando mais vapor de água à atmosfera. Esse vapor adicional pode então condensar e cair como chuva, muitas vezes em quantidades maiores e mais intensas.
“Deficiências no alerta precoce e planos de evacuação provavelmente contribuíram para um enorme número de mortes, enquanto as inundações no Sudão e no Brasil destacaram a importância de
manutenção e modernização das defesas contra inundações”, pontua o relatório.
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Mudanças climáticas tornaram enchentes no RS duas vezes mais prováveis, diz estudo
Os pesquisadores também apontam que, embora o fenômeno climático El Niño (que contribui para secas e temperaturas mais altas em várias regiões) tenha influenciado eventos climáticos extremos, o aquecimento global teve um impacto muito maior. Na Amazônia, os principal impacto é a seca.
“A seca na Amazônia é classificada como uma ‘seca excepcional’ no clima atual. Mas em um mundo mais frio, sem as mudanças climáticas causadas pelo homem, a seca teria sido muito menos intensa e classificada como uma ‘seca moderada”, pontua o relatório.
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Os incêndios florestais também proliferaram em várias áreas do planeta. De acordo com o levantamento, o Pantanal enfrentou a segunda pior temporada de incêndio em duas décadas, com mais de 3,5 milhões de hectares queimados. Segundo os cientistas da WWA, as mudanças climáticas tornaram as condições severas de clima de fogo no início da temporada no bioma de 4 a 5 vezes mais prováveis.
“A região está em uma seca que já dura anos, com níveis de rios em mínimas históricas e precipitação abaixo da média climatológica. Isso permitiu que os incêndios começassem em junho, muito antes do início usual da temporada de fogo”, dizem os pesquisadores.
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