A alteração na dinâmica de atendimento da farmácia escola da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em Florianópolis, tem provocado revolta em quem depende da entrega mensal dos medicamentos fornecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

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Servidores do único ponto de distribuição de remédios na capital catarinense cancelaram os agendamentos prévios e, desde dezembro, têm entregue senhas diárias – das 8h às 14h, exceto às quartas-feiras – para receberem a população até às 17h. Pacientes reclamam das filas geradas e, principalmente, de não terem sido previamente avisados da mudança com restrição de horários.

A aposentada Glória Martins, 61, leva todo mês em uma caixa de isopor o remédio Somatropina para o neto de 13 anos, que sofre de hipotireoidismo. Na última quarta-feira, 6, ela esperou atendimento por quatro horas. Não conseguiu. Retornou nesta quinta-feira e aguardava sentada, junto de pelo menos outras 40 pessoas, com a senha em mãos.

– Não me falaram que estava em falta, fiquei esperando à toa. Aí me mandaram voltar hoje para pegar só a metade da dose. Essa é a primeira vez em sete meses que falta – diz, acreditando que a alteração no modus operandi tenha dificultado a manutenção dos estoques da farmácia escola. Outros nove medicamentos estavam em falta quando a reportagem visitou o espaço.

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Odete Garcia Mafra, 66, esperava sua vez em pé há quatro horas, sem almoço e com lágrimas nos olhos. O desespero foi ainda maior quando funcionários anunciaram que as últimas 40 senhas distribuídas não seriam atendidas.

– Estou aqui de teimosia. E porque preciso. Parece que estamos implorando por algo que é de nosso direito – lamentou a senhora do norte da Ilha que tem o rim transplantado.

A maioria dos pacientes carregava o papel entregue em dezembro e que orientava a vinda entre os dias 4 e 8 de janeiro, sem horário marcado. Denise Dutra, 60, estava inconformada com a desinformação.

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– Em nenhum momento nos avisaram que as senhas seriam entregues só até às 14h. Nunca foi assim.

Dependente de medicação para tratamento de Alzheimer há quatro anos, seu Luiz Alberto da Silva, 57, tenta adivinhar o motivo da mudança. Segundo o aposentado, o agendamento foi cortado em novembro.

– Tinha muita gente que tinha horário e não aparecia. Mas o atendimento sempre foi bom. Todos eram muito bem atendidos.

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Medicamentos em falta nesta quinta-feira. Foto: Betina Humeres/Agência RBS

Desentendimento entre Prefeitura e UFSC

A farmácia escola, que fica ao lado do Hospital Universitário, na Trindade, é mantida pela Secretaria de Saúde de Florianópolis e pelo próprio curso de Farmácia da UFSC, visto que também é um espaço pedagógico. Os dois responsáveis pelo chamado Componente Especializado da Assistência Farmacêutica confirmam que desde dezembro as senhas começaram a ser distribuídas. Mas não se entendem no momento de justificar a mudança.

Para o secretário da Saúde, Daniel Moutinho Junior, a posição da prefeitura é a de aumentar o número de pacientes atendido.

– Em novembro, a direção da unidade, que é o curso de Farmácia, encaminhou ofício dizendo da mudança. Desde então fizemos duas reuniões e faremos a terceira na semana que vem, com a reitoria, para discutir a questão. Porque há um conflito ideológico: o curso quer o Ensino e a prefeitura o atendimento à população. A organização da agenda é diferente da necessidade – explica.

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Mas conforme a coordenadora pedagógica da farmácia escola, professora Rosana dos Santos, esse ofício não existe.

A UFSC é contrária à distribuição de senhas e quer manter o agendamento. As três farmacêuticas e os 17 alunos estão mantendo, na medida do possível, as agendas – garante a docente.

O formato do atendimento volta a ser discutido entre prefeitura e UFSC na próxima segunda-feira.

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