O ano que se despede nos próximos dias sai de cena mais bem cotado do que os antecessores. Por um lado, 2018 pode ter parecido turbulento para a economia, com marcos como a greve dos caminhoneiros, que causou prejuízo estimado em R$ 15,9 bilhões pelo Ministério da Fazenda, em maio, e as eleições presidenciais, em outubro.
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Foram episódios que mexeram com os ânimos do mercado e com o câmbio. Em contrapartida, também houve continuidade para o esperado processo de retomada da economia, que pouco a pouco deixa mais distante no retrovisor a crise que ganhou força em 2015 e fez os últimos anos ficarem para trás sem deixar muita saudade.
A manutenção dessa retomada se confirma em alguns números. Um deles é o de geração de novas vagas de trabalho. Em Blumenau, os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) divulgados nesta semana mostram uma alta de 26,7% na criação de postos de trabalho. De janeiro até novembro deste ano, o saldo entre vagas abertas e fechadas foi de 4,4 mil, contra 3,5 mil nos mesmos meses do ano passado.
O economista e professor da Furb Nazareno Schmoeller avalia que a recuperação poderia ter sido maior. Na geração de empregos, o desempenho deste ano foi de acordo com as expectativas, mesmo com alguns baques como o da greve dos caminhoneiros. Segundo ele, para 2019 a previsão é de que essa retomada continue, na esteira de um grande fator: a mudança no governo federal.
No primeiro semestre, o sentimento de confiança pode ajudar a economia a continuar o processo de retomada, avalia o professor. A partir do segundo semestre, no entanto, isso já começa a depender da condução do novo governo. Schmoeller considera que a Reforma da Previdência está entre os itens fundamentais para manter a recuperação econômica.
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– O primeiro aspecto importante é avançar nas parceria público-privadas, porque se o governo não retomar o investimento, o setor privado também não vai. O segundo ponto é saber que tipos de privatização o governo vai fazer. A Caixa, por exemplo, é um contrassenso. Se você precisa dar uma resposta à sociedade, os bancos públicos são instrumentos fundamentais. Perder esse controle seria complicado. Mas dar mais agilidade, sem protecionismo, pode sim permitir que o mercado avance – analisa Schmoeller, que defende uma concepção de mercado que se relacione com o Estado.
Atenção ao câmbio e à inflação
O ano de 2019 começará também com mais estabilidade no câmbio. Ao longo de 2018, com incertezas como o período eleitoral, a cotação do dólar, que começou no patamar de R$ 3,27, chegou a
R$ 4,20 nas semanas que antecederam a eleição. Como a nova política de preços dos combustíveis está vinculada ao dólar e ao mercado internacional, essa oscilação trouxe reflexos diretos na precificação da gasolina e dos alimentos transportados por meio rodoviário – ao menos até a decisão do governo de subsidiar o diesel como resposta a paralisação dos caminhoneiros em maio.
Superada a rivalidade das urnas, o dólar baixou de patamar e, apesar de variações recentes por causa do mercado americano, no fim desta semana fechou cotado em R$ 3,84.
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– A variação do câmbio é péssima para o mercado. É preciso ser mais enérgico para responder à desestabilização de outros mercados. Temos que criar mecanismos para flutuar dentro do previsto em economia e serviços, e não pela especulação do mercado financeiro. Manter o câmbio flutuando, mas dentro de uma determinada banda. Se (o novo governo) conseguir manter o câmbio estável, tudo bem, mas se essa grande oscilação continuar, vai ser preciso mudar a política de preços (de combustíveis), não pode deixar chegar à situação que ocorreu neste ano – pontua o economista.
A inflação, que até hoje é vista como um fantasma na economia brasileira devido ao trauma do fim dos anos 1980 e início dos 1990, pode ser, quem diria, um termômetro de aceleração da economia.
Schmoeller explica que, apesar do otimismo para o próximo ano, o patamar ainda baixo de inflação pode indicar que os mercados estejam com uma espécie de freio de mão puxado. Uma alta no índice de variação de preços – dentro das metas do governo federal, claro, nada como a hiperinflação do passado – pode indicar que há uma pressão maior de consumo, de clientes em busca de compras e, portanto, apontar um crescimento mais rápido.