Os smartphones já mal se encaixam em uma só mão – e logo podem nem mais caber no bolso. Não só pelo preço, que tende a aumentar a cada lançamento: é que o tamanho também vem crescendo ano a ano. Se um dia o objetivo era fazer dos aparelhos os menores possíveis, distanciando-os dos primeiros tijolões, a tendência agora corre para o lado contrário. Os celulares mais recentes são grandes, como os do século passado.
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Isso porque usá-los não se resume mais a fazer ligações e enviar mensagens de texto. Os telefones assumiram as funções dos computadores portáteis, das câmeras digitais, dos relógios. Pensando bem, um dispositivo que é a mistura de tantos outros até parece pequeno.
Reunir tantas funções, claro, tem um custo – que não se reflete somente em produtos mais caros. Se em 2003 o telefone mais vendido do ano saía por algumas centenas de reais, uma década depois é preciso desembolsar até 10 vezes mais por um aparelho de última geração. E ainda que o avanço da tecnologia permita contar com hardware (baterias, chips, processadores) mais compactos, ninguém quer comprar um smartphone menos potente. Então, a qualidade melhora, a utilidade cresce e o tamanho segue o baile.
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Telas facilitam a interação
Para o professor do curso de Comunicação Digital da Unisinos Hélio Sassen Paz, o aumento das telas é uma necessidade que parte de duas perspectivas: a primeira, meramente técnica, é a importância de interfaces maiores para englobar aquilo que se entende que hoje um telefone precisa fazer. A segunda é ligada ao comportamento: o usuário quer mais e mais espaço para interagir com a máquina que o conecta a tudo.
– Com menor espaço de utilização, uma tela muito pequena acarreta uma série de perdas. Já a tela maior permite que as pessoas conversem mais, passem mais tempo conectadas e, ao mesmo tempo, está ligada a uma série de atividades de trabalho e lazer em que se tem muito a ganhar com mais possibilidades de interação – afirma o professor.
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Essa é uma tendência que começou há algum tempo, mas agora ganha força. Até meados de 2011, as telas não passavam de 4 polegadas (cerca de 10cm). No final daquele ano, os smartphones maiores começaram a ganhar espaço com o lançamento do Galaxy Note, da Samsung, e seus quase 15 centímetros de altura.
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Então considerado grande demais, o aparelho míngua perto do mais novo lançamento da Apple – o iPhone 6 Plus -, com tela de 5,5 polegadas (14cm), que começou a ser vendido no Brasil este mês.
Após analisar mais de 7 mil modelos para entender as recentes mudanças na indústria de dispositivos móveis, o espanhol Alex Barredo chegou à conclusão de que o ponto de inflexão está na difusão da tecnologia 3G e no acesso facilitado à internet aonde quer que se vá:
– Quando os smartphones passaram a ser usados para reproduzir arquivos multimídia e navegar pela web, as telas começaram a ficar cada vez maiores.
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No limite da portabilidade
O aumento das telas não é apenas uma imposição das fabricantes para incluir tudo o que os usuários querem: é também uma forma de adaptar os produtos à mudança na relação das pessoas com seus celulares. Para muitos, o aparelho é hoje a principal forma de acesso à internet, e está ligado o tempo inteiro, todos os dias.
E comportamento tem tudo a ver com tecnologia. Se o consumidor procura algo que esteja sempre à mão e permita interagir com os amigos, tirar fotos, gravar vídeos, ler textos e até ver filmes, então telas maiores significam experiências melhores – e é isso que se vai buscar. Conforme Samantha Carvalho, professora do MBA em Marketing Digital na ESPM-Sul e diretora de uma empresa de desenvolvimento de aplicativos, esse aumento está muito ligado à migração dos computadores para os smartphones.
– Se antes fazíamos pouquíssimas coisas, hoje quase não há limites para as possibilidades de uso do celular. Nossa relação é extremamente orgânica, não ficamos a menos de um metro do telefone. E tudo o que se cria nos smartphones tem mais a ver com comportamento do consumidor do que com tecnologia – avalia Samantha.
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Quem analisa esse mercado entende que há um limite para o crescimento dos aparelhos. Hélio Sassen Paz, professor de Comunicação Digital, explica que os aparelhos só podem aumentar até o limite da portabilidade: dificilmente se verá pessoas levando tablets aos ouvidos, ou carregando telefones do tamanho de notebooks. Para ele, as 5,5 polegadas do iPhone 6 Plus estão no limite do aceitável. Mais que isso acaba dificultando muito o manuseio – e fica complicado de carregar por aí.
O analista Alex Barredo também entende que estamos nos aproximando do limite. Apesar de as telas terem crescido bastante desde o lançamento do primeiro telefone da Apple – que manteve a tela de 3,5 polegadas nos seus telefones entre 2007 e 2012 – ele entende que a expectativa agora é de estabilidade entre as 4,5 e 5,5 polegadas (de 11 a 14 cm). Isso, garante, se as exigências dos consumidores não mudarem.